Às vésperas de um novo ciclo eleitoral, o Brasil chega a 2026 diante de uma escolha estrutural: avançar na agenda da produtividade ou seguir administrando o atraso. Para o secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, Jorge Lima, a produtividade se tornou a verdadeira linha divisória da economia global, separando países que crescem de forma sustentada daqueles que permanecem presos a ciclos curtos, baixa previsibilidade e decisões fragmentadas.
“O mundo não discute mais intenção ou ideologia. Discute execução”, afirmou o secretário em entrevista à BM&C News.
Segundo ele, o Brasil conhece há décadas seus gargalos, mas segue operando sem um plano de Estado capaz de atravessar governos e ciclos eleitorais. O resultado é um desempenho econômico persistentemente fraco em comparação a outros emergentes.
Produtividade do Brasil em comparação com outros países
Os números evidenciam essa diferença. Enquanto Índia, China e Indonésia cresceram entre 50% e 80% na última década, o Brasil avançou cerca de 8%. Para Lima, o contraste não se explica por falta de recursos naturais, mercado consumidor ou potencial produtivo, mas pela incapacidade de sustentar estratégias de médio e longo prazo.
“Aqui, a cada quatro anos, tudo muda. Projetos são interrompidos, prioridades são redesenhadas e o país recomeça do zero”, disse.
Essa ausência de um plano nacional é, na avaliação do secretário, um dos principais entraves que precisam ser enfrentados no debate de 2026. Países que conseguiram acelerar o crescimento mantiveram diretrizes econômicas estáveis por décadas, independentemente de mudanças políticas.
“Nenhum país se desenvolveu trocando de estratégia a cada eleição”, afirmou.
São Paulo como um contraponto
Nesse cenário, São Paulo surge como um contraponto institucional. O Estado tem adotado uma lógica de gestão baseada em metas, controle de custos e previsibilidade regulatória, o que, segundo Lima, explica a maior capacidade de atrair investimentos.
“Quando execução substitui discurso, o capital responde. Não por simpatia política, mas por racionalidade econômica”, disse.
A infraestrutura ocupa papel central nessa estratégia. O governo paulista aposta fortemente em parcerias público-privadas (PPPs) para ampliar investimentos sem pressionar o orçamento público. O volume de projetos em andamento e estruturação soma cerca de R$ 350 bilhões, com foco em logística, mobilidade e energia. Para Lima, não há crescimento sustentável sem infraestrutura, mas o Brasil ainda trata o tema sob uma lógica de curto prazo.
“Obras estruturantes levam tempo e, muitas vezes, não geram retorno eleitoral imediato. Isso paralisa decisões no plano federal”, avaliou.
Janela de oportunidade?
Apesar das fragilidades internas, o secretário avalia que o Brasil vive uma janela rara de oportunidade no cenário global. A reorganização das cadeias produtivas, o avanço do nearshoring e a busca por energia limpa colocam o país em posição estratégica.
“Geopoliticamente, o Brasil está bem posicionado, tem mercado, recursos naturais e uma matriz energética competitiva. O problema não é falta de oportunidade”, afirmou.
O risco, segundo ele, é chegar a 2026 sem uma agenda clara de produtividade e competitividade.
“Sem projeto, o país perde tempo discutindo o curto prazo enquanto outros avançam”, disse.
Para Lima, destravar o crescimento exige tratar produtividade como eixo central das decisões públicas, integrando planejamento de longo prazo, infraestrutura, segurança jurídica e capacidade de execução.
“Produtividade não é uma pauta ideológica. É a diferença entre crescer ou continuar ficando para trás.”













