O Ibovespa teve um pregão marcado por correção nesta segunda-feira, após semanas de forte pressão compradora e renovação de recordes sucessivos. O índice caiu cerca de 0,29%, oscilando entre a região de 158 mil e 159 mil pontos, em um movimento visto como natural após um novembro aquecido. Além disso, o volume financeiro — próximo de R$ 22 bilhões — reforçou a leitura de um dia mais cauteloso.
Enquanto isso, o cenário externo também contribuiu para o ajuste: bolsas internacionais devolveram parte dos ganhos recentes e o mercado monitorou falas de Jerome Powell, além de expectativas sobre inflação nos EUA. Por outro lado, o sinal de possível aperto monetário no Japão reduziu o apetite por risco em mercados emergentes, afetando o fluxo global de capitais.
A fala de Galípolo atrasou o início do ciclo de cortes?
O discurso de Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central, trouxe um tom mais conservador ao reforçar que o início da queda da Selic exige segurança sobre o comportamento da inflação. Nesse sentido, a expectativa de corte em janeiro perdeu força, e o mercado passou a enxergar maior probabilidade de início apenas em março — possivelmente em quedas de 0,50 p.p. ou até 0,75 p.p., dependendo dos dados.
Além disso, mesmo com a postergação, a curva de juros segue indicando Selic ao redor de 12% no fim do próximo ano. Isso mantém o pano de fundo construtivo para ativos de risco, já que o diferencial de juros deve diminuir gradualmente, sem mudanças drásticas nas expectativas estruturais.
Quem anda primeiro: bolsa ou juros longos?
Segundo Everton Dias, da Legado Investimentos, a bolsa saiu na frente durante o rali de 2025, antecipando parte da queda futura dos juros. Por isso, ele acredita que a “próxima pernada” deverá vir do fechamento dos juros longos, abrindo espaço para nova fase de valorização dos ativos. Por outro lado, isso significa que movimentos de correção, como o visto hoje, são esperados e até saudáveis.
Quais setores se destacam nesse cenário mais volátil?
Everton destacou que setores ligados a crédito e consumo tendem a se beneficiar mais de um ambiente de juros cadentes. Enquanto isso, papéis dolarizados e ligados a commodities podem apresentar comportamento mais lateral, especialmente diante da perspectiva de petróleo em patamar moderado.
- Bancos: devem ganhar com menor inadimplência e retomada do crédito.
- Educação: costuma performar bem em cenários de maior estímulo social e eleitoral.
- Estatais: podem destravar valor em eventual agenda mais pró-mercado adiante.
Correção amplia oportunidades ou acende alerta?
Nesse sentido, Dias avaliou que quedas fortes em nomes como Marfrig, CVC e varejistas configuram mais “Black Friday tardia” do que sinal de deterioração. Ele recomenda que investidores montem posições gradualmente, aproveitando o aumento de volatilidade sem comprometer o caixa disponível.
Além disso, o especialista reforçou que a assimetria segue favorável: mesmo no cenário atual, muitos ativos mostram desempenho robusto, e uma eventual guinada eleitoral para um governo mais reformista poderia destravar ainda mais valor — especialmente em estatais e setores cíclicos.
O que o investidor deve priorizar nesta semana?
Por fim, Everton Dias sugere foco em disciplina: manter caixa, evitar compras impulsivas em máximas recentes e priorizar ativos com fundamentos sólidos. A tendência estrutural ainda é de queda gradual da Selic em 2026, o que sustenta uma visão positiva para a bolsa, independentemente do cenário eleitoral — com diferenças apenas nos setores que mais se beneficiam em cada possível rota política.
















