Os mercados internacionais iniciam a quinta-feira (23), com viés positivo, acompanhando a firme recuperação do petróleo após novas sanções americanas sobre empresas russas. A percepção imediata é de alívio para ativos ligados à energia e às commodities, enquanto investidores reavaliam o risco geopolítico e a liquidez global. Além disso, a sessão tende a refletir ajustes técnicos recentes que vinham pressionando setores cíclicos e exportadores.
No Brasil, a curva de juros futuros recua pela terceira vez seguida, ancorada em expectativas de inflação mais benignas e em preços ao consumidor potencialmente mais comportados. Nesse sentido, o IPCA-15 de outubro é aguardado com projeção de desaceleração para 0,24%, após 0,48% em setembro. Por outro lado, o alívio não elimina a cautela com o cenário fiscal e com a discussão sobre receitas e despesas, que segue intensa em Brasília.
O rali do petróleo muda o cenário de médio prazo para o mercado?
Para Marco Saravalle, CIO da MSX Invest, a leitura permanece pragmática. Ele avalia que a alta do petróleo tende a provocar uma reação positiva pontual nas bolsas, especialmente em papéis do setor de energia. Enquanto isso, o executivo pondera que a tendência de médio prazo segue pressionada e que o movimento atual se assemelha a um “suspiro técnico de curto prazo”. Em suas palavras: “O destaque do dia é o petróleo, mas a trajetória adiante ainda exige cautela”.
Macroeconomia e fiscal em foco no mercado
O mercado local segue de olho na economia doméstica. A divisão da MP 1.303 em dois projetos avança: uma frente voltada ao incremento de arrecadação, por meio da CSLL de fintechs, tributação de bets e ajustes no JCP e outra dedicada ao controle de gastos, a ser detalhada pelo Congresso. Enquanto isso, a Câmara aprovou urgência para elevar a taxação sobre apostas, o que acelera o debate.
Além disso, a combinação de inflação moderando e perspectiva de política monetária menos restritiva sustenta a queda dos DIs nos vencimentos médios. Nesse sentido, a precificação embute maior chance de início do ciclo de cortes em 2026, ainda que dados de atividade e arrecadação sigam determinantes para os próximos passos do Copom.
Temporada global e tensões internacionais
Lá fora, a abertura da temporada de resultados entre gigantes de tecnologia trouxe sinais mistos. A Tesla reportou lucro por ação de US$ 0,50, abaixo do consenso, enquanto a IBM superou o lucro, mas desapontou no crescimento de software, o que pressionou o humor no after market. Além disso, o anúncio de novas sanções dos Estados Unidos sobre Rosneft e Lukoil adiciona incerteza ao quadro energético global. Nesse sentido, a confirmação de encontro entre Donald Trump e Xi Jinping na Cúpula da Apec mantém no radar um possível gesto de diálogo comercial.
De olho no mercado: empresas em destaque
O noticiário corporativo doméstico reúne anúncios de dividendos, prévias operacionais, desinvestimentos e movimentos societários que afetam a percepção de risco e a geração de caixa das companhias. Além disso, algumas empresas avançam em desalavancagem e monetização de ativos, reforçando a disciplina de capital e a eficiência financeira.
- BrasilAgro (AGRO3): pagamento de dividendos de R$ 75 milhões, equivalente a R$ 0,75 por ação, com data de pagamento em 28 de novembro.
- Raízen (RAIZ4): moagem de 35,1 milhões de toneladas na safra 2025/26, alta de 6,7%, com produção de etanol de segunda geração em forte expansão e mix de 56% açúcar e 44% etanol.
- Klabin (KLBN11): criação de SPE imobiliária no Paraná, com aporte de R$ 300 milhões por investidor institucional e contribuição de 15 mil hectares pela companhia, apoiando a desalavancagem.
- Qualicorp (QUAL3): anuência da ANS para a venda de 100% da Gama Saúde, simplificando a estrutura e focando o core business de planos coletivos.
- Assaí (ASAI3): prévia do terceiro trimestre indica redução de R$ 0,5 bilhão na dívida líquida, com alavancagem de 3,03x — o menor nível desde 2021.
- Petrobras (PETR3, PETR4): arremate dos blocos Jaspe e Citrino, na Bacia de Campos, no terceiro ciclo da Oferta Permanente da ANP, com bônus de R$ 37 milhões, alinhado à recomposição seletiva de reservas.
- Copel (CPLE6): conclusão da venda da UHE Baixo Iguaçu para a Energo-Pro, por R$ 1,68 bilhão, reforçando liquidez e eficiência pós-privatização.
- Sanepar (SAPR4, SAPR11): aumento de participação da BlackRock para 5,23% das preferenciais, sinalizando confiança de longo prazo.
- Enjoei (ENJU3): possibilidade de grupamento de ações caso o preço permaneça abaixo de R$ 1 até abril de 2026, conforme exigência da B3.
- Banestes (BEES3, BEES4): negociação exclusiva com o consórcio World Lottery para explorar operações de loterias, movimento que pode diversificar receitas.
Como o investidor pode aproveitar o momento?
Segundo Saravalle, a sessão tende a beneficiar papéis ligados ao petróleo e exportadores que se aproveitam de preços de commodities em recuperação. Além disso, eventos corporativos que reforçam desalavancagem e monetização de ativos, como os vistos em Klabin e Copel, continuam bem avaliados por investidores focados em qualidade de balanço. Por outro lado, ele recomenda calibrar expectativas, pois a tendência estrutural do petróleo e o debate fiscal doméstico ainda sugerem volatilidade.
Nesse sentido, a agenda de inflação e as discussões no Congresso sobre receitas e despesas permanecem determinantes para a curva de juros e para os múltiplos de valuation. Enquanto isso, a consolidação de resultados do quarto trimestre e a visibilidade sobre 2026 devem orientar revisões de lucro e recomendações de mercado. Além disso, companhias com geração de caixa resiliente e estrutura de capital sólida tendem a atravessar melhor possíveis choques externos ou mudanças regulatórias.
O avanço do petróleo pode ser um catalisador tático para setores específicos; porém, a construção de portfólios robustos segue baseada em fundamentos operacionais, disciplina de capital e análise criteriosa de preço versus qualidade.