O Ibovespa acumulou nesta semana uma baixa de 2,44%, encerrando a sexta-feira (10) aos 140.680 pontos. O resultado reflete a combinação de incertezas fiscais no Brasil e um aumento da aversão ao risco no exterior. Além disso, a escalada do dólar, que avançou 2,39% e fechou cotado a R$ 5,50, reforçou o tom negativo dos mercados domésticos. O movimento ampliou as perdas de outubro, que já somam 3,8%.
Enquanto isso, no cenário internacional, as bolsas dos Estados Unidos e da Europa recuaram após declarações do ex-presidente Donald Trump sobre novas tarifas à China reacenderem temores de uma guerra comercial. O S&P 500 caiu 2,71%, interrompendo uma sequência de ganhos, e o petróleo tipo Brent acumulou queda de 3,82% na semana, pressionando empresas de energia e contribuindo para o mau humor generalizado.
Como foi o comportamento dos mercados durante a semana?
Segundo Everton Dias, analista e sócio da Legado Investimentos, a semana começou promissora, mas terminou em correção. “Semana que caminhava nas bolsas globais em alta, mais uma vez com tendência de queda de juros nos Estados Unidos — duas quedas ainda previstas para este ano. O dólar continuava com tendência de queda no mundo inteiro, deixando os índices desacelerando em relação às principais moedas do mundo”, explicou.
Por outro lado, o analista observou que o mercado brasileiro se descolou desse movimento mais otimista. “Aqui no Brasil, o mercado descolou em relação à Bolsa global por causa das preocupações fiscais. A grande popularidade do presidente Lula, mostrada em pesquisas recentes, trouxe otimismo ao governo para aprovar medidas mais populares — o que preocupa o mercado em relação ao populismo e ao custo fiscal delas, principalmente”, avaliou Dias.
Ele também destacou alguns fatores positivos que, por pouco, não sustentaram o humor dos investidores: “Tivemos notícias boas em relação ao IPCA, que veio abaixo do esperado, e aumentou a expectativa de que a inflação volte para o centro da meta ainda neste ano. Isso poderia abrir espaço para uma discussão sobre juros menores até o final de 2025 ou início de 2026.”
O que mudou no final da semana?
De acordo com Dias, o cenário global virou rapidamente com a piora do clima político nos Estados Unidos. “Tudo caminhava bem até que o Trump se pronuncia sobre a China, aumentando o calor nas negociações e reacendendo a questão da guerra comercial. Isso fez o mercado inverter posições, com investidores buscando proteção no dólar e realizando lucros em bolsas americanas e europeias.”
Ele acrescenta que esse movimento teve reflexos imediatos no Brasil: “Com a realização lá fora, a bolsa brasileira acelerou a queda, porque muitas operações foram estopadas e viraram para venda. Assim, o final da semana acabou muito diferente do que começou — com o temor em relação à guerra comercial e à instabilidade política voltando ao radar.”
Quais setores mais sentiram a pressão?
O setor de energia liderou as perdas, com as ações da Petrobras caindo cerca de 1% na semana, acompanhando o recuo do petróleo Brent. Já o setor financeiro também pesou no índice, com quedas em Banco do Brasil (-2,74%) e Bradesco (-1,35%). Por outro lado, a Vale se manteve mais estável, sustentada pela alta do minério de ferro na China.
- Ibovespa: -2,44% (140.680 pontos)
- Dólar: +2,39% (R$ 5,50)
- Petróleo Brent: -3,82%
- S&P 500: -2,71%
O que esperar para a próxima semana?
Everton Dias acredita que a cautela deve permanecer no curto prazo. “O temor em relação a uma guerra comercial e à instabilidade política volta para o radar para a próxima semana. Isso pode continuar fazendo preço, trazendo o dólar para cima e a bolsa para baixo, tanto no Brasil quanto no mundo.”
Analistas avaliam que, no Brasil, a evolução do debate fiscal continuará sendo o principal vetor de volatilidade. Caso o governo sinalize medidas consistentes para reduzir o déficit e preservar o equilíbrio das contas públicas, há espaço para um alívio pontual nos ativos locais. Caso contrário, o Ibovespa pode estender o movimento de correção.
Em síntese, a semana que começou otimista terminou em ajuste, com investidores buscando refúgio em ativos mais seguros. O tom de cautela deve seguir predominando até que haja maior clareza política e econômica no Brasil e no exterior.