A decisão do ex-presidente Jair Bolsonaro de lançar o senador Flávio Bolsonaro como pré-candidato ao Planalto em 2026 provocou forte reação no mercado financeiro. Na última sexta-feira, a Bolsa recuou, os juros futuros subiram e o câmbio registrou pressão imediata, movimento que, segundo o economista VanDyck Silveira, entrevistado na BM&C News, foi uma “overreaction”.
Silveira avalia que o episódio expôs novamente a falta de coordenação dentro da direita, aumentando a percepção de risco político entre investidores.
“O mercado não precifica ideologia, ele precifica governabilidade”, afirmou.
“Reação exagerada, porque a situação já é ruim”, sobre reação do mercado a candidatura de Flávio Bolsonaro
De acordo com o economista, o estresse do mercado ocorreu menos pela figura de Flávio Bolsonaro e mais pelo impacto que sua indicação provoca no tabuleiro eleitoral.
“O que aconteceu na sexta-feira foi uma ação extremamente infundada, porque a situação já é muito ruim e não vai ficar muito pior. Ela vai continuar do jeito que está e a gente sabe o desfecho”, disse.
A preocupação, segundo ele, é que o mercado ainda via Tarcísio de Freitas como o único nome competitivo capaz de unir a direita liberal e conservadora em um enfrentamento direto contra o presidente Lula. A decisão de Bolsonaro teria alterado essa expectativa.
“O que houve foi uma maneira enviesada que Bolsonaro encontrou de manter o seu nome no ticket, ungindo o seu filho Flávio Bolsonaro, que é completamente despreparado para ser presidente da República”, afirmou Silveira.
Candidatura de Flávio Bolsonaro e a tese da “chantagem política”
Silveira também classificou o movimento como uma tentativa de pressão envolvendo a pauta da anistia. Para ele, a estratégia busca criar tração política para beneficiar o ex-presidente.
“É uma chantagem, uma extorsão política para que exista a possibilidade de ser pautada a questão da anistia, que possivelmente daria algum tipo de benefício ao Bolsonaro”, avaliou.
Ele pondera, no entanto, que a chance de sucesso é mínima.
“A chantagem não vai dar certo porque existe o Supremo Tribunal Federal. Qualquer tentativa de anistia tem zero chance de passar.”
Flávio Bolsonaro teria “chance zero” de vencer Lula
O especialista é categórico ao analisar o cenário eleitoral caso Flávio enfrente Lula em 2026.
“A chance de Flávio Bolsonaro é zero. Não existe como ser eleito presidente da República”, afirmou.
Silveira também destacou a rejeição de Flávio e sua falta de expansão eleitoral como fatores que consolidam a vantagem de Lula.
Direita desorganizada amplia vantagem de Lula
Para VanDyck, o maior problema para a direita hoje não é a candidatura de Flávio em si, mas a incapacidade de articular uma estratégia unificada.
Segundo ele, a demora em consolidar Tarcísio como candidato competitivo abriu espaço para que Lula mantenha hegemonia no cenário eleitoral.
“Cada dia que passa existe uma sedimentação da campanha do Lula sem ela ter começado.”
Silveira considera que havia apenas um caminho para a direita: unificar todas as correntes em torno de Tarcísio desde o início. A fragmentação atual, porém, teria comprometido essa possibilidade.
Fiscal segue como ponto central para o mercado
Apesar da turbulência eleitoral, Silveira reforça que o mercado continua atento ao tema fiscal.
“O fiscal é péssimo. Ele não vai piorar muito, ele já piorou ao ponto de não haver retorno”, disse.
Segundo ele, o Congresso demonstrou conivência ao aprovar mudanças na meta fiscal, o que representa maior fonte de preocupação para investidores do que a disputa interna da direita
Para VanDyck Silveira, a crise atual não decorre apenas de uma candidatura inesperada, mas da ausência de coordenação estratégica da direita e da piora fiscal estrutural. O cenário, segundo ele, fortalece a posição de Lula e reduz o espaço para alternativas competitivas em 2026.













