Mais de um século depois do naufrágio, o Titanic ainda levanta uma dúvida que não quer calar: como um navio gigantesco, cercado de imprensa, relatos e registros, levou tanto tempo para ser encontrado? A história por trás da busca mistura falhas de localização, limitações da tecnologia, projetos improváveis, disputas militares e descobertas científicas que mudaram para sempre a forma de explorar o mar.
Por que encontrar o Titanic foi tão difícil?
Na noite em que bateu no iceberg, em abril de 1912, o Titanic conseguiu chamar ajuda pelo sistema de rádio, enviando coordenadas aproximadas de onde estaria no Atlântico Norte. O navio, porém, continuou se movendo após o impacto, derivando por mais de duas horas até afundar definitivamente, o que afastou o casco do ponto inicialmente informado.
A região onde o transatlântico desapareceu é extremamente profunda, chegando a cerca de 4 mil metros, algo inalcançável para a tecnologia do início do século XX. As correntes marinhas espalharam destroços em diagonal, ampliando a área de busca e transformando o fundo do oceano em um “quebra-cabeça”, que navios como o Carpathia jamais poderiam localizar com os recursos disponíveis.
Quais foram as ideias mais inusitadas para resgatar o Titanic?
Com o passar dos anos, o Titanic virou um ímã para projetos mirabolantes de resgate. Surgiram propostas de usar enormes ímãs em submarinos para puxar o casco de aço, encher o navio com balões ou até com milhões de bolinhas de pingue-pongue, apostando na flutuação para trazê-lo de volta à superfície.
A pressão a 4 mil metros destruiria facilmente balões, esferas ocas e outros materiais frágeis, sem falar no porte do transatlântico, com quase 300 metros de comprimento. Ainda assim, apareceram ideias como injetar nitrogênio líquido, bombear vaselina ou usar explosivos para “sacudir” o fundo do oceano, mas todas esbarravam em limitações técnicas, éticas e financeiras.
No vídeo do canal Ciência Todo Dia, apresentado pelo Pedro Loos, que conta com mais de 803 mil visualizações, você confere como a expedição liderada por Robert Ballard localizou finalmente o lendário Titanic no fundo do Atlântico, quase 73 anos após seu naufrágio, com explicações sobre a tecnologia usada, a estratégia de seguir a trilha de destroços e as primeiras imagens enviadas:
Como a Guerra Fria influenciou a busca pelo Titanic?
Ao longo do século XX, a curiosidade sobre o naufrágio do Titanic dividiu espaço com prioridades militares. Durante as guerras mundiais e, depois, a Guerra Fria, a maioria do investimento em tecnologia submarina foi destinada a submarinos, armas, espionagem e monitoramento, deixando projetos voltados apenas ao Titanic em segundo plano.
Foi só no fim dos anos 1970 e início dos anos 1980 que a caçada ganhou fôlego, com expedições privadas como as do empresário Jack Grimm. Ele usou sonares para mapear áreas do Atlântico Norte, acumulando dados importantes, embora sua fama também viesse de um mascote, um macaco chamado Titan, supostamente “intuitivo” ao apontar mapas, o que incomodava pesquisadores.
Quem encontrou o Titanic e qual foi a estratégia usada?
A descoberta definitiva veio com o oceanógrafo e oficial da Marinha dos EUA, Robert Ballard, do Instituto Woods Hole. Ele ajudou a desenvolver o veículo não tripulado ARGO, capaz de operar em grandes profundidades com sonar e câmeras, e firmou um acordo com a Marinha norte-americana para, antes de tudo, investigar dois submarinos nucleares afundados: o Thresher e o Scorpion.
Após mapear as áreas desses submarinos, Ballard pôde usar o tempo restante para procurar o Titanic, localizado entre essas regiões. Em vez de buscar o casco inteiro, ele decidiu seguir uma trilha de destroços, observando como fragmentos e objetos se espalhavam no fundo do mar até levar à estrutura principal, o que se mostrou decisivo para o sucesso da missão. E no fim tudo que ele usou foi:
- Uso de veículos não tripulados equipados com sonar e câmeras em tempo real.
- Mapeamento prévio de áreas militares para obter financiamento e acesso.
- Estratégia de seguir a “trilha” de destroços até o casco principal.
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O que as imagens revelaram e por que o Titanic importa?
Na madrugada de 1º de setembro de 1985, o ARGO transmitiu a imagem de uma grande caldeira metálica no fundo escuro, reconhecida por Ballard como parte do Titanic. As imagens revelaram que o navio se partiu em dois grandes blocos, com a proa relativamente preservada e a popa esmagada e retorcida, cercada por um vasto campo de destroços.
Foram vistos pares de sapatos lado a lado, brinquedos, louças e objetos pessoais, além de sinais da ação de microrganismos como a bactéria Halomonas titanicae, que acelera a corrosão. Mesmo em decomposição, o Titanic continua influente na cultura, em pesquisas científicas e em debates, reforçados pela implosão do submersível Titan em 2023 e pelo papel de museus e exposições.