Em um cenário econômico e político desafiador, liderança com propósito se tornou uma das maiores habilidades exigidas de quem ocupa posições de comando. No programa BM&C Visões, apresentado por Isabela Tacaki, a CEO do G4 Educação, Misa Antonini, compartilhou sua trajetória e reflexões sobre os desafios de empreender e liderar no Brasil. A conversa trouxe à tona temas como eficiência, cultura empresarial, inteligência artificial e o equilíbrio entre carreira e maternidade.
Formada em Engenharia de Produção pela UFMG, Misa construiu uma carreira diversa, passando por setores como mercado financeiro, varejo e tecnologia, antes de assumir o comando do G4 Educação. Segundo ela, liderar uma empresa que cresce a um ritmo acelerado exige não apenas estratégia, mas também resiliência. “Temos uma meta ousada de gerar 1 milhão de empregos até 2030, porque acreditamos que é o empreendedor quem realmente transforma a sociedade”, afirmou.
Liderança no radar: o empreendedor brasileiro
Ao comentar o ambiente de negócios no país, Misa utilizou uma metáfora forte para ilustrar a resiliência do empresário brasileiro. “O empreendedor no Brasil é como uma barata: nada, voa, passa por baixo da porta e sobrevive até a bomba nuclear. Porque nunca foi fácil”, brincou. Para ela, o segredo está em buscar eficiência e produtividade em todas as áreas da empresa, independentemente do cenário macroeconômico.
De acordo com a executiva, essa eficiência passa por identificar gargalos internos e eliminar desperdícios. “O empresário não tem controle sobre a política ou a economia, mas tem controle sobre os custos, as margens e o desempenho do seu time. Buscar eficiência é o dever de casa de todo líder”, destacou.
Quais são os maiores obstáculos do empreendedor brasileiro
Ao longo da conversa, Misa destacou que a insegurança jurídica e a burocracia continuam sendo as maiores barreiras para quem empreende. “Até o passado é incerto no Brasil”, disse. Segundo ela, essa instabilidade impede o empresário de ter previsibilidade para investir e crescer. “Quando um empreendedor pensa em abrir uma nova fábrica, ele precisa de estabilidade para planejar. Sem isso, o foco se perde, e ele deixa de pensar em como servir melhor o cliente para tentar se proteger das mudanças repentinas do sistema”, explicou.
Para a CEO, a falta de segurança institucional e a alta carga tributária drenam a energia do empreendedor, que deveria estar voltado à inovação. “Essa é uma energia mal gasta. Em vez de pensar em como agregar valor ao cliente, ele precisa se defender de novas regras e tributos que aparecem sem aviso”, completou.
Cultura é o coração da empresa: a importância da liderança
Outro ponto abordado por Misa Antonini foi a importância da cultura organizacional como base do sucesso de um negócio. “A cultura existe quer você queira ou não. O problema é quando o empresário só olha para ela quando já é tarde demais”, alertou. Segundo a executiva, muitos empreendedores se concentram apenas nas finanças e vendas, deixando a cultura se formar de maneira espontânea. “Quando percebem, estão reféns de um ambiente que não reflete mais os valores originais da empresa.”
Para ela, o primeiro passo é diagnosticar a cultura real da companhia e, a partir daí, alinhar comportamentos e práticas ao propósito do negócio. “A cultura é o que vai definir quem entra, quem cresce e quem fica. Se você diz que valoriza honestidade, mas promove alguém que age de forma desonesta, a mensagem real que a empresa passa é outra”, observou.
Inteligência artificial e eficiência nos negócios
Misa também abordou o papel da tecnologia e da inteligência artificial (IA) na busca por eficiência. Segundo ela, a IA deve ser vista como uma aliada, e não uma substituta do trabalho humano. “No G4, crescemos 141% em faturamento com aumento de apenas 10% no número de funcionários. A inteligência artificial nos ajuda a sermos mais produtivos, não a demitir pessoas”, explicou.
Ela reforçou, no entanto, que usar IA de forma eficaz exige senso crítico e boa comunicação. “Muita gente diz que usa o ChatGPT, mas trata como se fosse o Google. A diferença é que você precisa saber pedir bem, explicar bem o problema e analisar o retorno com olhar crítico. É como ter um estagiário disponível o tempo todo.”
Como equilibrar carreira e maternidade
Na reta final da entrevista, Misa falou sobre o desafio de equilibrar maternidade e carreira. Para ela, o segredo está em aceitar que o equilíbrio perfeito não existe. “Há semanas em que sou 70% CEO e 30% mãe, e outras em que é o contrário. É um desequilíbrio equilibrado”, definiu.
Ela completou dizendo que preenche sua ausência com propósito. “Quando não estou com meus filhos, é porque estou trabalhando para gerar empregos e prosperidade. Essa ausência é cheia de significado. Eles crescem vendo isso e aprendendo o valor do trabalho”, afirmou emocionada.
Propósito como motor da liderança
Encerrando a entrevista, Misa destacou que liderar é mais do que buscar resultados. “Ser CEO é equilibrar resultados e humanidade, metas e propósito. O verdadeiro sucesso é gerar prosperidade e inspirar outros a fazerem o mesmo”, concluiu.
O episódio do BM&C Visões mostrou que, em meio às incertezas do país, é a combinação entre coragem, visão e propósito que sustenta os líderes que realmente fazem diferença.