A inflação ao consumidor dos Estados Unidos veio mais fraca do que o previsto em setembro, trazendo alívio para os mercados e reforçando a expectativa de continuidade do ciclo de cortes de juros pelo Federal Reserve. Segundo o Bureau of Labor Statistics (BLS), o CPI (Índice de Preços ao Consumidor, na sigla em inglês) subiu 0,3% no mês, abaixo da projeção de 0,4%. No acumulado de 12 meses, o indicador atingiu 3%, o maior nível desde janeiro, mas ainda considerado compatível com a meta de longo prazo do banco central.
O resultado foi visto como uma leitura benigna por economistas e estrategistas, em um momento em que os Estados Unidos enfrentam uma paralisação parcial do governo federal, reduzindo a quantidade de dados econômicos disponíveis para orientar as decisões da autoridade monetária. A divulgação do CPI, portanto, ganhou importância adicional ao indicar uma inflação mais controlada, especialmente no núcleo, que exclui os itens voláteis de alimentos e energia.
O que explica a desaceleração da inflação americana?
O núcleo do CPI avançou 0,23% em setembro, abaixo da expectativa de 0,30%, impulsionado pela desaceleração dos preços de bens de transporte, em especial veículos usados, que registraram queda expressiva. Também houve recuo na inflação de serviços, que subiu apenas 0,24% ante 0,30% esperada, e destaque para o componente de moradia, com alta de 0,13% frente aos 0,28% projetados. O chamado supercore, núcleo de serviços que exclui moradia, ficou estável em 0%, sinalizando um arrefecimento mais amplo dos preços.
Para Isadora Junqueira, economista da AZ Quest Investimentos, o resultado mostra que o processo de desinflação segue consistente. “O número veio mais fraco do que o esperado e representa uma leitura positiva para o Fed. A surpresa baixista veio tanto em bens quanto em serviços, mostrando arrefecimento em diversas frentes”, afirmou. Segundo ela, a desaceleração dos aluguéis foi um dos pontos mais importantes do relatório. “A inflação de moradia desacelerou de forma expressiva, e o núcleo de serviços excluindo moradia veio zerado, o que é um ótimo sinal para o banco central americano.”
Junqueira ressalta ainda que o dado reforça a estratégia de manter o foco no emprego sem pressionar a inflação. “O Fed está mais concentrado no mandato de emprego e tolerando uma inflação um pouco mais pressionada. Esse resultado apenas reforça a expectativa de corte de 0,25 ponto na próxima reunião e mantém o discurso de cautela para os próximos passos”, concluiu.
Como os mercados reagiram ao dado do CPI?
O estrategista-chefe da Avenue, William Castro Alves, avaliou que a leitura mais branda da inflação foi bem recebida pelos investidores. “Foi uma inflação que veio em todas as medidas levemente abaixo do esperado, o que é uma boa notícia. Mesmo rodando a 3%, o dado mostra uma inflação mais ‘soft’, mais branda do que se imaginava”, afirmou. Segundo ele, a surpresa no núcleo, de 0,23%, reforça a visão de que a pressão inflacionária está se dissipando gradualmente.
Alves destacou que os preços de alimentos e energia, tradicionalmente mais voláteis e fora do alcance da política monetária, subiram menos do que o previsto. “Isso mostra que a inflação subjacente está mais controlada, e por isso o mercado reage positivamente. As bolsas se animam porque o dado abre espaço para cortes de juros à frente e tira pressão dos yields dos títulos do Tesouro americano”, explicou o estrategista.
O resultado, segundo ele, também reduz a preocupação com os impactos das tarifas sobre os preços. “Se imaginava que o repasse das tarifas seria muito mais forte, mas até agora isso não aconteceu. A inflação tem se mostrado mais resiliente do que se projetava, o que reforça o cenário de descompressão e confiança nos mercados.”
O que esperar do Fed na próxima reunião
Os números chegam menos de uma semana antes da decisão de política monetária do Federal Reserve. De acordo com dados do FedWatch, compilados pelo CME Group, há 98,9% de probabilidade de que o banco central anuncie um novo corte de 0,25 ponto percentual, levando a taxa de juros para o intervalo entre 4% e 4,25%. Em setembro, o FOMC já havia realizado o primeiro corte desde dezembro do ano passado, também de 0,25 ponto.
Com a atividade econômica ainda sólida e a inflação em trajetória moderada, analistas acreditam que o Fed manterá o ritmo gradual de flexibilização monetária nos próximos meses. Para os investidores, o quadro sugere uma combinação de inflação sob controle e política monetária menos restritiva, cenário que tende a sustentar o apetite por risco no curto prazo. O resultado do CPI, portanto, reforça o otimismo dos mercados e consolida a expectativa de continuidade na normalização da taxa de juros americana até o fim do ano.
- CPI de setembro: +0,3% (mensal)
- Inflação anual: 3% (maior nível desde janeiro)
- Núcleo do CPI: +0,23% (abaixo de +0,30% esperado)
- Probabilidade de corte de juros: 98,9% segundo o CME FedWatch
Com o dado de setembro, o mercado americano consolida a visão de que o ciclo de aperto monetário terminou e que o foco do Fed passa a ser a calibragem de cortes para sustentar o crescimento e garantir o retorno gradual da inflação à meta de 2%.