O Ibovespa encerrou a segunda-feira (20) com valorização de 0,77%, aos 144.509 pontos, acompanhando o otimismo dos mercados internacionais e o movimento de queda do dólar. O clima positivo foi impulsionado pelo bom desempenho das bolsas asiáticas e americanas, além da expectativa de avanços nas negociações comerciais entre Estados Unidos e China. O volume financeiro negociado na B3 somou R$ 18,3 bilhões.
Além do ambiente externo favorável, o mercado doméstico reagiu à redução dos juros futuros e à divulgação do Boletim Focus, que mostrou nova queda nas expectativas para a inflação. A combinação desses fatores beneficiou ações de consumo, construção e varejo, impulsionando o índice. No entanto, analistas destacam que o cenário fiscal e político segue no radar, especialmente com o avanço de medidas populistas do governo às vésperas das eleições de 2026.
O que impulsionou o Ibovespa no pregão desta segunda-feira?
Segundo Alison Correia, analista de investimentos e cofundador da Dom Investimentos, o movimento de alta no Ibovespa reflete uma conjunção de fatores globais e domésticos. “O índice sobe hoje seguindo as bolsas americanas, que estão em alta. Aqui ainda temos expectativas em relação ao desdobramento das mudanças da postura do Trump em relação ao Brasil, efetivamente esperando o tombo de parte dessas taxações. Trump pode ser que se encontre com o Lula na Malásia. O Lula está indo para lá, vai ficar uma semana fora, mas ainda não tem nada de concreto”, afirmou.
O analista destacou ainda o desempenho expressivo das bolsas asiáticas. “A Ásia fechou com recorde de alta. Os preços no Japão subiram fortemente, quase 4%. A bolsa japonesa, o índice Nikkei, não é uma bolsa que oscila tanto, então toda vez que ela se movimenta de uma forma muito forte chama bastante atenção. Isso ocorreu por um acordo entre os principais partidos políticos, que resolveram fazer um movimento de coalizão para criar medidas econômicas importantes, animando os investidores que saíram tomando risco nos papéis por lá.”
Como o cenário internacional influenciou o mercado brasileiro?
De acordo com Correia, a onda de otimismo se espalhou para outras praças do continente. “Xangai, Hong Kong, Coreia e Austrália também subiram. Então a Ásia começa a semana já em alta. Na Europa, tivemos várias movimentações positivas, com exceção da França, que teve queda motivada talvez pelo roubo do Louvre”, comentou. O tom leve e descontraído do comentário reflete um mercado atento, mas confiante no curto prazo.
Enquanto isso, o petróleo operou em baixa, mesmo diante da retomada de tensões no Oriente Médio. “Após o cessar-fogo entre Hamas e Israel, houve novos ataques dos dois lados, um jogando a culpa no outro. Ou seja, nitidamente o acordo é fraco. Essa região é muito turbulenta, mas não está fazendo preço, então o petróleo cai”, explicou o analista. Por outro lado, o ouro mantém forte valorização: “O ouro não para de subir, já sobe mais de 65% só este ano, e pode atingir o pico dos anos 70. O Goldman Sachs projeta que o metal atinja quase US$ 5 mil até o final do ano que vem.”
O que dizem outros especialistas sobre o movimento da Bolsa?
Para o planejador financeiro e especialista em investimentos Caio Mitsuo, o mercado também reagiu à sinalização de estabilidade monetária nos Estados Unidos. “Após os mercados fecharem no negativo ontem, o Ibovespa hoje segue no positivo. Mais uma vez, Trump afirmou que não haveria tarifa de 100% contra a China, o que foi confirmado pelo secretário do Tesouro e animou os mercados. A questão dos bancos regionais esfriou, com o mercado entendendo que o Fed vai intervir fornecendo liquidez, o que reduz o temor de uma crise de crédito”, explicou.
Quais setores mais se destacaram na B3?
Com a queda dos juros futuros e o Focus indicando inflação mais baixa — de 4,72% para 4,70% —, os setores de consumo, construção e varejo se beneficiaram, impulsionando papéis como Yduqs, Natura, Direcional, Cyrela e Cogna. Já o setor de saúde foi o destaque negativo: as ações da Fleury (FLRY3) recuaram 4,3% após rumores de que a Rede D’Or São Luiz (RDOR3) teria suspendido negociações para uma possível fusão.
Perspectivas para os próximos dias: o que acompanhar?
Correia ressalta que a semana começa com agenda econômica mais fraca, mas com temas relevantes no radar. “Temos todo um contexto positivo para os nossos mercados. A agenda é fraca, sem grandes dados para o dia, mas teremos o anúncio de novos pacotes do governo, como o de auxílio-reforma. Com as eleições de 2026 se aproximando, o mercado vai acompanhar de perto essas medidas, já que não está claro como o governo vai fechar o rombo de 2025 e 2026”, afirmou.
Enquanto isso, a expectativa de juros menores segue sustentando o bom humor. A Bolsa acumula valorização de cerca de 20% em 2025, mas a manutenção desse ritmo dependerá da responsabilidade fiscal do governo e da evolução das negociações comerciais internacionais.
- Ibovespa: +0,77%, aos 144.509 pontos
- Dólar comercial: -0,63%, a R$ 5,37
- Vale (VALE3): +1,28%
- Bradesco (BBDC4): +1,87%
- Fleury (FLRY3): -4,30%
- Volume financeiro: R$ 18,3 bilhões
Em síntese, a segunda-feira marcou um pregão de otimismo moderado, sustentado por fatores externos e internos. A recuperação dos mercados asiáticos e americanos, aliada à percepção de inflação mais controlada, reforçou a confiança dos investidores — mas a cautela política e fiscal ainda é a palavra de ordem para as próximas sessões.