O Ibovespa encerrou a sessão desta quinta-feira (16 de outubro de 2025) em queda de 0,28%, aos 142.200,02 pontos. O desempenho negativo refletiu o ambiente global de cautela e, principalmente, as incertezas fiscais no Brasil, que mantêm os investidores em compasso de espera por medidas de equilíbrio das contas públicas. Além disso, a percepção de que a taxa Selic deve permanecer elevada por mais tempo também pesou sobre o mercado.
No exterior, tensões comerciais e preocupações com a saúde financeira dos bancos norte-americanos reduziram o apetite global por risco. Nesse sentido, o cenário doméstico adicionou um componente político à equação, com o mercado acompanhando de perto discussões sobre a sucessão no Supremo Tribunal Federal (STF) e as dificuldades do governo em avançar com medidas fiscais no Congresso.
Por que a Selic alta afeta tanto o Ibovespa?
Para o economista Danilo Coelho, especialista em investimentos e MBA em Finanças pela FBNF – Faculdade Brasileira de Negócios e Finanças, o principal fator de pressão sobre o índice é a perspectiva de manutenção dos juros altos por um período prolongado. “Na minha visão, o que mais tem impactado o Ibovespa é a expectativa de que podemos ter a taxa Selic em patamar elevado por mais tempo, diante das preocupações com o fiscal”, afirma.
Segundo ele, o mercado aguardava um ajuste nas receitas com o projeto de lei que tratava da tributação de investimentos e da revisão de isenções financeiras. “Como essa proposta caducou no Congresso, o governo precisará gastar mais capital político para reenviar ou substituir o texto, o que aumenta o desgaste político em outras frentes, como a indicação de novos ministros ao STF”, explica o economista.
Além disso, Coelho destaca que o prolongamento dos juros altos, aliado à incerteza fiscal, penaliza as ações de setores mais sensíveis ao crédito. “Vemos quedas expressivas em papéis de varejo, consumo e construção civil. Por outro lado, empresas de setores mais estáveis, como energia elétrica e saneamento, tendem a se beneficiar desse cenário, por contarem com receitas mais previsíveis.”
Diplomacia e fluxo estrangeiro ajudam a conter perdas
Enquanto isso, o economista ressalta que o encontro do secretário Rubio com o chanceler Mauro Vieira trouxe um respiro ao mercado. “Há expectativa positiva quanto a um possível alívio nas taxações. Esse diálogo ajuda a segurar a Bolsa, que poderia ter uma queda mais acentuada hoje”, afirma Coelho. Ele acredita que a retomada do diálogo entre Brasil e Estados Unidos pode reduzir tensões comerciais e melhorar o clima para investimentos.
Outro ponto observado é a entrada consistente de capital estrangeiro, mesmo em meio à queda do índice. “O juro real brasileiro segue entre os mais altos do mundo, o que atrai investidores em busca de rentabilidade. Esse fluxo vem mais pelo carrego da taxa de juros do que por uma melhora no cenário doméstico”, analisa o especialista.
Quais setores e ações se destacaram no pregão?
Apesar do tom negativo, alguns papéis conseguiram limitar as perdas do índice. Confira os destaques do dia:
- Bradesco (BBDC4): +1,15%
- Banco do Brasil (BBAS3): +0,25%
- WEG (WEGE3): +2,70%, após anúncio de investimento em recarga elétrica
- Vale (VALE3): -0,92%
- Petrobras (PETR4): -1,01%
- Magazine Luiza (MGLU3): -7,97%
- Assaí (ASAI3): -3,57%
Indicadores do dia e o que esperar amanhã
O dólar comercial fechou em queda de 0,36%, cotado a R$ 5,442. Os juros futuros apresentaram movimento misto, com leve alta nos vencimentos longos. Já o IBC-Br de agosto mostrou recuperação após três meses de retração, embora o resultado tenha vindo abaixo das expectativas.
Para o próximo pregão, os investidores devem acompanhar os desdobramentos da reunião diplomática entre Brasil e Estados Unidos e os dados de inflação na Europa. Nesse sentido, o desempenho do Ibovespa poderá depender tanto do cenário externo quanto da sinalização do governo sobre novos avanços na política fiscal.