Começa hoje a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que irá decidir o rumo da taxa de juros pelos próximos 45 dias. Com o cenário inflacionário mostrando sinais de melhora, o mercado projeta que o Copom manterá a taxa Selic em 15% ao ano. Embora a inflação tenha surpreendido para baixo e as expectativas estejam próximas ao esperado, os economistas avaliam que o Banco Central deve continuar com uma postura cautelosa, priorizando a consolidação dos avanços conquistados até aqui. O tom do comunicado, no entanto, deve indicar se o ciclo de cortes pode começar ainda no início de 2026.
Entre as principais dúvidas do mercado está a possível retirada do trecho em que o Copom reafirma que pode “retomar o ciclo de alta de juros se for apropriado”. Esse detalhe técnico, segundo os analistas, é visto como um termômetro da confiança do Banco Central na convergência da inflação para a meta. Caso o alerta seja excluído, o gesto será interpretado como um sinal de preparação para o início do afrouxamento monetário. Se for mantido, reforçará a mensagem de que o BC pretende segurar a taxa em um nível contracionista por um período prolongado.
O que dizem os economistas sobre a decisão do Copom em relação à Selic?
Para Júlio Barros, economista do Banco Daycoval, os avanços recentes são relevantes, mas ainda insuficientes para alterar a estratégia do Banco Central. Ele destaca que a inflação corrente veio abaixo do esperado no início do ano, as expectativas caíram em todos os horizontes e o câmbio mostrou acomodação. Mesmo assim, o economista avalia que o Copom continuará adotando uma postura conservadora, mantendo a Selic em terreno contracionista por mais tempo do que o desejado pelos agentes de mercado.
Barros acredita, no entanto, que a retirada da sinalização de possível alta de juros pode abrir caminho para o início do ciclo de cortes no começo do próximo ano. “Se o trecho for mantido, aumenta a probabilidade de que os cortes ocorram mais à frente, mas se for retirado, o Banco Central deixará a porta aberta para flexibilizar a política monetária”, explicou o economista.
Copom deve manter tom duro ou preparar o terreno para cortes da Selic?
Na avaliação de Luis Cezario, economista-chefe da Asset 1, o Copom tende a reconhecer a melhora do cenário econômico e inflacionário, mas ainda deve preservar um tom firme no comunicado. Ele observa que a inflação corrente surpreendeu para baixo, os núcleos mostram desaceleração e o mercado de trabalho começa a dar sinais de desaquecimento. Além disso, as expectativas de inflação caíram inclusive nos horizontes mais longos, o que indica menor desancoragem em relação à meta de 3%.
Com base nessas mudanças, Cezario projeta que a estimativa de IPCA no modelo do Banco Central para o horizonte relevante, o segundo trimestre do próximo ano, cairá de 3,4% para 3,3%. Nesse sentido, o economista avalia que o BC pode começar a ajustar sua comunicação de forma gradual, preparando o mercado para um corte no início de 2026. “Uma forma de sinalizar essa transição seria retirar o alerta sobre a possibilidade de nova alta de juros, ou suavizar a linguagem ao substituir ‘bastante prolongado’ por ‘suficientemente prolongado”, pontua Cezario.
Mesmo com essa leitura, ele pondera que o Copom deve preferir manter o tom hawkish por mais algum tempo, consolidando os ganhos de credibilidade e reforçando o compromisso com a convergência da inflação. Assim, o cenário mais provável seria o reconhecimento dos progressos observados, mas sem alteração relevante no discurso principal.
Expectativas ancoradas e cautela prolongada
Para Leonardo Costa, economista do ASA, o Copom deve manter uma postura de cautela e reforçar a necessidade de prudência diante do cenário externo incerto e dos efeitos defasados da política monetária. Ele aponta que o comitê tende a repetir o discurso duro das últimas reuniões, reiterando o compromisso com a convergência da inflação e com a manutenção da taxa de juros em nível elevado por tempo suficiente para conter as pressões inflacionárias.
Segundo Costa, a desaceleração da atividade econômica já é visível, reflexo direto do aperto monetário prolongado. No entanto, os núcleos de inflação ainda mostram desaceleração apenas modesta, permanecendo acima do nível ideal para garantir a convergência plena à meta. Nesse contexto, a avaliação é que o Banco Central não deve dar sinais de afrouxamento antes de meados de 2026.
O que o mercado deve observar no comunicado
O mercado acompanha com atenção a linguagem adotada pelo Copom em relação a dois pontos específicos: a duração do período de manutenção da Selic e a possibilidade de retomada do ciclo de alta. Essas escolhas de palavras são vistas como indicativos do grau de confiança da autoridade monetária sobre o controle da inflação e da disposição em iniciar cortes.
Além disso, o reconhecimento dos avanços inflacionários e da desaceleração da economia será determinante para calibrar as expectativas. A depender do tom, o mercado poderá ajustar suas apostas sobre o início do ciclo de cortes. Enquanto alguns analistas enxergam espaço para flexibilização antecipada, outros preferem esperar por evidências mais sólidas de que a inflação caminha de forma sustentável em direção à meta.
No cenário atual, o consenso é de manutenção da Selic em 15% e de continuidade do discurso firme. Contudo, a atenção se volta para as sutilezas do texto, que podem marcar o início de uma mudança de orientação na política monetária. Caso o Banco Central retire o alerta de alta, o mercado deve reagir positivamente, interpretando a medida como o primeiro passo rumo à normalização dos juros.