O Ibovespa encerrou a sessão desta quinta-feira (23) em alta de aproximadamente 0,6%, aos 145.720 pontos, impulsionado pelo rali do petróleo e pela valorização das ações do setor de óleo e gás. O movimento refletiu as novas sanções impostas pelos Estados Unidos e União Europeia às gigantes russas Lukoil e Rosneft, que reacenderam preocupações sobre a oferta global da commodity.
Segundo especialistas, a alta do petróleo reforçou a atratividade de empresas como Petrobras (PETR4), PetroRecôncavo (RECV3) e Brava Energia (BRAV3), que figuraram entre as maiores altas do dia. O dólar também recuou, com a moeda americana caindo 0,20%, cotada a R$ 5,38, em meio à combinação de fluxo de commodities e expectativa positiva sobre medidas fiscais domésticas.
O que impulsionou o rali do petróleo?
De acordo com Gabriel Filassi, especialista em investimentos e sócio da AVG Capital, o principal vetor de alta do Ibovespa hoje foi o avanço do petróleo. “Boa parte dessa alta acontece devido ao rali do petróleo, após as sanções dos EUA a Lukoil e Rosneft, que reacendem a tese de maiores lucros e dividendos em petrolíferas”, explicou. Segundo ele, as restrições às gigantes russas apertam a oferta global no curto prazo, levando o Brent novamente à backwardation e fazendo o preço subir entre 4% e 5%, para a faixa de US$ 65-66 por barril.
Filassi destaca que o movimento é um choque de oferta, não de demanda. “Essas sanções podem até provocar um repique da inflação global, já que o petróleo mais caro encarece combustíveis e transporte. Caso esse choque se prolongue, o Fed e o BCE podem ser forçados a adiar os cortes de juros planejados. Por enquanto, vejo como um risco de curto prazo — tudo dependerá da persistência da alta do petróleo”, avaliou.
Casas Bahia dispara após acordo com Mercado Livre
Entre as ações fora do setor de commodities, o destaque positivo do dia foi Casas Bahia (BHIA3), que disparou após o anúncio de parceria com o Mercado Livre. O acordo permitirá que a varejista venda seus produtos diretamente na plataforma da empresa argentina, o que deve impulsionar as vendas e ampliar a exposição digital da marca. “A alta das Casas Bahia foi significativa e trouxe ânimo ao setor, enquanto a Magazine Luiza (MGLU3) recuou, refletindo a percepção de perda de espaço frente à concorrência”, comentou Filassi.
Cenário internacional e mercado de câmbio
Nos Estados Unidos, o clima também foi de recuperação. As bolsas de Nova York subiram após resultados corporativos acima do esperado, revertendo as perdas da véspera. O movimento global de maior apetite por risco, somado ao avanço das commodities, favoreceu moedas emergentes — o real entre elas. “As commodities em alta e o carrego doméstico elevado fortalecem o real, o que faz o dólar cair. Lá fora, o DXY recua e o Treasury de 10 anos gira perto de 4%, aliviando a pressão sobre emergentes. A expectativa por novas medidas fiscais no Brasil também ajuda o câmbio”, completou Filassi.
O que esperar para os próximos pregões?
Apesar do tom positivo, analistas destacam que o mercado segue atento à evolução das tensões geopolíticas e aos desdobramentos do pacote fiscal brasileiro. Se o petróleo mantiver o ritmo de alta, os ganhos do Ibovespa podem continuar, mas um eventual repique inflacionário global pode reacender a aversão ao risco. Por ora, o índice volta a flertar com os 146 mil pontos, sustentado pelas blue chips e pelo alívio no câmbio.