
O mundo – e o Brasil em particular – enfrenta um desafio grave de falta de liderança: do futebol à política, da academia ao setor empresarial. Na área política, nota-se uma ausência ainda maior de grandes lideranças para enfrentar os desafios da agenda mundial. Observamos ainda, que, diante de desafios, a grande maioria dos líderes atuais tendem a acovardar-se, apequenar-se e a se preocupar com questões de menor importância.
O Apóstolo cristão, Paulo, em sua epístola ao povo que vivia em Corinto afirmou: “Porque, se a trombeta der sonido incerto, quem se preparará para a batalha?” A mensagem é clara. A função fundamental da liderança – religiosa, política, militar e empresarial – é dar o sonido certo para que a população possa preparar-se, de maneira efetiva, para poder reagir aos desafios impostos pela dura realidade da vida.
A batalha da sobrevivência levou a humanidade a viver do Saara até o Alasca, a adaptar-se, encontrar novas formas de convivência social, a ajustar-se ao meio ambiente, muitas vezes, modificando-o e, apesar das fatalidades acumuladas ao longo da História, alcançar realizações impressionantes, mesmo que em meio a alguns retrocessos. Ao longo da história, surgiram homens e mulheres que, apesar de seus defeitos – como todos têm – conseguiram alçar voos mais altos, terem uma visão da planície e liderarem nas batalhas incessantes da saga humana. A muitos destes líderes atribuímos um título peculiar: herói, um indivíduo que se distingue por seus feitos. E há muito tempo que não os produzimos.
O desafio é que a falta de lideranças competentes no direcionamento dos negócios de um País leva a uma queda coletiva na qualidade do desenvolvimento, reduz as possibilidades futuras e impacta, negativamente, a meritocracia e a necessária inspiração que líderes capacitados oferecem à sociedade no geral. Ademais, bons líderes provêm o exemplo necessário para vislumbrarmos melhores dias. Não se trata de uma ilusão coletiva, forjada por uma mensagem enganosa ou sedutora, mas sim a perspectiva de que o melhor ainda está por vir e que, para que isto ocorra, talvez sejam necessários “sangue, sofrimento, lágrimas e suor, como bem disse Churchill à população britânica num de seus momentos mais desafiadores.
O Brasil carece de boas e efetivas lideranças nos mais variados setores. Há muita briga política, ênfase no ganho individual e temporário e pouquíssimo compromisso com uma visão, plano e estratégia de longo prazo. Aqueles que deveriam assumir responsabilidade por seus atos, tentam transferir ou terceirizá-las: as “lideranças” não assumem responsabilidade por seus erros, culpam as circunstâncias ou outras instâncias. Tal irresponsabilidade leva ao caos, uma sensação de insegurança, frustração e ansiedade coletiva.
Por muito tempo, o Brasil tem enfrentado, dramaticamente, as consequências relacionadas à ausência de lideranças eficazes, levando o País a alçar somente voos de galinha, numa perda constante e lamentável de oportunidades e possibilidades.
A culpa não é exclusiva dos governantes. Os governados também possuem parcela importante da responsabilidade ao valorizarem mais a forma do que o conteúdo, a ideologia que o pragmatismo, as minorias que as maiorias, e o curto que o longo prazo, sem a prevalência do bem comum. O resultado é que, de fato, a trombeta vem dando sonido incerto há muito tempo e temos perdido inúmeras batalhas. E o Brasil se encontra mais perdido do que nunca para atingir a sua plena capacidade e potencial.