A reduflação (também chamada de shrinkflation) virou uma das práticas mais controversas do mercado. Ela ocorre quando empresas reduzem a quantidade ou a qualidade de um produto, mas mantêm o mesmo preço, criando a ilusão de estabilidade num cenário em que os custos estão subindo. Na prática, é uma forma de repassar inflação ao consumidor sem que isso apareça de modo transparente.
Por que acontece a reduflação?
Em períodos de pressão inflacionária como vivemos há décadas no país, os custos de produção sobem com a matéria-prima, energia, logística e mão de obra e principalmente a covarde elevação tributária atual, para não elevar o preço final (e não chocar o consumidor na gôndola), muitas empresas optam por diminuir o conteúdo da embalagem ou alterar a fórmula, usando ingredientes mais baratos. Assim, o produto “continua igual” no preço, mas entrega menos valor.
A reduflação se espalhou tanto que virou uma forma de “camuflar” a inflação. Em vez de o preço subir oficialmente, ele sobe de maneira indireta. Isso beneficia momentaneamente o fabricante, que preserva suas margens, mas prejudica toda a dinâmica econômica no longo prazo.
O impacto para o consumidor
O maior prejudicado é sempre o consumidor. Como as embalagens continuam visualmente parecidas, muitos só percebem a redução quando o produto já está em casa. E mesmo que percebam na hora da compra, geralmente não têm outra opção: tudo diminuiu ao mesmo tempo.
Exemplos didáticos:

Um pacote de macarrão, um achocolatado ou qualquer outro produto, que antes tinha 1000g passa a ter 750g ou 800g, ou um de 400g passa para 300g (atualmente sendo muito usado em biscoitos e caixas de bombom), mas o preço na prateleira continua idêntico.

Um pacote de leite em pó, troca ingredientes nobres por misturas mais simples, entregando um sabor igual e às vezes até inferior, ou outro produto alimentício perde da sua composição umas duas unidades internas, porém o valor permanece o mesmo ao consumidor.
Também está acontecendo em outros segmentos de produtos como automotivos, apetrechos domésticos, bricolagem, construção, entre outros, onde sua qualidade cai e o preço às vezes até sobe com alguma jogada de marketing.
Em todos os casos, o consumidor na verdade paga mais por menos, mesmo que o preço impresso não tenha mudado.
O impacto para as empresas
No curto prazo, a reduflação preserva lucro e evita reajustes agressivos. Mas no médio e longo prazo, ela corrói confiança. Porém, quando o cliente percebe que está sendo enganado, passa a buscar substitutos, reduz consumo ou migra para marcas mais transparentes.
Empresas que usam reduflação repetidamente criam um dano de imagem difícil de recuperar. Em vez de estratégia de sobrevivência, muitas vezes se transforma em um tiro no pé.
O impacto nos dados do governo
Para as estatísticas oficiais, a reduflação pode parecer um desafio, mas pode ser até vantajoso. Como o preço nominal não muda, o índice de inflação (IPCA) fica artificialmente “melhorado”. Há também situações em que o órgão estatístico, que precisa de histórico de comparação, com alguma mudança de um produto analisado, estrategicamente recomeça a estatística do zero, e isso acaba sendo uma forma indireta de manipular a percepção pública:
“A inflação está controlada”, diz um político com pequeno sorriso no rosto, quando, na realidade, sabe que o consumidor já está pagando MAIS POR MENOS.
Isso é especialmente grave porque distorce políticas econômicas, previsões e decisões de juros. A prática alimenta uma espécie de má fé pública e desonestidade intelectual onde aparência substitui transparência. Em vez de mascarar a inflação, algumas empresas e governo deveriam apostar na transparência, a única forma de manter relações econômicas sustentáveis e honestas.
Na nossa vida diariamente…
É uma forma de inflação silenciosa, que age sem alarde, mas corrói o orçamento das famílias e esconde o verdadeiro impacto da alta de preços. Cria um ambiente onde o consumidor perde poder de escolha, a qualidade média dos produtos cai, a confiança entre empresas e público é quebrada e, por consequência, os indicadores econômicos deixam de refletir a realidade.
A reduflação virou um mecanismo comum, mas só não é prejudicial e antiética quando usada com clareza, se utilizando de estudo prévio e técnico para a necessidade de alguma mudança nos produtos. O consumidor tem direito à informação, e para o mercado se manter saudável e reconquistar a confiança.
*As opiniões transmitidas pelo colunista são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, a opinião da BM&C News.













