Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva intensifica o discurso por uma redução da taxa Selic, o Banco Central mantém o tom firme diante da persistência inflacionária e da incerteza fiscal. Analistas avaliam que o BC não tem espaço para flexibilizar a política monetária no curto prazo sem comprometer a credibilidade do regime de metas. A inflação acumulada em 12 meses continua próxima de 4,6%, acima do centro da meta de 3%, e as expectativas seguem desancoradas, limitando qualquer sinal de alívio na taxa básica.
Para Volnei Eyng, CEO da Multiplike, “o Banco Central não tem alternativa senão manter os juros no nível atual por mais tempo. Reduzir a Selic agora colocaria em risco o pouco avanço que o país teve no controle da inflação”. Ele afirma que os juros seguem como instrumento eficaz, mas com efeito limitado, já que parte das pressões sobre os preços vem de fatores fiscais e de credibilidade. “Sem um plano claro de corte de gastos e equilíbrio das contas públicas, o BC precisará segurar a taxa para manter a confiança do mercado e o custo da moeda atrativo ao investidor”, explica.
Fiscal indefinido e inflação estrutural travam cortes na Selic
Segundo Jorge Kotz, CEO da Holding Grupo X, “o cenário ainda é de cautela. A inflação persiste e o fiscal incerto impede cortes na Selic. O BC precisa transmitir segurança e consistência, evitando estímulos antes de consolidar a estabilidade dos preços”. Para o executivo, as empresas devem focar em gestão financeira e preservação de liquidez. “O juro elevado ainda é eficiente como instrumento de contenção da demanda, mas já perdeu parte do impacto sobre os preços. A inflação atual reflete fatores estruturais e fiscais, o que limita o alcance da política monetária”, completa.
De forma semelhante, Gabriel Padula, CEO do Grupo Everblue, reforça que “o Banco Central deve manter a Selic elevada até que haja sinais concretos de estabilidade fiscal e de convergência das expectativas. Cortar antes da hora colocaria em risco a confiança dos investidores”. Ele observa que o juro elevado “compra tempo, mas não substitui reformas estruturais e credibilidade nas contas públicas”.
Mercado enxerga juros altos como custo e oportunidade
Para André Matos, CEO da MA7 Negócios, “a fala de Galípolo mostra que ainda há riscos à estabilidade de preços e que o BC prioriza a credibilidade do regime de metas”. Ele ressalta que o custo dessa estratégia é evidente: crédito caro, financiamento restrito e impacto direto sobre o investimento produtivo. “Companhias mais alavancadas continuam sob pressão, mas exportadoras e empresas com geração de caixa robusta tendem a navegar melhor, beneficiadas pela taxa de juros real elevada e pelo câmbio competitivo.”
Segundo Matos, o investidor deve equilibrar prudência e oportunidade. “Ainda há espaço para aproveitar o retorno da renda fixa, especialmente em títulos pós-fixados ou indexados à inflação, mas também é hora de mapear empresas sólidas, com baixo endividamento e bom potencial de dividendos. O ciclo de aperto pode estar no fim, mas a travessia ainda pede visão de longo prazo.”
Previsibilidade fiscal é a chave para a queda dos juros
Na avaliação de Pedro Ros, CEO da Referência Capital, “a previsibilidade fiscal segue sendo o fator mais determinante para o futuro dos juros. Enquanto o governo não apresentar uma trajetória clara de gastos, o Banco Central deve preservar a Selic no nível atual para conter riscos”. Ele reforça que “metas críveis valem mais que rigidez numérica — a previsibilidade inspira confiança e evita promessas inalcançáveis”.
Pedro Da Matta, CEO da Audax Capital, segue na mesma linha: “A decisão de manter a Selic elevada é a mais prudente para evitar que a inflação volte a subir. O juro alto ainda tem efeito, mas sua força diminui frente às incertezas fiscais. A meta de 3% só será viável com alinhamento entre política fiscal e monetária.”
Investidores mantêm foco em renda fixa e crédito estruturado
Para Richard Ionescu, CEO do Grupo IOX, “a Selic deve ser mantida até que o núcleo da inflação ceda de forma consistente. O BC precisa preservar estabilidade e previsibilidade. Nesse contexto, operações estruturadas e pós-fixadas garantem retorno real acima da média, permitindo atravessar o ciclo com segurança e liquidez”.
De acordo com Antonio Patrus, diretor da Bossa Invest, “o crédito caro força eficiência de capital e governança desde o início. Negócios sólidos e sustentáveis terão mais possibilidade de prosperar nesse cenário. O investidor deve equilibrar diversificação, prudência e oportunidade — a renda fixa ainda oferece bons retornos reais, mas é hora de mapear empresas com potencial para o próximo ciclo de queda dos juros”.
BC preserva credibilidade e estende ciclo de aperto
Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, avalia que “o combate à inflação segue como prioridade e justifica a manutenção da Selic em patamar elevado. A decisão é dura, mas necessária para consolidar a credibilidade e conter novas pressões sobre preços. A meta de 3% parece distante, com projeções próximas de 4,5%”.
Para Gustavo Assis, CEO da Asset Bank, “o BC deve sustentar a Selic por mais tempo. A inflação ainda preocupa e o fiscal instável reforça a necessidade de prudência. Para as empresas, o crédito estruturado se consolida como saída para equilibrar caixa e reduzir dependência bancária. FIDCs e instrumentos pós-fixados continuam entregando retornos reais sólidos com segurança”.
Meta de 3% é horizonte técnico, não imposição
João Kepler, CEO da Equity Group, afirma que “as expectativas inflacionárias seguem acima da meta e exigem firmeza da política monetária. Cortes agora seriam prematuros e poderiam reverter avanços recentes. A meta de 3% é um objetivo técnico que exige mais do que austeridade monetária — depende de responsabilidade nas contas públicas e previsibilidade nas decisões do governo”.
Na visão de Fabio Murad, CEO da Spacemoney Investimentos, “a postura do Banco Central continua firme: juros altos até que as expectativas de inflação estejam ancoradas. A estratégia é dura, mas necessária para manter a confiança no regime de metas. A meta de 3% é viável apenas com consistência e coordenação econômica. Para investidores, a renda fixa e os ETFs de crédito seguem como porto seguro, combinando rendimento real e risco controlado.”