A ata da reunião do Comitê de Política Monetária dos EUA (FOMC), realizada em 28 e 29 de outubro, mostrou que o Federal Reserve decidiu reduzir a taxa básica em 0,25 ponto percentual, levando a faixa para 3,75% a 4%, e sinalizou que a redução do balanço (QT) será encerrada em 1º de dezembro de 2025. O documento destaca que o sistema financeiro está próximo do nível mínimo de reservas considerado adequado, o que aumenta o risco de volatilidade caso o aperto continue. A ata foi divulgada nesta quarta-feira (19).
Apesar do corte, o Comitê reconhece que a inflação segue acima da meta. O PCE, indicador preferido do Fed, marcou 2,8% em 12 meses até setembro, pressionado por tarifas sobre importados e pela inflação de bens. Alguns dirigentes observaram que, excluindo esses efeitos, a alta de preços estaria mais próxima dos 2%.
Ata destaca mercado de trabalho
No mercado de trabalho, a ata aponta um arrefecimento gradual, com criação de vagas mais lenta e desemprego levemente maior, embora ainda em níveis baixos. A paralisação parcial do governo limitou a obtenção de dados, levando o Fed a depender mais de indicadores privados e relatos de empresas.
O consumo apresentou melhora recente, puxado principalmente por famílias de alta renda, enquanto trabalhadores de renda mais baixa seguem mais sensíveis à inflação acumulada. O setor corporativo mantém forte investimento em tecnologia, especialmente em inteligência artificial, o que pode sustentar ganhos de produtividade.
Taxa de recompra
A ata também aponta sinais de estresse nos mercados monetários: alta nas taxas de recompra, queda no uso da facility de recompra reversa e maior demanda pela linha de recompra permanente. Para o Fed, esses movimentos reforçam que as reservas estão no limite inferior do confortável — e justificam encerrar o QT.
Na votação, houve dois dissensos: um dirigente defendia corte maior (0,50 ponto) e outro preferia manter a taxa inalterada. O FOMC reiterou que a política monetária não segue trajetória predefinida e que novas decisões dependerão dos dados de emprego, inflação e atividade até a reunião de dezembro.
A instituição reafirmou compromisso máximo com emprego e inflação de 2% e reconheceu que os riscos para o mercado de trabalho aumentaram, enquanto a inflação ainda exige atenção.
O que dizem os especialistas sobre a ata
A economista Andressa Durão, do ASA, avaliou que a ata reforça um ambiente de maior cautela dentro do Fed, sobretudo porque “os riscos de enfraquecimento adicional do mercado de trabalho aparecem com mais destaque do que qualquer preocupação imediata com a inflação”. Para ela, o documento também chama atenção para as vulnerabilidades no setor de crédito privado, que voltaram ao radar do Comitê em meio ao aumento da alavancagem e à deterioração recente de algumas operações.
Durão pondera ainda que, diante da incerteza sobre o grau de restritividade da política monetária e da possibilidade de o juro estar se aproximando do nível neutro, “um novo corte em dezembro não é garantido”, já que o processo de desinflação parece ter perdido tração nos últimos meses.
















