
Na 53a. edição do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, muito do que se discutiu a respeito das inúmeras crises globais que enfrentamos e que requerem múltiplas respostas para impedir que um caos ainda maior se abata sobre a humanidade.
Este cenário de policrise inclui: (i) o aumento crescente do custo de vida; (ii) os desastres naturais e extremos do tempo; (iii) confrontos geoeconômicos; (iv) falha na mitigação da mudança climática; (v) erosão da coesão social e polarização da sociedade; (vi) incidentes ambientais em larga escala; (vii) falha na adaptação das mudanças climáticas; (viii) crimes cibernéticos e insegurança cibernética; (ix) crises nos recursos naturais, e (x) migração involuntária em larga escala.
A lista é vasta e preocupante. Não pelos assuntos que cobrem – que constituem, de fato, enorme aflição – mas por uma preocupação ainda maior que é a ausência de líderes globais com capacidade para administrar expectativas e os desafios impostos por estas realidades. O mundo enfrenta uma escassez de governantes com visão de longo prazo, comprometidos com a resolução efetiva dos problemas e a melhoria na qualidade.
O tique-taque eleitoral representa o maior desafio ao surgimento de líderes efetivos, além dos desafios impostos pelas mídias sociais que, ao mesmo tempo que criam bolhas de interesse, também rapidamente levam ao cancelamento de um indivíduo por algum comentário, postura ou erro de posicionamento.
A falta de perspectiva do surgimento de novas lideranças nos curto e médio prazos aumenta a preocupação com a evolução destas múltiplas crises. Afinal, o impacto de cada uma delas é daninha e perigosa, particularmente num mundo fragmentado pela polarização política que, ao invés de construir consensos, incrementa, cada vez mais o divisionismo social, impedindo que soluções efetivas para a construção de melhores realidades, de fato, venham a ocorrer.
Dentre os dez itens elencados, não há dúvida de que duas preocupações são, particularmente, relevantes pelo impacto que apresentam imediatamente. O aumento crescente do custo de vida é fundamental. A inflação é um tributo que impacta, principalmente, os mais desfavorecidos pela impossibilidade de se protegerem das intempéries econômicas.
Além disso, o aumento do custo de vida impacta outros aspectos da qualidade de vida de um indivíduo – da saúde à alimentação ao bem-estar familiar, não há dúvida de que o empobrecimento coletivo é uma sentença imposta pela inflação à sociedade, o que lhe impede de avançar em desenvolvimento e crescimento.
Outro aspecto relevante, certamente, é a questão dos confrontos geoeconômicos. Esta situação é preocupante porque, à medida que vemos o processo de ascensão da China como nova potência mundial, a guerra de narrativas imposta pelos Estados Unidos e outros países do Ocidente, que veem na mudança do eixo econômico mundial do Atlântico para o Pacífico uma tragédia que lhes será difícil superar, com a deterioração de sua posição. Esta instabilidade geoeconômica pode levar a conflitos regionais que podem assumir uma natureza global, como observado na Guerra na Ucrânia.
O mundo enfrenta enormes desafios. Terão as democracias capacidade de encontrar novas lideranças capazes de enfrentá-los? Como debater tais assuntos sem rancores ou distorções ideológicas?