O início da semana foi marcado por uma recuperação moderada no mercado financeiro global, com o Ibovespa registrando um avanço de 0,78%, alcançando 141.783,36 pontos. Esse movimento refletiu, em parte, uma resposta às recentes declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que suavizou seu tom em relação à China após ameaças de novas tarifas. Essa atitude trouxe alívio temporário aos mercados que vinham sendo pressionados pela incerteza sobre a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo.
As oscilações no discurso de Trump têm sido um fator significativo na volatilidade dos mercados. Na semana anterior, suas ameaças contra a China haviam desanimado os investidores, mas uma reviravolta no fim de semana amenizou o impacto negativo. O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, reforçou essa posição, afirmando que novas tarifas contra produtos chineses não seriam necessárias, uma vez que as negociações entre as duas nações foram retomadas.
Poderá o Ibovespa sustentar o momento positivo?
Embora o mercado brasileiro tenha tido um início de semana positivo, os analistas ressaltam que o cenário ainda requer cautela. O banco JPMorgan, por exemplo, alerta que a volatilidade observada recentemente pode resultar numa redução de alavancagem por parte de fundos, o que, por sua vez, pode desencadear vendas adicionais de ativos. Isso sugere que o caminho para uma recuperação consistente ainda é incerto, apesar do alívio temporário proporcionado pelo recuo de Trump.
Fabio Louzada, economista, planejador financeiro e fundador da FBNF – Faculdade Brasileira de Negócios e Finanças, analisou que o Ibovespa segue em alta hoje acompanhando o otimismo externo após Trump adotar um tom mais tranquilo em relação a taxar a China. Segundo Louzada, as tensões devem se amenizar, já que o presidente americano deixou claro que os EUA não querem prejudicar a China, mas sim ajudá-los, mesmo após o anúncio de tarifas adicionais de 100% sobre importações chinesas. O especialista destaca ainda que Vale e Petrobras têm forte influência nesse movimento positivo devido à alta de minério de ferro e petróleo, levando atrás delas companhias como Brava Energia e PetroRecôncavo. Ele ressalta que, do lado doméstico, o Boletim Focus colaborou para o clima de otimismo ao apresentar queda na projeção da inflação de 4,80% para 4,72%, enquanto a Selic permanece em 15% pela décima sexta semana consecutiva.
Segundo Louzada, o mercado hoje vive um dia de correção após a queda marcada na última sexta-feira, fortemente motivada pelas ameaças de Trump contra a China. O especialista observa que o dólar também recua, depois de uma alta significativa, e que a queda dos juros futuros impulsiona ações dos setores de varejo, consumo e construção civil, como CEAB3, CVCB3, LREN3, NATU3, CURY3 e DIRR3. Entre as quedas, a MRV se destaca negativamente, impactada pela prévia de resultados. Ele aponta ainda que o mercado segue monitorando com atenção o risco de um novo shutdown nos EUA e a questão fiscal no Brasil, especialmente após a rejeição da MP 1303, que pretendia tributar investimentos, aumentando a preocupação com o rombo fiscal. No entanto, a ausência de novidades no âmbito fiscal contribui para que o clima não se deteriore ainda mais neste início de semana.
Ouro em alta: um refúgio em tempos de incerteza?
Com a persistente incerteza global, o ouro continua sua trajetória de valorização, atingindo marcas históricas acima dos $4.000. Este movimento reflete a busca dos investidores por segurança em tempos de volatilidade do mercado financeiro. O metal precioso reforça sua posição como um ativo de refúgio em tempos de incerteza econômica e geopolítica. Segundo Fabio Louzada, o ouro também é favorecido pelas incertezas sobre um possível corte dos juros nos EUA e a ameaça de shutdown, ampliando o movimento de alta recente.
Preocupações internacionais impactam o cenário econômico global?
Além da questão comercial entre EUA e China, outros eventos internacionais também estão no radar dos investidores. Na Europa, apesar do otimismo inicial, as crises políticas, como a vivida na França, ainda rondam os mercados. No entanto, o discurso conciliador de Trump e a retomada das conversas com a China, contribuem para um horizonte de curto prazo mais positivo.
No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumpre agenda em Roma, discutindo temas como a mudança climática e fome global. Tais encontros internacionais podem representar uma oportunidade de fortalecimento das relações diplomáticas e cooperação global, o que é crucial para a estabilidade econômica em tempos de incerteza crescente.
Nas próximas semanas, a atenção dos mercados estará voltada para a evolução das negociações entre Washington e Pequim, além das ações do Federal Reserve e outros bancos centrais em relação às políticas monetárias. A volatilidade permanece como um componente chave, exigindo atenção redobrada dos investidores frente aos desdobramentos no cenário global e nacional.