O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, participou nesta segunda-feira (1) de um evento promovido pela XP em São Paulo e reforçou que a condução da política monetária seguirá prudente diante das incertezas no cenário global e doméstico. Em tom descontraído, ele abriu a palestra afirmando ser palmeirense, esclarecendo que sua rouquidão “não teve relação com o jogo de ontem”, e antecipou que não traria novidades em relação às últimas comunicações da autoridade monetária.
Galípolo afirmou que as projeções iniciais sobre os impactos das tarifas impostas pelos Estados Unidos não se concretizaram até o momento. Segundo ele, embora o risco do chamado “tarifaço” tenha se materializado, ainda há dúvidas sobre a intensidade e a duração dos efeitos sobre diferentes economias. “Existem versões que sugerem alguma inércia para alguns países, mas ainda não está claro como isso se propagará”, disse.
Galípolo: PIX bate recorde e câmbio deve continuar flutuando
O presidente do BC destacou que o PIX atingiu recorde de transações na Black Friday, reforçando a robustez do sistema de pagamentos instantâneos.
Sobre câmbio, Galípolo reiterou que a autoridade monetária está “muito contente com a taxa flutuando”, reforçando que a intervenção só ocorre em casos de disfuncionalidade. Ele explicou que, ao avaliar o câmbio, o BC observa três pontos:
- evidências de disfuncionalidade;
- impacto sobre a inflação corrente;
- impacto sobre projeções de inflação.
“Atuar no câmbio é uma linha de defesa, mas não fazemos isso para direcionar preço”, afirmou.
Ele também ressaltou que a valorização do ouro tem contribuído para fortalecer as reservas internacionais do país.
Mercado de trabalho forte dificulta leitura dos dados, segundo Galípolo
Galípolo comentou que a análise do mercado de trabalho está mais complexa, mas reconheceu a resiliência do emprego. “Não tem sido simples fazer análises, mas também é difícil contestar a força atual do mercado de trabalho”, afirmou.
Em um dos trechos mais enfáticos da palestra, o presidente do Banco Central afirmou que a instituição continuará adotando postura conservadora enquanto houver incertezas. “Ainda não estamos onde o nosso mandato manda que a gente esteja”, avaliou.
Ele também reforçou que conviver com juros em doses maiores é algo estrutural, caso seja necessário para cumprir a meta de inflação. “O BC sempre atuará para buscar o mandato; se tiver que dar doses maiores, dará.”
Credibilidade, governança e comunicação
Galípolo disse estar convencido de que o país estaria em situação pior se o BC não tivesse adotado as medidas anteriores de aperto monetário. Ele também destacou que a instituição não tenta “esconder” suas decisões. “Estamos indo a cada 45 dias mesmo. Seguimos com humildade avaliando os dados”, afirmou.
Sobre forward guidance, ele reafirmou que não vê necessidade de criar códigos ou antecipar movimentos. “O termo ‘prolongado’ não zera a cada 45 dias; ele é realmente prolongado.”
Indicações para diretoria do BC
Questionado sobre a nomeação de novos diretores, Galípolo disse que as definições ocorrerão “quando o presidente Lula considerar o momento adequado”. Ele reforçou que o Banco Central opera dentro de uma institucionalidade sólida:
“Seguir a governança permite se preservar da gritaria do entorno; seguimos o gabarito e fazemos o que for preciso.”
A fala de Galípolo reforça a estratégia do Banco Central de manter a política monetária firme no enfrentamento da inflação, ao mesmo tempo em que monitora os efeitos das tarifas globais, a volatilidade cambial e a dinâmica do mercado de trabalho. A mensagem central é de prudência: o BC só avançará no afrouxamento quando estiver seguro de que o cumprimento do mandato está garantido.















