O Banco Central, sob a presidência de Gabriel Galípolo, tem adotado uma postura mais rígida na condução da política monetária, perseguindo uma meta implícita de inflação abaixo dos 3%. A análise é do Departamento de Pesquisa Econômica do Banco Daycoval que estimou o comportamento da autoridade monetária com base em um modelo de regra de Taylor. O estudo sugere que o atual BC apresenta um nível de firmeza comparável apenas aos períodos de Henrique Meirelles e Ilan Goldfajn.
De acordo com o levantamento, em 50% do tempo analisado desde 2007 o BC operou mirando uma inflação acima da meta oficial, em 29% abaixo e apenas em 21% exatamente na meta. Entre as ocasiões em que o banco visou patamares superiores, 21% ocorreram acima do teto do intervalo de tolerância definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
O relatório do Daycoval assinado pelos economistas Júlio Cesar Barros, Antônio Ricardi e Rafael Cardoso estima que, desde a chegada de Galípolo à presidência, o BC tem sinalizado um comportamento voltado para uma inflação inferior à meta de 3%. Isso ocorre em um contexto em que as expectativas seguem parcialmente desancoradas e o mercado de trabalho se mantém aquecido, fatores que exigem uma política monetária mais restritiva, segundo o próprio Comitê de Política Monetária (Copom).
Em ata divulgada após a reunião de setembro, o Copom já havia destacado que “em um ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma restrição monetária maior e por mais tempo do que outrora seria apropriado”. Essa postura, na visão dos analistas do Daycoval, reforça o diagnóstico de que o atual BC “retoma um nível de firmeza que só havia sido visto nas gestões Meirelles e Ilan”.
O que o estudo revela sobre a trajetória do Banco Central
O levantamento mostra que, historicamente, o BC alterna entre momentos de maior e menor rigor. Sob Alexandre Tombini (2011-2016), a política monetária foi considerada mais branda, contribuindo para a desancoragem das expectativas de inflação e para um IPCA acima da meta durante vários anos. Já nas gestões de Meirelles e Ilan Goldfajn, o comportamento foi inverso: ambos adotaram juros mais elevados por períodos prolongados, conseguindo trazer as expectativas de volta ao centro da meta.
Ao incorporar o nível de atividade econômica — o chamado hiato do produto —, o estudo conclui que o Banco Central atual mantém uma das posturas mais duras desde o ciclo de Ilan Goldfajn. O documento aponta que “os BCs que perseveraram em manter a política firme conseguiram reconquistar inflação próxima da meta e reancorar as expectativas”.
Impactos esperados para 2026
Para os economistas do Daycoval, a continuidade dessa postura deve contribuir para a melhora das expectativas e abrir espaço para uma redução dos juros ao longo de 2026. “O movimento recente de melhora das expectativas deve se intensificar na esteira da posição firme adotada atualmente pelo BC. Isso deve contribuir para o início de cortes de juros no próximo ano”, conclui o relatório.
Atualmente, o Brasil adota um regime de metas de inflação com centro em 3% e intervalo de tolerância de 1,5% a 4,5%. Quando o IPCA acumulado em 12 meses permanece fora dessa faixa por seis meses consecutivos, o BC deve enviar uma carta pública ao Ministério da Fazenda explicando as razões do descumprimento e as medidas de correção.
Um BC mais ortodoxo, mas com cenário complexo
O endurecimento da política monetária ocorre em um ambiente em que o desemprego está no menor patamar da série histórica e a atividade segue aquecida, fatores que pressionam os preços. Mesmo assim, a instituição tem mantido os juros em nível considerado restritivo, o que reforça o compromisso com a meta — ainda que isso represente custos de curto prazo para o crescimento.
Em termos práticos, perseguir uma meta implícita abaixo de 3% significa que o Banco Central busca antecipar a convergência inflacionária, reduzindo o risco de desancoragem e preparando o terreno para um novo ciclo de afrouxamento monetário em 2026.
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