O início do ciclo de queda dos juros segue como uma das principais dúvidas do mercado brasileiro. Para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, a decisão do Banco Central passa diretamente pela leitura do comportamento da inflação, com destaque para um fator que permanece no centro das preocupações da autoridade monetária: o setor de serviços.
Em entrevista à BM&C News, Agostini explicou que, apesar da economia dar sinais de desaceleração, o comportamento dos serviços continua sendo um obstáculo para um corte mais imediato da Selic.
Serviços continuam sendo desafio para o BC cortar juros
Agostini lembrou que o setor de serviços representa dois terços do PIB, o que torna seu peso determinante na dinâmica da inflação. Ainda que algumas atividades respondam mais diretamente aos sinais da política monetária, como bens duráveis, sensíveis à taxa de juros, a maior parte das despesas em serviços é movida por renda e consumo à vista, e não por crédito.
O economista destacou que o mercado de trabalho brasileiro segue “muito forte e resiliente”, o que sustenta a inflação de serviços ao redor de 6%, mesmo com a desaceleração da economia. “Serviços têm quase uma imunidade à política monetária”, explicou.
Para que esse componente da inflação ceda, seria necessário um enfraquecimento mais intenso do mercado de trabalho, com aumento do desemprego, efeito que o Banco Central tenta evitar ao calibrar o ritmo de cortes de juros.
Janeiro ou março? O debate sobre o início do ciclo de corte de juros
A grande discussão, segundo Agostini, é quando o Banco Central fará o primeiro movimento de redução da Selic. Ele aponta dois cenários possíveis:
▸ Corte em janeiro — movimento de 0,25 ponto percentual
Esse cenário exigiria que o BC prepare o terreno em dezembro, sinalizando claramente a intenção de iniciar já no começo do ano. Seria um corte mais cauteloso, calibrado para não surpreender o mercado.
▸ Corte em março — movimento de 0,50 ponto percentual (cenário-base da Austin Rating)
Na avaliação do economista, março oferece um conjunto de dados mais robusto e “condições mais consistentes e de segurança” para o início do ciclo. O BC já teria o desempenho completo do primeiro trimestre e uma leitura mais clara da atividade, inflação e mercado de trabalho.
Se começar em março, Agostini acredita que o corte inicial seja de meio ponto, evitando manter os juros altos por mais tempo do que o necessário.
Ritmo dependerá do fiscal e do ano eleitoral
Mesmo com sinais de desaceleração, Agostini lembra que o Banco Central não pode ignorar o componente fiscal, especialmente em um ano eleitoral, em que pressões por expansão de gastos aumentam.
“Um ponto de preocupação continua sendo a questão fiscal”, afirmou o economista, destacando que a incerteza fiscal tende a afetar a curva de juros e, por consequência, o ritmo do ciclo de redução.
O BC não pode errar na dose
Agostini alertou que um atraso excessivo nos cortes seguido por um movimento mais brusco, como uma queda de 1 ponto percentual, poderia soar como um reconhecimento de erro por parte do Banco Central. Segundo ele, a autoridade monetária vai buscar gradualidade.
O ritmo final terá impacto direto na curva de juros de mercado, que já começou a se ajustar na expectativa de cortes. “Seja 0,25 ou 0,50 em março, isso faz diferença para a curva ao longo do ano”, afirmou.













