Um paradoxo começa a se construir em relação ao crédito e isso pode não ser boa notícia para o varejo: apesar de a oferta crescer, instituições financeiras temem pelos efeitos da política de juros contracionista do Banco Central. Os dois maiores bancos privados do país – Itaú e Bradesco – têm inadimplência sob controle e ampliaram mais uma vez o volume, tanto na comparação trimestral quanto na anual. No caso do Itaú, o total na operação brasileira chegou a R$ 1,2 trilhão no terceiro trimestre (+1,2% sobre o segundo trimestre e +7,8% em relação ao mesmo período do ano anterior). No Bradesco, o volume superou o R$ 1 trilhão (+1,6% sobre o segundo trimestre e +9,6% frente ao terceiro trimestre de 2024). Mas ambos falam em cautela.
Gabriel Moura, CFO do Itaú, destacou o “crescimento consistente” da carteira, mas sob controle permanente de riscos. Em podcast, o diretor de Relações com Investidores do Bradesco, André Carvalho, disse que “a desaceleração da carteira de crédito deve prosseguir, dado o atual contexto econômico e o nosso apetite ao risco comedido”. O crescimento da oferta de crédito este ano segue dentro do projetado. No Bradesco, crescimento entre 4% e 8%, abaixo de 2024 (+11,9%), mas o que é natural depois de um avanço agressivo uma alta menos expressiva. No Itaú, o guidance, também foi mantido. Tem intervalo de alta de 4,5% a 8,5% (expansão de 15,5% no ano passado). Nos dois casos, a inadimplência acima de 90 dias se manteve estável. O Bradesco teve lucro líquido de R$ 6,2 bilhões (+2,3% sobre o trimestre e +18,8% sobre 2024), com ROAE de 14,7%. No Itaú, o lucro líquido foi de R$ 11,9 bilhões (+3,2% no trimestre e +11,3% sobre 2024), com ROAE de 23,3%.
A carteira do Itaú destinada a pessoas físicas – que mais reflete no varejo – somou R$ 456,4 bilhões (+6,5% na comparação anual e +1,0% sobre o segundo trimestre deste ano). O ponto de atenção é que a despeito da alta a velocidade diminui. No segundo trimestre deste ano, na comparação anual, o avanço do crédito para a pessoa física ficou 1,5 ponto percentual maior (+8%) do que o registrado agora. Já no Bradesco, o crédito para pessoa física ficou do mesmo tamanho, R$ 451,6 bilhões, mas o avanço foi mais agressivo: +2,1% sobre o segundo trimestre deste ano e +13,8% na comparação anual. Mesmo com essa aceleração, o avanço sobre 2024 recuou 2,1 pontos percentuais quando comparado ao obtido no segundo trimestre de 2025 (+15,9%).
IMÓVEIS & VEÍCULOS – No âmbito do crédito dirigido, no Itaú a oferta no segmento imobiliário chegou a R$ 137 bilhões, avanço anual de 15,2% (contra alta anual de 17,2% vista no segundo trimestre deste ano frente a igual período de 2024). Para veículos, o volume chegou a R$ 36,3 bilhões, variação anual de apenas 1,2% (no segundo trimestre, sobre o mesmo período de 2024, havia sido de 4,0%). No Bradesco, os percentuais de avanço foram respectivamente 14,5% (no segundo trimestre foi de 17,5% em 12 meses) no segmento imobiliário. No caso de veículos, o crescimento anual no terceiro trimestre chegou a 13,5% e superou a alta verificada no período encerrado em junho, que cresceu 11,6% sobre junho de 2024.
As estratégias das duas maiores instituições privadas do país parecem divergir apenas quando se trata de crédito para as grandes empresas. No Itaú, ela cresce. No Bradesco, retrai. No caso do Itaú, para pequenas e microempresas a carteira está em R$ 258,9% bilhões, crescimento anual de 7,5% (foi de 13,1% no segundo trimestre). Para as grandes empresas, o volume foi de R$ 400,2 bilhões, variação positiva de 9,4% em 12 meses (era de 6,4% no trimestre encerrado em junho). No Bradesco, no entanto, a carteira para pequenas e micros somou R$ 241,1 bilhões, elevação de 24,8% sobre 2024 (próxima aos 25,2% na variação anual vista no segundo trimestre de 2025). Para as grandes empresas, porém, a carteira de crédito encolheu para R$ 341,5 bilhões, retração de 3,5% sobre o mesmo período de 2024 (no segundo trimestre deste ano, ela já havia encolhido 0,2% em 12 meses).
Os dois maiores bancos refletem o movimento de todo o mercado. Segundo o Banco Central, o saldo das operações de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) em setembro chegou praticamente a R$ 6,9 trilhões – aumento de 1,1% em relação a agosto. Houve avanço de 1,7% para pessoas jurídicas, resultando num saldo de R$ 2,6 trilhões. No crédito às famílias, a alta mensal foi de 0,7%, levando a um saldo de R$ 4,3 trilhões. Mas igualmente ao visto nos dados de Bradesco e Itaú, o ritmo diminuiu. “Comparativamente ao mesmo período do ano anterior, o saldo das operações de crédito do SFN em setembro registrou menor ritmo de crescimento”, afirmou o BC. “A variação anual foi de 10,1%, ante 10,4% em agosto deste ano.”
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