O aguardado encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, previsto para o dia 26 na Malásia, reacende as discussões sobre os rumos da política comercial brasileira. Embora o gesto diplomático seja considerado relevante, analistas avaliam que não há expectativa de reversão imediata do tarifaço imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. O diálogo, contudo, já é visto como um avanço importante para reduzir tensões, restaurar a previsibilidade institucional e melhorar o humor dos mercados.
Segundo Pedro Ros, CEO da Referência Capital, “a simples disposição ao diálogo já tende a reduzir a percepção de risco e melhorar o humor dos mercados, especialmente após semanas de tensão comercial. Não há expectativa de reversão imediata do tarifaço, mas qualquer avanço que sinalize cooperação é suficiente para reabrir o canal de confiança entre as duas economias”.
Mercado cobra estratégia prática e menos retórica
Para Gabriel Padula, CEO do Grupo Everblue, o desafio do governo é transformar o gesto diplomático em medidas concretas. “O tarifaço escancara a dependência de poucos mercados e a urgência de diversificar parceiros e agregar valor à pauta exportadora. O Brasil precisa reagir com estratégia, fortalecendo cadeias produtivas, reduzindo custo logístico e ampliando o crédito para exportação. O mercado espera menos retórica e mais ação coordenada entre governo e setor produtivo.”
Jorge Kotz, CEO da Holding Grupo X, reforça a leitura de pragmatismo: “Lula busca reduzir danos, mas o setor produtivo precisa de previsibilidade, não promessas. O encontro pode aliviar o clima político, mas a gestão financeira segue sendo a principal defesa das companhias frente à volatilidade externa.”
Diplomacia traz alívio, mas não solução imediata
Para Pedro Da Matta, CEO da Audax Capital, o movimento deve ser interpretado como um sinal diplomático, e não uma solução concreta. “As tarifas impostas por Trump têm motivações políticas internas e não serão revertidas por um aperto de mão. No entanto, o diálogo consistente já alivia incertezas cambiais e reduz prêmio de risco. Para o investidor de crédito, o foco segue na qualidade das operações e na proteção de capital.”
Na mesma linha, Gustavo Assis, CEO da Asset Bank, avalia que o mercado deve reagir com otimismo cauteloso. “Embora o tarifaço dificilmente seja revertido de imediato, a retomada do diálogo tem impacto direto na percepção de risco-país e na precificação do crédito. O investidor reage bem quando há previsibilidade institucional — e isso tende a estabilizar spreads e liquidez no mercado de capitais.”
Oportunidade de reposicionamento comercial
Para Richard Ionescu, CEO do Grupo IOX, o governo precisa aproveitar o encontro para reposicionar o país globalmente. “O tarifaço é um alerta de que o Brasil ainda depende demais de acordos bilaterais frágeis. A reação ideal não é retaliar, mas investir em diplomacia econômica, crédito competitivo e integração com novos mercados. O mercado espera que o governo use essa crise como ponto de virada para uma política externa mais pragmática.”
Já Volnei Eyng, CEO da Multiplike, destaca que os dois países têm interesses convergentes. “Os Estados Unidos têm interesse nas terras raras brasileiras e em produtos como café, enquanto o Brasil busca eliminar tarifas. O mercado tende a reagir positivamente: uma reaproximação fortalece a confiança de investidores estrangeiros e sinaliza previsibilidade.”
Mercados esperam estabilidade diplomática
Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, acredita que o encontro trará mais sinalização do que solução. “O gesto político tende a acalmar os ânimos e reforçar a disposição de cooperação bilateral, o que pode gerar leve otimismo no mercado, principalmente entre exportadores. Ainda assim, prevalece a cautela: o investidor seguirá aguardando ações concretas.”
Para João Kepler, CEO da Equity Group, o recado ao mercado é claro: “O Brasil precisa reforçar sua posição como parceiro estratégico, e não apenas fornecedor. Em tempos de tensão comercial, diversificação geográfica e autonomia de mercado são tão importantes quanto inovação.”
Investidor deve olhar além das manchetes
Na visão de Fabio Murad, CEO da Spacemoney Investimentos, o impacto prático do encontro será limitado. “Não se deve criar ilusões sobre uma reversão imediata do tarifaço. A retórica política pode suavizar o discurso, mas o impacto dependerá de interesses internos dos EUA. Para o investidor estratégico, o foco deve ser diversificação global e exposição a ativos em dólar. A liberdade financeira não se conquista com o ‘Brasil que dá certo’, mas com acesso aos mercados mais líquidos e estáveis do mundo.”