O dólar voltou ao centro do debate com a piora do quadro fiscal e as incertezas em Brasília. A avaliação de Beto Saadia, da Nomos, é que o câmbio pode acelerar se a responsabilidade fiscal não avançar. Investidores acompanham precatórios, metas e eventuais mudanças tributárias que podem influenciar diretamente a moeda.
Nesse contexto, a combinação de pressão nas contas públicas e déficits externos mantém a atenção redobrada. Além disso, choques internacionais podem gerar alívios pontuais, mas não substituem um roteiro doméstico crível. Por outro lado, a coordenação entre política fiscal e monetária pode conter volatilidade e reduzir a oscilação do câmbio.
Quais fatores estão pressionando o câmbio?
Segundo Saadia, a deterioração fiscal é um dos vetores mais relevantes para o dólar. Discussões sobre precatórios, alteração de metas e medidas arrecadatórias de curto prazo elevam prêmios de risco. Enquanto isso, a balança de bens físicos enfrenta receitas mais fracas, o que reduz amortecedores cambiais e amplia a exposição do real.
Além disso, o déficit em serviços vem se ampliando, impulsionado por setores como tecnologia e royalties. Essa pressão nas contas externas diminui a folga do setor externo e aumenta a sensibilidade do real a choques. Nesse sentido, mesmo eventuais respiros vindos do exterior tendem a ser temporários se a âncora fiscal continuar frágil.
Responsabilidade fiscal é decisiva?
Para o especialista, a trajetória de gastos e receitas precisa ser comunicada com clareza e metas verificáveis. A previsibilidade fiscal ajuda a achatar prêmios na curva de juros e reduz o pass-through cambial. Além disso, reformas que simplifiquem o ambiente de negócios favorecem o investimento e a entrada de capital estrangeiro.
Por outro lado, medidas casuísticas e remendos arrecadatórios aumentam a incerteza de planejamento. A interação com a política monetária também é essencial: juro real elevado sem credibilidade fiscal tem eficácia limitada para estabilizar o câmbio. Nesse sentido, o mercado cobra um roteiro integrado que una orçamento, metas e execução efetiva.
Qual patamar o dólar pode alcançar ainda neste ano?
Saadia avalia que o vetor doméstico tende a prevalecer sobre os movimentos de curto prazo vindos do exterior. Se o risco fiscal permanecer elevado e a arrecadação surpreender negativamente, o dólar pode buscar níveis mais altos. Por outro lado, uma sinalização firme de responsabilidade orçamentária pode limitar a depreciação e reduzir a volatilidade.
Enquanto isso, fatores como crescimento global, ritmo de atividade na China e decisões de política monetária nos Estados Unidos seguem no radar. Eventuais episódios de aversão a risco podem acelerar fluxos para moedas fortes. Ainda assim, o efeito duradouro sobre o real dependerá do fortalecimento da âncora fiscal doméstica.
Como as decisões políticas influenciam o mercado financeiro?
O desenho de medidas tributárias e a gestão de passivos judiciais moldam expectativas. Alterações em IOF ou regras de precatórios impactam a percepção de solvência e a confiança dos investidores. Além disso, a qualidade da comunicação oficial importa: quando as diretrizes mudam com frequência, o prêmio exigido pelos investidores aumenta e a moeda tende a refletir esse custo.
Nesse sentido, a coordenação entre Tesouro e Banco Central reduz ruído. A sinalização consistente de metas, limites e prazos ajuda a alinhar expectativas e diminui a necessidade de movimentos abruptos de juros para defender o câmbio. A transparência de dados fiscais e orçamentários também contribui para ancoragem de preços e previsibilidade do mercado.
O que observar no curto prazo?
- Tramitação de medidas fiscais e definição de metas com cronogramas claros;
- Resultados de arrecadação e execução do gasto público, medidos contra o guia oficial;
- Trajetória da balança comercial e do déficit em serviços, incluindo tecnologia e royalties;
- Comunicações do Banco Central e do Tesouro sobre dívida e estratégia de financiamento.
Quais estratégias de investimento considerar?
Em ambiente de incerteza, a diversificação é essencial. Combinações entre pós-fixados, títulos indexados à inflação e posições táticas em prefixados ajudam a equilibrar risco e retorno. Além disso, empresas com baixa alavancagem, geração de caixa robusta e menor sensibilidade ao câmbio tendem a oferecer maior resiliência.
Por outro lado, exportadoras podem se beneficiar de um real mais fraco, desde que o ambiente global não piore a ponto de reduzir volumes. Investidores também monitoram proteções cambiais, sobretudo para portfólios com exposição relevante a insumos importados. A gestão ativa de prazos, duration e indexadores segue como ferramenta importante.
Conclusão: qual o fio condutor para o dólar?
O comportamento do dólar até o fim do ano dependerá do equilíbrio entre risco fiscal e cenário externo. Sem responsabilidade orçamentária e metas críveis, o câmbio tende a permanecer sob pressão. Por outro lado, um roteiro fiscal consistente pode reduzir prêmios, estabilizar expectativas e aliviar a volatilidade.
Em síntese, a chave é a combinação de previsibilidade fiscal, comunicação clara e coordenação com a política monetária. Esse conjunto é o que pode limitar a depreciação do real, destravar prazos de financiamento e melhorar o ambiente para investimento produtivo.
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