O mercado financeiro revisou para cima a projeção de crescimento da economia brasileira em 2025, ao mesmo tempo em que manteve a inflação em trajetória de queda. Os novos números constam no Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira (8) pelo Banco Central, com base nas expectativas coletadas junto a economistas e instituições financeiras.
A estimativa para o PIB de 2025 subiu de 2,16% para 2,25%, sinalizando um cenário mais favorável para a atividade econômica. Para 2026, a mediana também foi ligeiramente ajustada de 1,78% para 1,80%, enquanto as projeções para 2027 e 2028 foram mantidas em níveis estáveis.
Do lado da inflação, o relatório mostrou continuidade do processo desinflacionário. A expectativa para o IPCA de 2025 recuou de 4,43% para 4,40%, enquanto para 2026 caiu de 4,17% para 4,16%. As projeções para 2027 e 2028 permanecem ancoradas em 3,80% e 3,50%, respectivamente, reforçando a percepção de estabilidade no horizonte de médio prazo.
Análise do Focus
Para o economista Maykon Douglas, o PIB do terceiro trimestre, divulgado na última semana, veio um pouco abaixo do esperado pelos analistas. No entanto, houve uma revisão altista da série histórica recente da agricultura, setor que puxou a atividade no início do ano. Portanto, na avaliação de Douglas, o agregado do ano é maior do que na série anterior, daí a revisão no Focus.
“Apesar da nítida desaceleração da economia brasileira a partir do segundo semestre, ela tem ocorrido conforme o esperado pelo BC. Além disso, a atividade (e principalmente o mercado de trabalho) segue mostrando resiliência: enquanto o PIB subiu apenas 0,1%, a demanda doméstica avançou 0,4% em relação ao trimestre anterior”, afirma o economista.
O especialista destaca ainda que a autoridade monetária tem mantido o discurso firme e dependente dos dados, como visto nas últimas falas do presidente Galípolo.
“Não surpreende, portanto, que a projeção para a Selic em 2026 tenha voltado a subir.”
Focus: câmbio e juros estáveis, apesar de pressões fiscais
As projeções para o câmbio seguem inalteradas nos principais horizontes: R$ 5,40 para 2025, R$ 5,50 para 2026, 2027 e 2028.
A taxa Selic, por sua vez, não apresentou mudanças relevantes. Para 2025, o Focus manteve a estimativa de 15% ao ano, enquanto para 2026 houve leve ajuste de 12,00% para 12,25%. Para os anos seguintes, as expectativas seguem em 10,50% (2027) e 9,50% (2028).
Os números fiscais continuam sendo observados de perto pelo mercado. A projeção para a dívida líquida do setor público em 2025 subiu de 65,83% para 65,95% do PIB, e para 2026, de 70,20% para 70,27%. Já o resultado nominal apresentou melhora marginal para este ano, passando de -8,46% para -8,40%.
Setor externo tem revisões mistas pelo Focus
O relatório desta semana trouxe um ajuste relevante na projeção de déficit em conta corrente, estimado agora em US$ 73,20 bilhões em 2025, acima dos US$ 72,60 bilhões previstos anteriormente. Para 2026 e 2027, o déficit também aumentou, chegando a US$ 67 bilhões e US$ 65 bilhões, respectivamente.
Em contrapartida, as expectativas para o Investimento Direto no País (IDP) melhoraram: a entrada de recursos estrangeiros em 2025 passou de US$ 73 bilhões para US$ 75 bilhões, mesma tendência observada nos anos seguintes.
A balança comercial, porém, foi revisada ligeiramente para baixo em 2025, indo de 62,85 bilhões para 62,10 bilhões de dólares, apesar de avanços projetados para 2026.
Administrados sobem e pressionam projeções
As expectativas para preços administrados, itens como energia e combustíveis, voltaram a subir para 2025, passando de 5,18% para 5,25%, um movimento que tende a exigir atenção da política monetária. Para 2026 e 2027, no entanto, houve leve alívio, com projeções de 3,76% e 3,60%.
O IGP-M de 2025 também recuou, passando de -0,57% para -0,61%, enquanto os anos seguintes se mantiveram estáveis.
Veja o que mudou:
| Indicador | 2025 | 2026 | 2027 | 2028 |
|---|---|---|---|---|
| IPCA (%) | 4,40 ↓ | 4,16 ↓ | 3,80 — | 3,50 — |
| PIB (%) | 2,25 ↑ | 1,80 ↑ | 1,84 ↑ | 2,00 — |
| Câmbio (R$/US$) | 5,40 — | 5,50 — | 5,50 — | 5,50 — |
| Selic (% a.a.) | 15,00 — | 12,25 ↑ | 10,50 — | 9,50 ↓ |
| IGP-M (%) | -0,61 ↓ | 4,00 — | 4,00 — | 3,85 — |
| Administrados (%) | 5,25 ↑ | 3,76 ↓ | 3,60 ↓ | 3,50 — |
| Conta Corrente (US$ bi) | -73,20 ↓ | -67,00 ↓ | -65,00 ↓ | -63,43 ↑ |
| Balança Comercial (US$ bi) | 62,10 ↓ | 66,00 ↑ | 70,10 ↓ | 70,00 ↓ |
| IDP – Investimento Direto (US$ bi) | 75,00 ↑ | 72,15 ↑ | 75,00 ↑ | 75,00 — |
| Dívida Líquida (% do PIB) | 65,95 ↑ | 70,27 ↑ | 73,80 — | 76,00 — |
| Resultado Primário (% do PIB) | -0,50 — | -0,60 — | -0,38 ↑ | -0,13 — |
| Resultado Nominal (% do PIB) | -8,40 ↑ | -8,68 ↑ | -7,80 ↓ | -7,00 — |













