O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta quinta-feira (27), durante participação em evento do Itaú Asset, que a instituição seguirá conduzindo a política monetária com cautela e foco na convergência da inflação para a meta. Segundo ele, o BC “vai colocar os juros no patamar e pelo tempo necessários” para assegurar esse objetivo, mesmo em um ambiente de maior volatilidade.
Galípolo destacou que a economia brasileira continua resiliente, com crescimento da força de trabalho, mas reforçou que parte dos indicadores segue incompatível com o cumprimento da meta de inflação. “A inflação de serviços ainda está incompatível com a meta”, disse. Ele ponderou, porém, que o nível atual de emprego poderia sugerir pressão maior nesses preços, o que não ocorreu.
Galípolo comenta mercado global e tarifas dos EUA
O presidente do BC comentou que há dúvidas sobre a intensidade com que os impactos das tarifas impostas pelos Estados Unidos chegarão à economia global. Segundo ele, ainda há discussão se esse movimento tende a produzir apenas um efeito temporário sobre preços. Galípolo também apontou que os bancos centrais acompanham com atenção o desbalanceamento entre oferta e demanda no mercado global de títulos, que tem influenciado as condições financeiras internacionais.
Ele acrescentou que parte das expectativas de corte de gastos do governo Trump não se materializou. “O que temos é geração de receita com tarifas”, afirmou. A transição no comando do Federal Reserve também está no radar das autoridades monetárias.
Pressões inflacionárias e dinâmica doméstica
Galípolo observou que os riscos inflacionários “emagreceram” nos últimos meses, embora a convergência dos preços ainda ocorra em ritmo mais lento que o desejado. Para ele, o impacto sobre a atividade permanece moderado, reforçando a leitura de que a política monetária está funcionando, mas “de forma lenta”.
No mercado de trabalho, o presidente do BC afirmou que a economia segue mostrando resiliência. Ao comentar a leitura de dados recentes, disse que alguns indicadores têm apresentado “surpresa” e má correlação entre variáveis, o que exige atenção adicional.
Galípolo destaca cautela com dados e comunicação sobre política monetária
Durante o evento, Galípolo repetiu que o Banco Central não deve reagir de maneira impulsiva às oscilações de curto prazo. “O BC não pode se emocionar com dados específicos”, afirmou. Ele reforçou que, no atual ciclo, não há elementos que justifiquem mudança de direção, e que a instituição segue orientada por evidências acumuladas.
Galípolo também voltou a abordar a relação entre política fiscal e as projeções do mercado. Segundo ele, não é simples para o BC incorporar eventos fiscais futuros, o que ajuda a explicar a divergência entre as expectativas da autoridade monetária e dos agentes financeiros. “É difícil colocar dosagem subjetiva sobre algo que ainda pode acontecer”, disse.
O presidente do BC afirmou ainda que anos eleitorais são, naturalmente, mais voláteis, e reiterou que a instituição não faz juízo de valor sobre resultados eleitorais. “Vamos continuar assistindo como as coisas estão se desenrolando”, completou.
Ao final da entrevista, Galípolo ainda fez uma observação em tom descontraído. Após o ex-diretor do Banco Central, Bruno Serra, comentar que não conseguiu “arrancar” nenhuma novidade sobre a política monetária, o presidente do BC respondeu: “Seguimos vigilantes e conservadores”. A frase, dita em clima leve, reforçou o posicionamento cauteloso adotado pela autoridade monetária em meio ao cenário econômico e político atual.














