O Brasil sempre encontrou novos nomes para o dinheiro. Já chamou de conto, barão, prata, pila. Cada expressão dizia algo sobre a economia da época, sobre poder de compra e sobre a forma como o dinheiro circulava. Hoje, a palavra que domina é Pix. E não é só um apelido. É um retrato do ritmo atual da economia, da velocidade com que o valor se move e da liquidez que agora cabe na palma da mão. O que antes dependia de espécie, horário bancário e tarifas agora acontece em segundos. E essa velocidade mudou os pagamentos, a forma como percebemos, organizamos e nos relacionamos com o dinheiro.
O Pix contribui para um ambiente mais eficiente. Pagamentos instantâneos reduzem custos de operação, encurtam prazos e aceleram a formação de preços. Pequenos negócios passam a girar caixa sem recorrer a crédito caro. Transferências rápidas tornam repasses mais transparentes e diminuem a necessidade de intermediários. Em um país que convive com volatilidade e margens apertadas, essa agilidade tem efeito macroeconômico, mesmo que indireto. A liquidez melhora o fluxo da economia, mas também exige mais disciplina de cada pessoa. A eficiência do sistema não se traduz automaticamente em eficiência financeira pessoal.
Há cinco anos o Pix entrou na vida dos brasileiros e redefiniu o que significa ter dinheiro disponível. “Fazer um Pix” virou sinônimo de liquidez imediata, de valor que entra e sai sem atrito. O sistema lançado pelo Banco Central em 2020 se tornou o principal meio de pagamento do país, superando cartões, TED e DOC, e moldando novos hábitos financeiros.
Os números confirmam a mudança. Mais de 165 milhões de pessoas físicas já registraram chaves Pix. Isso ampliou a bancarização e levou milhões de brasileiros e pequenos negócios para dentro do sistema financeiro formal. Abriu portas para crédito mais estruturado, investimentos e serviços que antes estavam fora do alcance de grande parte da população. A economia gerada também é expressiva, com estimativas que passam de R$ 100 bilhões em tarifas evitadas neste período. E mais da metade das transações financeiras do país já ocorre via Pix, mostrando o quanto esse padrão foi rapidamente adotado.
Mas todo avanço tem seus desafios, e aqui o ponto frágil não é tecnológico. É comportamental. Com o Pix, o dinheiro físico desapareceu. A referência imediata do gasto sumiu. Um QR Code basta para concluir uma compra. Pequenas despesas passam despercebidas. E a inclusão digital acelerada colocou milhões de pessoas em um ambiente financeiro mais complexo sem preparo comportamental e sem disciplina financeira. Quanto mais fácil é gastar, mais atenção precisamos ter.
Neste cenário, a organização financeira precisa acompanhar a velocidade do Pix:
- Ative notificações para controlar entradas e saídas do seu fluxo financeiro. Trate essas notificações como um sistema de alerta e de consciência. Faça uma revisão semanal obrigatória do extrato para identificar padrões de gasto e ajustar metas. Se atua como autônomo, mantenha contas separadas para evitar mistura entre despesas pessoais e profissionais. Essa divisão evita confusão e dá clareza sobre o seu fluxo de caixa verdadeiro.
- Use a automação a seu favor para construir reserva financeira. Muitos bancos já permitem agendar Pix. Assim que o salário cair, programe transferências automáticas para a reserva de emergência, metas de curto prazo e aportes simples, como CDBs de liquidez diária ou as “caixinhas” dos bancos digitais. Se o seu banco não permitir agendamento integral, use lembretes automáticos no próprio aplicativo. A lógica é direta: a velocidade do Pix deve servir para guardar antes de gastar.
- Trate Pix Parcelado, Pix Garantido e futuras modalidades recorrentes como crédito, e não como conveniência. Analise custo, prazo e necessidade. Crédito não é extensão de renda. A facilidade de seu acesso não pode virar dívida.
Depois de cinco anos, o Pix se consolidou como uma das maiores inovações financeiras do país. Trouxe inclusão, eficiência e reduziu custos de forma inédita. A tecnologia fez sua parte. Agora cabe a nós usá-la como instrumento para decisões mais alinhadas ao futuro financeiro que buscamos.
*Coluna escrita por Carlos Castro, planejador financeiro pessoal, CEO e sócio fundador da plataforma de saúde financeira SuperRico
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