Os Estados Unidos encerraram nesta quinta-feira (13) o shutdown mais longo da história do país, após 43 dias de paralisação parcial do governo federal. O presidente Donald Trump sancionou o projeto de lei aprovado pelo Congresso horas antes, garantindo o financiamento temporário das operações federais até 30 de janeiro.
O acordo representa o fim de um impasse que paralisou órgãos públicos, interrompeu serviços essenciais, provocou atrasos massivos em aeroportos e deixou centenas de milhares de funcionários sem salário.
Shutdown com votação apertada na Câmara
A Câmara dos Deputados aprovou o texto por 222 votos a 209, em uma votação marcada por dissidências de ambos os partidos. Embora os republicanos possuam a maioria na Casa, dois parlamentares do partido votaram contra a medida. Do lado democrata, seis deputados apoiaram o projeto.
Entre os democratas que votaram a favor estão Adam Gray (Califórnia), Marie Gluesenkamp Perez (Washington), Jared Golden (Maine), Henry Cuellar (Texas), Tom Suozzi (Nova York) e Don Davis (Carolina do Norte). Dois deputados, um democrata e um republicano, não participaram da votação.
A oposição democrata argumentou que o acordo não incluía a prorrogação dos subsídios federais de Saúde para cerca de 24 milhões de americanos, uma das principais reivindicações durante a paralisação.
O que prevê o acordo aprovado pelo Congresso
A legislação aprovada garante financiamento integral de setores como agricultura, construção militar, programas para veteranos e agências legislativas, com validade para boa parte do próximo ano fiscal. O texto também:
- restaura os empregos dos funcionários demitidos durante a paralisação;
- assegura pagamento retroativo aos servidores que ficaram sem salário;
- impede cortes de pessoal até janeiro;
- mantém financiamento temporário de setores que não foram contemplados integralmente no acordo.
Segundo parlamentares, alguns programas essenciais permanecerão protegidos de novos impasses orçamentários até o fim do ano fiscal de 2026, reduzindo o risco de nova paralisação em áreas sensíveis.
Shutdown: aprovação no Senado e fissuras no Partido Democrata
No Senado, o projeto obteve 60 votos, número mínimo necessário para seguir à Câmara. A votação contou com apoio de 52 republicanos e oito democratas centristas, que aceitaram um acordo bipartidário costurado para viabilizar o fim do shutdown.
A adesão de parte da bancada democrata resultou em críticas internas. O senador Bernie Sanders classificou o resultado como “muito ruim”, enquanto parlamentares como Elissa Slotkin e Tammy Baldwin afirmaram que a promessa republicana de votar posteriormente a extensão dos subsídios de Saúde era insuficiente.
Impactos do shutdown na economia e na população
A paralisação provocou efeitos significativos em diversos setores:
Funcionamento do governo
- A Câmara ficou praticamente parada por semanas, sem votações, audiências ou debates.
- Centenas de milhares de servidores ficaram sem salário, muitos obrigados a trabalhar sem remuneração.
Assistência social
- O governo suspendeu o financiamento do Programa de Assistência Alimentar (SNAP).
- A Suprema Corte autorizou a retenção temporária de bilhões de dólares destinados a 42 milhões de americanos de baixa renda.
Transporte aéreo
- A falta de controladores de voo e agentes da TSA resultou em:
- até 10% de redução de voos em 40 aeroportos;
- 7.016 atrasos e 1.025 cancelamentos no primeiro dia da medida;
- pico de 11.229 atrasos e 2.954 cancelamentos no domingo seguinte.
Trump sanciona o acordo e acusa oposição
Antes de assinar o documento que reabre o governo, Trump afirmou que “jamais cederia à extorsão” e acusou os democratas de terem provocado a paralisação. O presidente disse que o governo retomará suas operações normais imediatamente e prometeu continuar trabalhando para reduzir custos, fortalecer a segurança pública e impulsionar a economia.
Com a sanção, funcionários públicos devem retornar ao trabalho ainda esta semana, e os setores mais afetados começam gradualmente a normalizar suas atividades.
Apesar do acordo, o Congresso terá de enfrentar um novo debate orçamentário no início de 2026. O financiamento temporário vence no dia 30 de janeiro, criando a possibilidade de nova disputa caso não haja consenso entre republicanos e democratas.
O que dizem os especialistas
Para a economista Andressa Durão, do ASA, o fim do shutdown mais longo da história dos Estados Unidos desloca imediatamente a atenção do mercado para o cronograma do Bureau of Labor Statistics (BLS), responsável pelos principais indicadores econômicos do país. “A paralisação de 43 dias interrompeu coletas essenciais de dados, especialmente os referentes ao mês de outubro, que na prática, podem nunca ser divulgados“, destaca Andressa.
A expectativa agora é pela reprogramação das estatísticas de setembro e pelo atraso inevitável da produção dos números de novembro. Durão destaca que isso significa que, na reunião do Fomc marcada para 10 de dezembro, o Federal Reserve terá acesso apenas aos indicadores de setembro, o que reduz a visibilidade do banco central sobre o desempenho recente da economia. “Essa limitação técnica reforça uma tendência “hawkish” e pode levar o Fed a adiar decisões sobre cortes de juros até que haja maior segurança nos dados“, avalia a economista.
O economista Bruno Corano avalia que o prolongamento do shutdown teve origem essencialmente política, e não técnica. “Democratas e republicanos já sabiam há semanas onde estava o ponto possível de convergência, mas prolongaram o impasse para gerar pressão interna e fortalecer suas narrativas“, avalia Corano. Embora o impacto macroeconômico tenha sido limitado, Corano ressalta que os efeitos institucionais foram significativos: atrasos de pagamentos, interrupção de serviços, insegurança entre servidores públicos e paralisação operacional em órgãos essenciais.
Na sua leitura, o acordo que emergiu agora sempre esteve ao alcance das partes, mas só foi firmado após um desgaste calculado por ambos os lados. Ele alerta ainda que o conflito permanece aberto. O financiamento temporário vale até 30 de janeiro e não resolve divergências estruturais sobre subsídios de saúde, limites de gasto e prioridades orçamentárias. “O shutdown terminou, mas a disputa que o gerou continua. E pode voltar, dependendo de como evoluir essa frágil trégua entre democratas e republicanos.”, conclui.
















