O ano de 2025 entrou para a história como um dos mais didáticos para quem investe no Brasil. Em meio a um ambiente marcado por incertezas fiscais persistentes, juros elevados, ruídos políticos e choques externos, o mercado obrigou o investidor a reaprender a interpretar risco, preço e fluxo.
Segundo Marco Saravalle, CIO da MSX Invest, 2025 deixou um recado claro: tentar acertar o “timing” foi, na maior parte do tempo, uma estratégia perdedora.
“Quem tentou entrar e sair do mercado acabou ficando de fora. Foi um ambiente com muitos desafios, juros muito altos e ruído constante”, avalia.
Estar alocado foi mais importante do que prever o mercado
A principal lição do ano, especialmente para quem investe em ações, foi a importância de permanecer alocado com uma carteira bem diversificada. Mesmo em um cenário adverso no plano doméstico, o investidor que manteve exposição à bolsa ao longo do ano acabou sendo beneficiado.
“Todos os investidores que ficaram alocados em ações em 2025 foram beneficiados. Ao longo do tempo, claro, é possível rebalancear a carteira, torná-la mais conservadora ou mais agressiva, mas estar fora custou caro”, afirma Saravalle.
O desempenho positivo da bolsa não foi um fenômeno isolado do Brasil. Mercados da América Latina também apresentaram bons resultados, reforçando o papel do cenário externo como fator determinante.
Liquidez global falou mais alto que o risco local
Mesmo com a percepção de risco fiscal elevada, a bolsa brasileira se beneficiou de um ambiente global mais favorável, marcado pela queda dos juros nas principais economias, especialmente nos Estados Unidos.
Essa liquidez global impulsionou o fluxo para ativos de risco e favoreceu principalmente empresas com fundamentos sólidos.
“O que fez a bolsa subir não foi apenas o Brasil, mas o aumento da liquidez global. As empresas bem posicionadas se beneficiaram diretamente desse movimento”, explica o CIO da MSX.
O investidor brasileiro, segundo ele, entendeu melhor em 2025 que preço de ativo não é determinado apenas por fundamentos, mas também por confiança, percepção de risco e fluxo.
Curva de juros expõe a persistência do risco fiscal
Se por um lado a bolsa subiu, por outro a curva de juros deixou claro que o risco estrutural do Brasil segue elevado. Saravalle destaca que a percepção de risco não diminuiu ao longo do ano, pelo contrário.
“A curva de juros continua, para padrões internacionais, muito alta. A taxa real de juros em títulos de 10 anos segue entre as piores do mundo”, afirma.
Esse patamar elevado reflete a exigência crescente de prêmio por parte dos investidores, sinalizando que o mercado continua desconfiado do cenário fiscal de longo prazo.
Setores que ensinaram mais sobre o ciclo de 2025 no mercado
Entre os setores que mais contribuíram para a alta da bolsa em 2025, o destaque ficou com o setor financeiro, que mostrou resiliência mesmo em um ambiente de juros elevados.
Além dele, a construção civil apresentou desempenho acima da média, ainda que com peso menor no índice. Setores ligados à economia local, como educação, também se destacaram.
Esses movimentos reforçaram a importância de olhar além da narrativa macro e analisar setores e empresas de forma mais granular.
Máxima histórica em meio à incerteza: fluxo versus fundamento
A renovação de máximas históricas do Ibovespa em um ano de incerteza fiscal obrigou o investidor a revisar sua leitura de mercado. Para Saravalle, o ano escancarou a coexistência de dois movimentos distintos.
“Existe um top down Brasil muito desafiador, mas também um top down global com aumento de liquidez. O investidor global segue buscando retorno e acaba assumindo mais risco, o que beneficia mercados como o Brasil, mesmo com incertezas internas”, explica.
A diversificação deixou de ser discurso
Outro aprendizado definitivo de 2025 foi o custo das carteiras excessivamente concentradas. Em um ambiente volátil, portfólios pouco diversificados sofreram mais.
Apesar de ter sido um ano forte para a renda fixa, com retornos elevados, os investidores que souberam diversificar, mesmo com uma alocação marginal em ações, entre 10% e 30%, conseguiram gerar mais retorno ajustado ao risco.
“Essa diversificação com peso em ações gerou alpha relevante nas carteiras”, destaca o gestor.
Ouro ganhou protagonismo no mercado
Na busca por proteção, o ouro se consolidou como um dos principais ativos ao longo do ano e deve seguir em destaque em 2026. Segundo Saravalle, o movimento de aumento de posição em ouro é global e reflete a busca por proteção de longo prazo.
“O mundo continua aumentando sua posição em ouro, e ele segue como uma das melhores alternativas para proteção estrutural das carteiras”, afirma.
A herança de 2025 para 2026
Para o próximo ano, o cenário segue desafiador: risco fiscal elevado, juros sensíveis, ambiente geopolítico tenso e volatilidade persistente. Ainda assim, a leitura de Saravalle é de que o investidor global tende a continuar elevando seu perfil de risco, impulsionado pelo ciclo de afrouxamento monetário nas principais economias.
A grande diferença é que 2025 deixou lições difíceis de ignorar. O investidor que aprendeu com o ano entra em 2026 mais consciente de que estratégia, diversificação e leitura de fluxo importam tanto quanto fundamentos e muito mais do que apostas de curto prazo.












