A inadimplência nos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) registrou leve queda em outubro e permanece em nível considerado administrável, segundo o Índice Multiplike de Devedores (IMD). O indicador, que calcula o percentual de direitos creditórios vencidos em relação ao total das carteiras, chegou a 9,43% no mês, influenciado pela ampliação do número de fundos avaliados e pelo maior peso de operações de curto prazo.
Grande parte do índice, porém, refere-se a atrasos inferiores a 30 dias — parcela que tende a ser recuperada com maior facilidade. Nos vencimentos acima de 61 dias, considerados de menor probabilidade de recuperação, a inadimplência ficou em 5,40%. O estudo analisou 370 FIDCs com patrimônio líquido combinado de R$ 75,1 bilhões, com base em dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Em valores absolutos, o total vencido passou de R$ 7,01 bilhões em setembro para R$ 6,7 bilhões em outubro.
Rentabilidade das cotas seniores supera CDI, Ibovespa e IFIX
O Índice Multiplike de Rentabilidade dos FIDCs (IMRF) aponta desempenho superior ao de diversos benchmarks do mercado. Nos últimos 24 meses, o retorno das cotas seniores acompanhadas pelo indicador foi de 33,55%, superando o CDI (26,17%), o Ibovespa (32,17%), o IFIX (13,88%) e a poupança (15,51%).
O IMRF monitora o desempenho das cotas de menor risco dos 20 maiores FIDCs das categorias fomento mercantil, multicedente e multissacado — juntos responsáveis por R$ 26,3 bilhões em patrimônio, cerca de 34% do mercado. Em outubro, o índice subiu 1,48%, em linha com a resiliência observada no segmento.
Para Peterson Rizzo, gerente de relacionamento com investidores da Multiplike, o controle da inadimplência e a performance recente refletem maior maturidade da indústria. “Os FIDCs se consolidaram como instrumentos de financiamento da economia real. Mesmo em um cenário de juros elevados, as carteiras demonstram consistência e estabilidade de risco”, afirma.
Expansão do setor é acompanhada por profissionalização da governança
O crescimento dos FIDCs também se manifesta na captação. Apenas em 2025, o setor recebeu R$ 64 bilhões em novos recursos, elevando o patrimônio total para R$ 715 bilhões. Segundo Rizzo, o avanço está associado à profissionalização de administradores, gestores e auditores, além de uma regulação mais robusta. A Resolução CVM 175, que ampliou o acesso de investidores de varejo ao produto, é citada como um dos marcos desse processo.
A estrutura dos FIDCs, baseada na segmentação entre cotas seniores, mezanino e subordinadas, segue como um dos pilares da gestão de risco. As cotas são remuneradas por CDI acrescido de spread proporcional ao risco da camada. Em geral, originadores mantêm as cotas subordinadas, absorvendo eventuais perdas — prática conhecida como skin in the game, vista como elemento de alinhamento entre gestores e investidores.
Crédito estruturado ganha espaço em cenário de juros altos
A combinação entre rentabilidade consistente e inadimplência controlada tem ampliado a participação dos FIDCs como alternativa ao crédito bancário tradicional. As estruturas oferecem previsibilidade de fluxo e diversificação setorial, tornando-se opção para empresas que buscam financiamento em um ambiente de juros elevados e liquidez seletiva.
Para Rizzo, a expansão recente consolida o papel dos FIDCs no financiamento da economia real. “As estruturas oferecem crédito mais competitivo às empresas e retornos ajustados ao risco para investidores. O avanço do setor reflete o fortalecimento das práticas de governança e a maior eficiência das operações”, afirma.
Com inadimplência estabilizada e histórico de retorno acima dos principais índices de mercado, o segmento mantém perspectivas positivas, especialmente entre investidores que buscam alternativas de renda fixa com maior proteção e estruturas de risco bem definidas.











