O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central afirmou que o juros em 15% ao ano será mantido por um período prolongado. A avaliação consta da ata da 274ª reunião do comitê, divulgada nesta terça-feira (11), e reforça o compromisso com a convergência da inflação à meta.
Segundo o documento, o colegiado considera que a política monetária atual é “significativamente contracionista” e suficiente para assegurar a desaceleração dos preços. “Na medida em que o cenário tem se delineado conforme esperado, o Comitê dá prosseguimento ao estágio em que opta por manter a taxa inalterada por período bastante prolongado, mas já com maior convicção de que a taxa corrente é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta”, afirmou o BC.
Inflação segue acima da meta e expectativas continuam desancoradas, alerta a ata do Copom
Apesar da desaceleração observada nos últimos meses, o Banco Central avaliou que a inflação permanece acima da meta e que as expectativas para 2025 e 2026 seguem em 4,5% e 4,2%, respectivamente, acima do centro de 3%. O Copom classificou o cenário como “desafiador” e destacou que a desancoragem das expectativas de inflação ainda preocupa.
O comitê também observou sinais de moderação na atividade econômica, mas apontou que o mercado de trabalho continua aquecido, o que exige manutenção de cautela na condução da política monetária.
Ambiente externo e riscos fiscais exigem cautela
O Copom destacou que o ambiente internacional permanece incerto, com atenção especial à condução da política econômica nos Estados Unidos e às tensões geopolíticas globais. Segundo o colegiado, esse contexto impõe desafios adicionais para economias emergentes como o Brasil.
No cenário doméstico, o texto chama atenção para a importância da coordenação entre as políticas fiscal e monetária. O BC alertou que um eventual afrouxamento fiscal ou o aumento de crédito direcionado podem elevar o custo de desinflação e afetar a taxa neutra de juros.
Projeções e horizonte de política monetária
No cenário de referência, as projeções de inflação acumulada em quatro trimestres estão em 4,6% para 2025 e 3,6% para 2026. Para o horizonte relevante de política monetária, o segundo trimestre de 2027, a estimativa é de 3,3%, ainda acima da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional.
O comitê afirmou que continuará monitorando a evolução dos dados e das expectativas para definir os próximos passos. A decisão de manter a taxa inalterada foi unânime entre os nove membros do Copom, presidido por Gabriel Galípolo.
Analistas veem Copom mais confiante e com tom ligeiramente mais brando sobre juros
Para Leonardo Costa, economista do ASA, o Copom mostrou convicção crescente de que o nível atual de juros é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta, mesmo sem sinalizar cortes no curto prazo. “A leitura de um cenário mais benigno, com melhora da inflação corrente e das expectativas, além da confiança na desaceleração da atividade doméstica, dá um tom mais dovish ao comunicado”, avaliou.
Costa destaca que o Banco Central destacou o cenário externo incerto, citando tarifas comerciais dos Estados Unidos, o risco de shutdown e a indefinição sobre o ciclo de cortes do Federal Reserve. No ambiente doméstico, o economista observou que a atividade mostra moderação, com o mercado de trabalho ainda aquecido, enquanto o arrefecimento do crédito e da demanda aponta para o efeito esperado da política monetária. “O quadro é de reequilíbrio gradual entre oferta e demanda, o que favorece a convergência da inflação”, disse.
O economista também ressaltou que a inflação corrente apresenta quadro mais favorável, com recuo em bens e alimentos e leve alívio em serviços, embora ainda pressionada pela demanda. As projeções do Banco Central indicam inflação de 4,6% em 2025, 3,6% em 2026 e 3,3% no segundo trimestre de 2027, incorporando o impacto da nova isenção do Imposto de Renda e da bandeira tarifária amarela para os próximos anos. “O Copom reduziu a retórica de alerta e consolidou uma mensagem de estabilidade”, concluiu.
Tom mais brando da ata do Copom
Para Pablo Spyer, conselheiro da Ancord, o tom da ata foi mais brando em relação ao comunicado da semana passada, com maior confiança de que a economia vem desacelerando de forma gradual e as pressões inflacionárias estão mais contidas. “O documento mostra que o Comitê está confortável com o atual patamar da taxa Selic, reconhecendo que a taxa é suficiente para garantir a convergência da inflação à meta”, afirmou.
Spyer destacou que a menção à moderação da atividade e à diminuição das expectativas de inflação reforça a percepção de que a política monetária está produzindo os efeitos esperados. O conselheiro observou ainda que o Banco Central incluiu o impacto da nova faixa de isenção do Imposto de Renda nas projeções, o que tende a reduzir as estimativas de inflação à frente. “A consideração da bandeira amarela no fim de 2025 e 2026 também pode levar a revisões baixistas adicionais nas projeções oficiais”, disse.
De acordo com o especialista, o mercado deve interpretar a ata como ligeiramente mais otimista, abrindo espaço para que o Copom suavize o tom nas próximas reuniões. “A leitura é de que o BC pode começar a discutir um ciclo de cortes de juros a partir de janeiro, caso a desaceleração da economia se confirme”, afirmou Spyer.
O ponto-chave da ata
Já Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, destacou o parágrafo 17 do documento como ponto-chave da mudança de tom. “O Copom menciona que tem maior convicção de que a taxa corrente é suficiente para segurar a convergência da inflação à meta. Isso pode ser interpretado como um primeiro sinal de abertura para cortes futuros, mesmo que ainda não haja indicação explícita”, explicou.
Cruz ressaltou, no entanto, que o texto mantém a afirmação de que o Banco Central “não hesitará em retomar o ciclo de alta se julgar necessário”, reforçando que a instituição ainda adota uma postura cautelosa. “O mercado tende a ler o comunicado como um passo na direção de flexibilização em 2025, mas o BC deixou claro que os juros permanecerão elevados por um período prolongado”, avaliou.
Segundo o estrategista, a expectativa da RB Investimentos é que os cortes de juros comecem apenas em março de 2025, com encerramento do ano em torno de 11%. “Por enquanto, dezembro é improvável para qualquer movimento. A decisão depende dos próximos indicadores e do comportamento das expectativas”, concluiu Cruz.