
Ao celebrarmos o 523º aniversário do descobrimento do Brasil por Pedro Alvares Cabral, numa época revisionista como a que vivemos atualmente em que tudo é incerto e o passado é sempre rechaçado, recordei-me, com saudades, dos meus tempos como aluno nos colégios Ablas Filho e Escolástica Rosa, onde, semanalmente, hasteávamos a bandeira e, com orgulho, cantávamos o Hino Nacional Brasileiro. Embora houvesse desafios no País, havia a crença de que dias melhores viriam e que o Brasil era, de fato, uma terra abençoada.
Recordo-me de ouvir, certa vez, no pátio do colégio Ablas Filho, uma professora recitar um de meus versos favoritos de Olavo Bilac, dizendo: “Criança, não verás país nenhum como este. Imita na grandeza a terra em que nasceste.” Infelizmente, os anos passaram e muito daquele orgulho que sentíamos foi-se apagando. À medida que mais ganhávamos em democracia, mais o País perdia seu culto a um passado que poderia ter problemas – como todos os países do mundo – mas também oferecia grandes heróis e uma história a ser contada.
De repente, os heróis nacionais sumiram das notas de dinheiro. Ao invés de termos estampados aqueles que ajudaram – dentro de suas possibilidades – na construção da nacionalidade, vimos heróis serem apagados e substituídos por animais. As telenovelas, ao invés de contarem o sacrifício de milhares de pessoas que construíram a história do Brasil, tinham maior preocupação com a alcova do que com a enormidade da vida daqueles que lutaram por construir, no Novo Mundo, um país que fosse um símbolo de paz, num mundo caótico e belicoso. O Brasil parou de ensinar sobre a dedicação do Duque de Caxias na Guerra do Paraguai; o sucesso de Carlos Gomes, o único compositor do Novo Mundo que foi aceito e reconhecido pelos europeus, na Época Dourada das Óperas. O País já não fala mais da riqueza literária de Machado de Assis. E nem da devoção de Dom Pedro II, deixado sozinho pelo pai aos cinco anos de idade, para assumir o trono de um país que lhe foi tão ingrato depois. O mesmo Dom Pedro II que, no leito da morte, só tinha um desejo em seu coração: “Paz e prosperidade para o Brasil”. Jamais me esqueci de minha querida professora, Eurídice, na primeira série contando a história de que, enquanto preparavam o corpo de Dom Pedro para enterrar, encontraram um pacote lacrado no quarto, com uma mensagem escrita pelo próprio Dom Pedro II: “É terra de meu país; desejo que seja posta no meu caixão, se eu morrer fora de minha pátria.”
Por que perdemos esse amor por nossa nacionalidade? Quando foi que começamos a achar que os outros países são melhores que o Brasil? Quando começamos a achar que a história dos outros é mais bonita que a nossa? Afinal, como deixamos de ser um dos maiores impérios do mundo e aceitamos o complexo de vira-latas que nos persegue?
Infelizmente, muitos contribuíram para isto. Em algum lugar, começamos a ensinar – equivocadamente – que o Brasil tinha sido uma terra de ladrões e degredados e que nosso passado era vergonhoso. Passamos a enfatizar só o negativo. E com isto, transformamo-nos naquilo que passamos a acreditar que éramos: um país de terceira classe.
Embora não observemos ninguém, no cenário atual, que tenha a capacidade de ser um estadista para levantar a moral nacional, espero que cada brasileiro sinta orgulho de um passado que já foi glorioso, e tenha esperança de paz e prosperidade num futuro próximo. Sou brasileiro e tenho muito orgulho disto.