O PIB do terceiro trimestre de 2025 será divulgado nesta quinta-feira (4) e deve confirmar a perda de ritmo da atividade econômica após o desempenho mais robusto do primeiro semestre. As projeções variam entre estabilidade (0,0%), segundo o DPEc do Banco Daycoval, e alta de 0,2%, conforme estimativa de Leonardo Costa, economista do ASA. Na comparação anual, o Daycoval projeta avanço de 1,5%.
As leituras indicam um cenário de moderação disseminada, com impacto direto da política monetária restritiva e da normalização dos efeitos extraordinários do agro observados no início do ano.
Agro deixa de impulsionar o PIB e deve cair até 2% na margem
Após ter sido o grande motor do PIB no primeiro semestre, impulsionado pela safra recorde de soja, o setor agropecuário deve perder tração no terceiro trimestre. As projeções convergem para um cenário de enfraquecimento: o Daycoval estima queda de 2% na margem, resultado do fim dos efeitos excepcionais da colheita; já o ASA avalia que a contribuição do agro deve ser praticamente neutra no período.
Na prática, o setor deixa de puxar a atividade e perde protagonismo no crescimento da economia.
Serviços perdem força com impacto direto no comércio
O setor de serviços, que representa cerca de 70% da economia brasileira, deve mostrar desaceleração mais clara.
- Daycoval: destaca que a perda de ritmo é puxada especialmente pela fraqueza do comércio;
- ASA: reforça que os indicadores antecedentes já mostravam moderação, em linha com um ambiente econômico menos aquecido.
O consumo de bens dependentes de crédito é o foco de maior cautela.
Indústria desacelera com queda na transformação e perda de ímpeto nas extrativas
A indústria deve registrar um trimestre de perda mais clara de dinamismo, com sinais de arrefecimento espalhados entre os principais segmentos. Segundo o ASA, o setor extrativo, que vinha sustentando boa parte do avanço industrial no início do ano, perdeu ímpeto no terceiro trimestre, à medida que o efeito positivo das exportações de commodities perdeu intensidade.
Já o Daycoval projeta um enfraquecimento mais acentuado na indústria de transformação, reflexo direto das condições financeiras ainda apertadas: juros elevados encarecem o crédito, reduzem a reposição de estoques e limitam investimentos, enquanto a demanda doméstica se mostra mais contida no varejo e bens duráveis. No conjunto, a indústria chega ao terceiro trimestre mais sensível ao ambiente macro e distante do ritmo observado no primeiro semestre de 2025.
Pela ótica da demanda: consumo desacelera e investimento recua mais forte
O levantamento do Daycoval aponta que o consumo das famílias deve mostrar moderação, sobretudo em itens sensíveis ao crédito.
Outro destaque é o investimento, que tende a apresentar recuo mais acentuado, em linha com os efeitos de juros elevados.
Do lado externo:
- Importações devem subir, o que contribui negativamente para o PIB.
- Exportações devem melhorar após um primeiro semestre abaixo do esperado.
Faixa de incerteza: PIB pode ficar entre -0,2% e +0,1%
A projeção oficial do Daycoval para o terceiro trimestre oscila entre –0,2% e +0,1%, refletindo riscos relevantes:
Riscos de baixa:
- Consumo das famílias enfraquecido;
- Serviços mostrando perda de força além do previsto nas pesquisas mensais;
Riscos de alta:
- Possíveis efeitos indiretos da safra recorde de milho sobre logística e transportes
Economia entra no “segundo tempo” com moderação mais evidente
Apesar de ainda crescer em termos anuais, o terceiro trimestre marca uma virada em relação ao ritmo observado no início de 2025. Tanto ASA quanto Daycoval convergem em um diagnóstico comum: a economia opera acima do potencial durante o primeiro semestre e agora entra numa fase de ajuste.
A confirmação dessa leitura depende dos dados do IBGE, que serão divulgados nesta quinta-feira (4).













