O Banco Central reforçou nesta quinta-feira (18), no Relatório de Política Monetária (RPM), que a política monetária seguirá em patamar significativamente contracionista por um período prolongado, em meio a um cenário de expectativas de inflação ainda desancoradas, incertezas fiscais e resiliência da atividade econômica.
Segundo o documento, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa Selic em 15% ao ano é considerada compatível com a estratégia de convergência da inflação para a meta de 3% ao longo do horizonte relevante de política monetária.
Inflação recua, mas segue acima da meta, aponta Relatório de Política Monetária
O BC reconhece que a inflação corrente apresentou melhora desde o relatório anterior. O IPCA acumulado em 12 meses recuou de 5,13% em agosto para 4,46% em novembro, com surpresas desinflacionárias concentradas em alimentação no domicílio, bens industriais e, em menor magnitude, serviços.
Apesar disso, a autoridade monetária destaca que a inflação permanece acima da meta e que as expectativas seguem desancoradas em todos os horizontes monitorados pelo boletim Focus, fator que exige cautela adicional na condução da política monetária.
Projeções indicam convergência lenta
No cenário de referência do Banco Central, que considera a trajetória da Selic conforme a pesquisa Focus e o câmbio pela Paridade do Poder de Compra, a inflação segue em trajetória de queda, mas só converge plenamente à meta no final do horizonte projetado.
As projeções indicam:
4,4% no final de 2025
3,5% em 2026
3,2% no segundo trimestre de 2027, considerado o horizonte relevante de política monetária
Segundo o BC, mesmo com a revisão para baixo das projeções em relação ao relatório anterior, o ritmo de convergência ainda exige uma postura monetária restritiva.
Atividade desacelera, mas mercado de trabalho segue resiliente
No cenário doméstico, o Banco Central avalia que a economia brasileira entrou em uma fase de moderação do crescimento. O PIB avançou 0,1% no terceiro trimestre de 2025, com desaceleração mais evidente pelo lado da demanda, especialmente no consumo das famílias.
Ainda assim, o mercado de trabalho permanece aquecido, com desemprego baixo e rendimento real em alta, embora já haja sinais de arrefecimento da ocupação. Para o BC, essa combinação contribui para manter pressões inflacionárias persistentes.
Cenário externo segue incerto, aponta RPM
O RPM também destaca um ambiente internacional marcado por elevada incerteza, influenciado principalmente pela política econômica dos Estados Unidos, tensões geopolíticas e aumento do endividamento público em diversas economias.
O processo de desinflação global segue incompleto, especialmente nos EUA, onde a convergência da inflação à meta foi postergada para 2028. Esse contexto limita o espaço para flexibilização monetária nos países emergentes.
Fiscal e expectativas no radar do Copom
O Banco Central reforça que os desdobramentos da política fiscal doméstica seguem sendo um fator central para a condução da política monetária e para a precificação dos ativos financeiros.
“O cenário atual, marcado por elevada incerteza, exige cautela”, afirma o Copom no relatório.
A leitura central do Relatório de Política Monetária é de que não há espaço para discussão de cortes de juros no curto prazo. O BC sinaliza que a política monetária seguirá restritiva enquanto persistirem expectativas desancoradas, riscos fiscais e pressões no mercado de trabalho.












