O Ibovespa encerrou esta sexta-feira (7) em novo recorde nominal, com alta de 0,47%, aos 154.063,53 pontos. No acumulado da semana, o índice avançou 3,02%, impulsionado por Petrobras, bancos e construtoras, além da queda do dólar no período.
Ao longo do pregão, o índice operou em alta sustentada, consolidando o otimismo dos investidores com a temporada de balanços e o fluxo estrangeiro positivo. No exterior, o cenário foi mais cauteloso, mas o mercado brasileiro seguiu descolado, embalado por resultados corporativos sólidos e perspectiva de continuidade da expansão econômica no quarto trimestre.
O que puxou a semana?
Petrobras figurou entre os principais destaques, com forte reação ao balanço do 3º trimestre e expectativa de novos dividendos. O bom desempenho das ações do setor financeiro e das construtoras também contribuiu para o ganho semanal. Mesmo com o tom mais duro do Banco Central ao manter a Selic em 15%, o mercado manteve o otimismo, apostando em cortes a partir de 2026.
O dólar comercial recuou 0,27% no dia, cotado a R$ 5,33, acumulando queda de aproximadamente 0,8% na semana. O movimento reflete a entrada de capital estrangeiro e a percepção de melhora nos fundamentos internos.
E as small caps?
O índice de Small Caps (SMLL) encerrou a sessão com alta de 0,32%, aos 2.267,26 pontos, acumulando ganho semanal de 0,54%. O resultado mostra retomada gradual do apetite por papéis de menor liquidez, em meio à busca por oportunidades após a forte valorização dos grandes nomes do índice principal.
Foi o 10º recorde seguido?
Sim. O Ibovespa registrou seu 10º recorde consecutivo de fechamento, sequência histórica que reforça o vigor da Bolsa brasileira em 2025. O movimento de alta tem sido sustentado por fluxos externos, balanços corporativos acima das expectativas e melhora das perspectivas fiscais no país.
Análise
“A correção não é o fim do ciclo tech — é, antes, a exigência de que o futuro venha acompanhado de lucro real.” — Ricardo Trevisan, CEO da Gravus Capital.
Segundo Trevisan, a última semana foi marcada por uma correção significativa nos mercados globais, especialmente em setores sensíveis ao crescimento futuro, como tecnologia. A Nasdaq sofreu quedas expressivas diante de incertezas macroeconômicas e de lucros mais fracos, o que provocou uma reação em cadeia em Ásia e Europa. “A concentração de investimentos em empresas de inteligência artificial criou uma vulnerabilidade latente — qualquer sinal de desaceleração amplifica o movimento de correção”, explica.
Nos Estados Unidos, notícias de demissões em grandes companhias e leituras negativas de sentimento contribuíram para o aumento da volatilidade, levando investidores a buscar refúgio em títulos públicos. No Brasil, o Ibovespa acompanhou parte dessa aversão global ao risco, com atenção especial aos preços relativos em setores como commodities, bancos e consumo.
Trevisan ressalta que o cenário doméstico ainda é moldado pelos juros elevados, o que mantém a renda fixa atrativa e eleva o custo de capital. “Isso limita a recuperação de ações mais dependentes de crédito e consumo”, afirma.
Teses e leituras técnicas da semana
Para o executivo, a desaceleração do “risk-on” em tecnologia evidencia a fragilidade de fluxos concentrados em IA. A recomendação é reduzir exposição direcional e priorizar empresas com lucros recorrentes e boa governança. “Nos EUA, o risco político do shutdown aumentou o prêmio de risco, e, nesta fase, o noticiário político tem peso semelhante a indicadores como CPI e payrolls”, analisa.
No Brasil, a Selic elevada segue canalizando parte do capital para renda fixa. Para que o prêmio de risco em ações se recomponha, será necessário ver sinais claros de desaceleração inflacionária e desalavancagem corporativa. “Favorecer duration curta em renda fixa e seletividade em ações com caixa sólido é a estratégia mais prudente”, recomenda Trevisan.
O que observar na próxima semana
- Leituras de emprego e inflação nos EUA, que podem alterar as expectativas sobre o Federal Reserve;
- Discursos de dirigentes do Fed como termômetro para a curva de juros global;
- No Brasil, divulgação do IPCA, indicadores de atividade e a comunicação do Copom sobre a Selic;
- Desempenho de gigantes de tecnologia e seus efeitos sobre índices setoriais e fluxo global.
Sugestões práticas para investidores
- Conservadores: manter parcela relevante em renda fixa indexada à Selic ou papéis curtos, aproveitando o prêmio real brasileiro;
- Moderados: reduzir exposição a ativos de alto beta, como tecnologia, e priorizar setores defensivos com bons dividendos;
- Agressivos: buscar oportunidades táticas em correções, com disciplina em stops e foco em companhias com balanço robusto e geração de caixa consistente;
- Hedge: proteger posições cambiais diante da volatilidade global, usando opções ou contratos futuros.
Uma palavra final
Para Trevisan, a semana reforçou a máxima dos mercados: liquidez e narrativa andam juntas. “A mudança da narrativa — de um crescimento maximalista em IA para um reapreçamento de risco — realoca rapidamente a liquidez e testa convicções. Foco em qualidade, disciplina e leitura macro são diferenciais competitivos”, conclui o gestor.
Na próxima semana, os investidores devem se concentrar nos dados norte-americanos e nas comunicações de Fed e Copom. “Quem souber interpretar o calendário e o tom das falas terá vantagem na precificação dos próximos movimentos de mercado”, completa.
















