O Ibovespa encerrou esta sexta-feira (31) em alta de 0,51%, aos 149.540,43 pontos, cravando o 5º recorde consecutivo de fechamento e completando uma sequência de oito pregões seguidos de ganhos. Com isso, o principal índice da Bolsa brasileira avançou 2,26% no mês e 2,31% na semana, encerrando outubro em clima de forte otimismo.
O movimento foi sustentado pelo bom desempenho de ações de educação, mineração e consumo, além da queda nos juros futuros e da influência positiva do ambiente internacional. O dólar à vista fechou praticamente estável, a R$ 5,3803, enquanto os juros futuros recuaram levemente após a divulgação de dados de emprego.
O que impulsionou o mercado?
Segundo Christian Iarussi, economista e sócio da The Hill Capital, o rali recente da Bolsa reflete o otimismo com o cenário macroeconômico e a temporada de balanços.
“O Ibovespa está mais uma vez no positivo, em uma sequência impressionante de altas. O movimento reflete, na minha visão, os juros futuros em queda e os balanços corporativos positivos, em especial da Vale, que surpreendeu o mercado com lucro acima das projeções. Vejo que o mercado, de certa forma, mostra disposição em fechar os olhos para o risco fiscal no curto prazo e continuar surfando o bom humor global”, avalia.
No exterior, o cenário também colaborou. “Nos Estados Unidos, o tom é parecido. Balanços fortes das big techs como Amazon e Netflix trouxeram alívio após uma semana de volatilidade. O mercado americano segue tentando calibrar as apostas sobre o Federal Reserve, que ainda sinaliza cautela e evita confirmar novos cortes de juros em dezembro.”
Para o economista, a combinação entre lucros robustos e juros controlados sustenta o apetite por risco nas bolsas. “Esse mix é o que tem dado sustentação ao rali global de ações.”
Moeda e juros: estabilidade e alívio técnico
O dólar permaneceu estável, mas Iarussi destaca que a disputa pela Ptax de fim de mês e a valorização global da moeda americana limitaram movimentos mais amplos. “O dólar trabalha estável por fatores técnicos. A disputa pela Ptax costuma trazer volatilidade, e as falas mais duras do Fed reforçam a valorização do dólar no exterior.”
Nos juros futuros, o economista observa movimento de alívio. “As taxas recuam levemente, corrigindo o excesso de prêmio recente e refletindo o dado de desemprego um pouco acima do esperado. Isso reduz o risco de superaquecimento e dá algum espaço para ajustes. A curva ainda embute prêmio alto, mas o viés hoje é claramente de alívio técnico.”
Entre as ações: Vale e Yduqs lideram, Marcopolo e Vivo caem
- Yduqs (YDUQ3) subiu +8,39% e Cogna (COGN3) também avançou, beneficiadas por fluxos técnicos e expectativa de juros menores;
- Minerva (BEEF3) ganhou +3,76% e Natura (NATU3) avançou +3,21%;
- Vale (VALE3) fechou em alta superior a 2%, após resultado forte e expectativa de dividendo extraordinário;
- Petrobras (PETR3/PETR4) recuou, mesmo com o petróleo tentando recuperação;
- Marcopolo (POMO4) caiu −10,54% após divulgar lucro de R$ 329,6 milhões no 3º trimestre, queda de 1,8% ante 2024;
- Telefônica Brasil (VIVT3) recuou −5,99%, com fluxo de caixa abaixo do esperado e realização após rali recente.
Contexto global: Fed, dólar forte e trégua EUA–China
Iarussi lembra que a semana foi marcada por decisões de bancos centrais e tensões geopolíticas. “O Fed cortou os juros em 0,25 p.p., para 4,00%, e anunciou o fim do aperto quantitativo a partir de dezembro. Apesar do tom mais dovish inicial, Jerome Powell esfriou o entusiasmo ao reforçar que a meta de 2% de inflação ainda está longe. A votação dividida mostra que o Fed ainda navega em incerteza.”
“Entre outros bancos centrais, Japão e BCE mantiveram suas taxas inalteradas, o que reforça um cenário de dólar mais forte globalmente. Já o encontro entre Donald Trump e Xi Jinping trouxe alívio geopolítico, com a redução das tarifas médias dos EUA sobre produtos chineses de 57% para 47%.”
Expectativas para o Copom
Agora, o foco do mercado se volta para a reunião do Copom na próxima semana. O consenso aponta para a manutenção da Selic em 15%. “O Banco Central deve reconhecer a melhora do ambiente inflacionário e o tom mais previsível do exterior, mas dificilmente sinalizará cortes no curto prazo. O tom deve ser equilibrado, porém vigilante.”
Resumo do dia
- Ibovespa: +0,51%, a 149.540,43 pontos
- Dólar à vista: R$ 5,3803 (−0,02%)
- Semana: +2,31%
- Mês: +2,26%
- Maiores altas: YDUQ3, BEEF3, AURE3, NATU3
- Maiores quedas: POMO4, VIVT3, TIMS3, CEAB3
Conclusão
O Ibovespa encerra outubro no topo histórico, embalado por resultados sólidos e apetite global por risco. Mesmo com o dólar estável e os juros em alívio técnico, o mercado mantém um olhar atento sobre o Copom e o cenário fiscal. Para Christian Iarussi, “a disposição em continuar comprando mesmo com o risco fiscal mostra que, por ora, a narrativa dominante é de otimismo — e o investidor quer seguir surfando essa onda.”