
Após 45 companhias passarem pelo processo de oferta pública inicial, ou IPO, e abrirem seus capitais para a bolsa de valores em 2021, o cenário foi mais escasso este ano e não houve nenhuma novata no mercado neste ano. Será a primeira vez desde 1998 que isso acontece. A esperança estava por conta da Urca Real Estate, que iria emitir BDRs (Brazilian Depositary Receipts), mas suspendeu por falta de demanda.
Em um cenário de alta volatilidade no mercado de ações, com elevada inflação e, consequentemente, elevação dos juros pelos bancos centrais, os investidores apresentaram menor apetite ao risco. Um exemplo disso foram as decisões de empresas como Madero, Vix Logística, CSN Cimentos e Cencosud, que adiaram a abertura de capital.
A última oferta mais recente de novos ativos foram os BDRs do Nubank, que passaram pela estreia em dezembro de 2021, mas já iniciou seu processo de deslistagem na B3 em setembro. As companhias Raízen (RAIZ4) e Oncoclínicas (ONCO3) foram as últimas companhias locais que fizeram IPOs, em agosto do ano passado.
“Não me surpreende. A cautela nas alocações ainda é muito grande. No próprio mercado americano as novas ofertas são mais difíceis de emplacar”, disse um diretor de um banco de investimentos, em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo, destacando que o cenário para 2023 ainda será desafiador.
Perspectivas de IPOs para 2023
Mesmo com o cenário adverso, os IPOs devem voltar a ocorrer em 2023 e movimentar entre R$ 60 bilhões e R$ 70 bilhões, segundo estimativas de bancos de investimentos. “Vemos uma demanda reprimida tanto por parte dos investidores quanto dos emissores”, diz Roderick Greenlees, diretor do Itaú BBA, para o Valor Econômico.
A visão de demanda reprimida é compartilhada por Alexandre Pierantoni, head de finanças corporativas e M&A do BNamericas.
“Podemos ter uma nova mudança no patamar de transações em 2023, porque há dinheiro para investir no Brasil. Há ventos favoráveis no Brasil, embora as incertezas no mundo continuem altas”, disse Pierantoni. “Vejo que há apetite para operações de IPO. Há entre 20 e 30 IPOs já sendo planejados para o ano que vem. IPOs são positivos, pois geram um círculo virtuoso para M&A”.
Algumas das empresas que suspenderam seus IPOs este ano têm a intenção de realizar em 2023, como é o caso do Madero. “O Grupo Madero está pronto e continua considerando prosseguir com um eventual IPO em 2023, porém, lembra que possui uma estrutura de capital adequada para aguardar com tranquilidade uma janela para a realização de IPO que atenda a expectativa de precificação da Companhia e de seus acionistas, no médio ou longo prazo”, disse a companhia.