A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada pelo Banco Central nesta terça-feira (16), reforçou a decisão de manter a taxa básica de juros em 15,00% ao ano e reiterou que a estratégia de manutenção dos juros em nível elevado por período bastante prolongado é considerada adequada para assegurar a convergência da inflação à meta.
Segundo o documento, o cenário econômico segue marcado por elevada incerteza, tanto no ambiente externo quanto no doméstico, o que exige cautela na condução da política monetária.
Ata do Copom destaca ambiente externo e atividade econômica
A ata destaca que o ambiente externo permanece incerto, em função da conjuntura e da política econômica dos Estados Unidos, com reflexos nas condições financeiras globais e em um contexto ainda marcado por tensões geopolíticas. Apesar disso, o Comitê avaliou que o cenário internacional está menos incerto do que esteve há alguns meses, com o fim do government shutdown nos EUA e avanços em negociações comerciais. Nesse ambiente, os preços das principais commodities permaneceram contidos e as condições financeiras se mantiveram favoráveis.
No cenário doméstico, o Copom observou que os indicadores econômicos seguem apresentando trajetória de moderação no crescimento da atividade, conforme esperado, como indicado pela última divulgação do Produto Interno Bruto (PIB). O documento também aponta que houve redução no crescimento do consumo das famílias, que vinha em ritmo forte em função dos ganhos reais de renda.
O mercado de trabalho permanece em patamar apertado, com taxa de desemprego em níveis historicamente baixos. No entanto, a ata registra redução da população ocupada e da taxa de participação, além de sinais incipientes de desaquecimento, que seguem sendo acompanhados pelo Comitê.
Inflação e expectativas
De acordo com a ata, as divulgações mais recentes indicam algum arrefecimento da inflação cheia e das medidas subjacentes, embora ambas permaneçam acima da meta. As expectativas de inflação apuradas pela pesquisa Focus seguem acima do objetivo estabelecido pelo Banco Central, situando-se em 4,4% para 2025 e 4,2% para 2026.
O documento ressalta que, apesar da trajetória de declínio, as expectativas de inflação permanecem desancoradas em todos os horizontes, o que exige uma política monetária mais restritiva e por mais tempo do que seria apropriado em outros contextos.
Projeções e premissas
No cenário de referência descrito na ata, a trajetória da taxa de juros é extraída da pesquisa Focus, enquanto a taxa de câmbio parte de R$ 5,35 por dólar, evoluindo segundo a paridade do poder de compra. O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses, passando a crescer 2% ao ano posteriormente. O Comitê também adota a hipótese de bandeira tarifária amarela em dezembro de 2025 e 2026.
Nesse cenário, as projeções para a inflação acumulada em quatro trimestres são de 4,4% em 2025 e 3,5% em 2026. Para o horizonte relevante de política monetária, o segundo trimestre de 2027, a projeção de inflação é de 3,2%.
Balanço de riscos e política fiscal
A ata do Copom avalia que o balanço de riscos para a inflação segue mais elevado do que o usual, tanto para riscos de alta quanto de baixa. Entre os riscos de alta, o Comitê destacou a possibilidade de desancoragem prolongada das expectativas de inflação, maior resiliência da inflação de serviços e impactos inflacionários decorrentes de políticas econômicas internas e externas, inclusive por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada.
Entre os riscos de baixa, foram mencionados uma desaceleração da atividade econômica doméstica mais acentuada, uma desaceleração global mais pronunciada e uma eventual redução nos preços das commodities.
O documento também ressalta que a política fiscal tem impacto relevante tanto no curto prazo, por meio do estímulo à demanda agregada, quanto de forma estrutural, ao afetar a percepção sobre a sustentabilidade da dívida pública e o prêmio a termo da curva de juros. O Comitê reforçou a necessidade de políticas fiscal e monetária previsíveis, críveis e anticíclicas, destacando a importância de uma atuação harmoniosa entre ambas.
Condução da política monetária
Segundo a ata, o Copom avalia que a condução cautelosa da política monetária tem contribuído para os ganhos desinflacionários observados e reafirma o compromisso com o mandato de levar a inflação à meta. Diante das condições observadas e prospectivas, o Comitê entende que o cenário prescreve uma política monetária significativamente contracionista por período bastante prolongado.
O documento afirma ainda que o Comitê seguirá vigilante e não hesitará em ajustar a política monetária, inclusive retomando o ciclo de alta da taxa de juros, caso julgue apropriado.
O que dizem os economistas sobre a ata do Copom
Na avaliação de Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, a ata do Copom reforça a expectativa de manutenção da taxa Selic na reunião de janeiro, sem sinalizações na direção de uma flexibilização iminente da política monetária.
Segundo ele, apesar de o documento trazer ajustes relevantes na comunicação ao longo do ano, nenhuma dessas mudanças aponta para um reconhecimento explícito de ganhos suficientes no combate à inflação que justificariam cortes no curto prazo.
“Pelo contrário, o Copom reforça que o mercado de trabalho ainda apresenta força e deixa claro que está em um processo de manutenção, e não de corte de juros”, afirma.
Para Cruz, o Comitê ainda dispõe de tempo para reavaliar o cenário, o que mantém março como o momento mais provável para o início de um ciclo de cortes, que poderia ganhar ritmo ao longo do ano e levar a Selic para cerca de 11% ao final de 2026, conforme o cenário-base da casa.
Para Leonardo Costa, economista do ASA, a ata vem com um tom mais hawkish, embora mais confiante.
“O Copom reconhece melhora do cenário, mas insiste em juros elevados por período prolongado, reforça riscos inflacionários e mantém a opção explícita de voltar a subir juros“, destaca.













