A China anunciou com pompa e convicção que seu PIB cresceu 4,8% no terceiro trimestre de 2025. Para os desavisados, o número pode até parecer plausível — afinal, o regime chinês tem por hábito atingir suas metas “de cerca de 5%” com a mesma precisão que um relógio suíço. Mas a diferença é que na Suíça o relógio marca o tempo; na China, ele marca a narrativa.

O crescimento que não existe
Os dados industriais contam uma história bem menos gloriosa. A utilização da capacidade industrial, há anos emperrada entre 73% e 75%, revela um país que produz abaixo de seu potencial. Para qualquer economia madura, isso seria sinal de alerta; para a China, é apenas mais uma oportunidade de “ajuste estatístico”.
A produção de cimento, indicador bruto e honesto do que realmente se constrói, caiu mais de 35% desde 2021. Enquanto o governo fala em crescimento, as obras estão paradas e os investimentos em infraestrutura no chão — literalmente.

A indústria parada e o PIB de laboratório

A produção industrial patina desde 2022, e o índice de novas ordens segue no limite da contração, entre 48 e 50 pontos. Mesmo assim, o PIB oficial cresce. Milagre? Não. Apenas engenharia contábil.
Como? Simples: inflando estoques de produtos não vendidos. Na prática, o país está produzindo para os depósitos — não para o consumidor.


Esse é o tipo de “crescimento” que só existe nas planilhas: o PIB sobe, mas os armazéns enchem e a economia real esvazia.
O colapso fiscal invisível

Os dados de receita do governo desmontam qualquer ilusão. A arrecadação despencou em 2025, voltando aos níveis de 2020. É um contrassenso completo: uma economia que cresce quase 5% não perde receita — a menos que o crescimento seja apenas digital, e não econômico.
Enquanto a arrecadação cai, o governo injeta crédito, força estímulos e “corrige” os dados oficiais para salvar a meta. O resultado é uma economia cada vez mais endividada, menos produtiva e estatisticamente triunfante — uma espécie de teatro macroeconômico de Pequim.
A aritmética do autoritarismo
Em regimes autoritários, até o PIB obedece. Quando o número real não agrada, muda-se o número — não a realidade. A meta de 5% não é uma projeção econômica; é um mandamento político. Os técnicos apenas tratam de fazer as contas baterem, custe o que custar.
Por isso, o “crescimento” chinês se parece cada vez mais com uma simulação econômica em modo propaganda. Enquanto o mundo tenta entender os fundamentos, Pequim aperfeiçoa a arte de fabricar resultados. É o keynesianismo com características chinesas — sem consumo, sem transparência e sem oposição.
A verdade incômoda
Os dados não mentem. A China real cresce entre 2,2% e 3,1%. O resto é ruído, maquiagem e vontade política.
A diferença entre o número oficial e o real é o espaço onde o Partido esconde sua vulnerabilidade: endividamento, envelhecimento e exaustão do modelo exportador.
O império que durante décadas impressionou o mundo pela eficiência, hoje impressiona pela capacidade de iludir. A propaganda ainda é eficiente — o crescimento, nem tanto.
Conclusão
O PIB chinês não é mais um indicador econômico; é um instrumento de narrativa. Enquanto o mundo lê 4,8%, a China real desacelera, a confiança desaba e a arrecadação evapora. É um caso emblemático de crescimento de planilha, não de economia.
Pequim ainda pode ordenar que o PIB cresça. Mas não há decreto capaz de reanimar uma economia que perdeu tração, fé e credibilidade. O relógio chinês continua marcando 5%. Só que há tempos ele parou de marcar a realidade.