O Ibovespa fechou esta sexta-feira (17) em forte alta de 0,84%, aos 143.398 pontos, após uma sequência de volatilidade no início da semana. Com o movimento, o principal índice da Bolsa brasileira acumulou ganho semanal de 1,93%, em meio à melhora do humor internacional e à trégua no discurso tarifário dos Estados Unidos contra a China.
No câmbio, o dólar comercial recuou 0,69%, cotado a R$ 5,405, em um pregão de enfraquecimento global da moeda americana. Já os juros futuros seguiram estáveis, com leve viés de baixa, refletindo tanto o alívio no exterior quanto a percepção de que o cenário fiscal brasileiro segue limitando quedas mais acentuadas.
Trump e Fed devolvem otimismo aos mercados
Após uma quinta-feira negativa, os investidores reagiram à fala do ex-presidente Donald Trump, que afirmou não haver planos para impor uma tarifa de 100% sobre produtos chineses. A declaração foi reforçada pelo secretário do Tesouro americano e contribuiu para reduzir a aversão ao risco. Além disso, o presidente do Fed de St. Louis, Alberto Musalem, indicou abertura para novo corte de juros em outubro, reforçando o ambiente de liquidez global.
Segundo Caio Mitsuo, planejador financeiro e MBA em Finanças pela FBNF, “no final do pregão, as influências de ontem começaram a se desdobrar. Trump veio com um taco e afirmou que não haveria tarifa de 100% contra a China, o que animou os mercados. Já a questão dos bancos regionais, na minha visão, esfriou com o mercado entendendo que mais uma vez o Fed vai intervir fornecendo liquidez”.
Quem se destacou no pregão de hoje?
Entre as maiores altas do dia, WEG (WEGE3) subiu mais de 4%, refletindo a reação positiva à aquisição de mais da metade da Tupinambá Energia. “O mercado ainda repercute bem essa compra, em um ambiente de bom humor local”, destacou Mitsuo. Também avançaram as ações da PRIO (PRIO3), com alta superior a 5%, após a retomada da produção no campo de Peregrino, e de Petrobras (PETR4), que encerrou em leve alta de 0,95%.
Por outro lado, Totvs (TOTS3) e Klabin (KLBN11) registraram quedas inferiores a 2%. “Klabin é sempre impactada quando o dólar cai, pois a maior parte de suas receitas é dolarizada. Já Totvs passa por uma realização natural, após se valorizar mais de 50% nos últimos 12 meses”, observou o especialista.
O que explica o movimento do dólar e dos juros?
Durante a manhã, o dólar chegou a operar em alta, refletindo as incertezas externas que pressionaram os ativos na véspera. No entanto, ao longo do dia, o índice DXY perdeu força, mesmo com a valorização das Treasuries. “Com expectativa de queda dos juros nos EUA, o dólar vem enfraquecendo frente à maioria das moedas. Esse diferencial de juros favorece o carry trade e ajuda na entrada de dólares no mercado brasileiro”, avaliou Mitsuo.
Os títulos públicos atrelados ao IPCA de longo prazo, por outro lado, voltaram a subir, evidenciando o baixo apetite dos investidores por papéis longos. “Nosso cenário fiscal não permitirá, mais uma vez, que possamos nos beneficiar do contexto global de queda dos juros longos”, pontuou.
Como o cenário global influenciou a semana?
O clima de cautela que dominou os mercados nos últimos dias foi marcado por três frentes principais: o impasse tarifário entre EUA e China, o prolongamento do shutdown americano e as incertezas sobre o sistema bancário regional nos EUA. Mitsuo destacou que “começamos a semana com mais um atrito entre Estados Unidos e China, relacionado a tarifas e terras raras. O shutdown segue, mas não tem feito preço no mercado”.
Além disso, a divulgação do Livro Bege mostrou sinais de arrefecimento da economia norte-americana, fortalecendo as apostas em uma queda de 50 pontos-base nos juros em dezembro. “Minha visão é de que poderemos encerrar 2026 com juros em torno de 2,85%. Tudo isso fortaleceu o S&P 500, que subiu quase 2,5% na semana, puxado pela temporada de balanços”, completou.
“TBT de 2023” e ouro em alta: proteção e medo no radar
Um episódio que chamou atenção foi a nova crise de confiança em bancos regionais norte-americanos, que fez o índice de volatilidade VIX saltar de 25 para quase 30 pontos. “É um verdadeiro TBT de 2023. O Fear & Greed Index mostra extremo medo, tanto para ações quanto para o mercado cripto”, disse Mitsuo. “Na minha visão, esse último taco trade do Trump ocorreu porque ele não quer deixar o S&P cair. A poupança do americano está alta, e ele precisa dessa confiança dos investidores.”
O ouro, por sua vez, registrou quinta alta consecutiva na quinta-feira, com leve realização hoje. “Minha tese é de que o ativo está sendo usado como proteção às moedas fiduciárias, pois os governos estão cada vez mais endividados, sem ajustes fiscais. Além disso, o ouro protege o patrimônio contra a inflação”, concluiu.
Quais dados e eventos o mercado deve monitorar agora?
Na agenda doméstica, o IBC-Br veio com crescimento abaixo do esperado, sinalizando enfraquecimento da economia, mas as vendas no varejo registraram leve alta de 0,2% em agosto, revertendo quatro quedas consecutivas. As expectativas de inflação para 2026 seguem estáveis.
Na próxima semana, o foco será a temporada de balanços, que começa com a WEG na quarta-feira, seguida por Usiminas e AgroGalaxy. No exterior, o mercado acompanha o índice de preços ao consumidor (CPI) dos EUA e os desdobramentos do shutdown em Washington.
Resumo da semana: sinais de alívio, mas atenção fiscal
Em resumo, o Ibovespa encerra uma semana de recuperação, sustentado pela melhora no apetite global por risco e pela trégua nas tarifas comerciais. Ainda assim, a fragilidade fiscal brasileira e a volatilidade externa seguem no radar, podendo limitar avanços mais consistentes nas próximas semanas.