O mercado financeiro aguarda com atenção a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nesta quinta-feira (9). As projeções indicam uma nova aceleração da inflação no mês de setembro, impulsionada principalmente pelo fim do bônus de Itaipu e pela bandeira tarifária vermelha, que elevou o custo da energia elétrica nas residências. Ainda assim, analistas apontam que a alta tende a ser pontual, com o núcleo da inflação mostrando sinais de arrefecimento.
Segundo as estimativas do ASA e do Banco Daycoval, o índice deve apresentar variação próxima de 0,55% no mês. Em 12 meses, a taxa acumulada pode chegar a cerca de 5,24%, permanecendo acima do teto da meta de inflação estipulada pelo Banco Central, de 4,5%. Apesar disso, a composição do IPCA deve mostrar melhora qualitativa, especialmente no segmento de serviços, o que indica um quadro menos preocupante no médio prazo.
O que esperar do IPCA de setembro?
Para o economista Leonardo Costa, do ASA, a inflação de setembro deve subir 0,54%, com destaque para o aumento nas tarifas de energia elétrica. “A expectativa é de alta de 0,54% no mês, com energia elétrica como principal destaque, reflexo do fim do bônus de Itaipu e do acionamento da bandeira tarifária vermelha. Em 12 meses, a inflação deve subir para 5,24%, ainda operando acima do teto da meta do Banco Central, de 4,5%”, afirmou.
Costa destaca, no entanto, que há sinais positivos na composição dos preços. “Os núcleos devem perder fôlego, com melhora qualitativa em serviços. Itens como cinema e seguro de veículo devem ter contribuído para a desaceleração agora, mas devem voltar a pressionar em outubro”, explicou o economista. A leitura da ASA, portanto, é de que a alta de setembro está concentrada em fatores temporários, enquanto o comportamento subjacente da inflação permanece controlado.
Alta pontual, mas tendência de desaceleração
O Banco Daycoval compartilha uma visão semelhante, estimando uma alta de 0,55% no IPCA de setembro, também motivada pela energia elétrica. “Grande parte deste resultado decorre do fim dos descontos nas contas de energia elétrica proporcionado pelo bônus de Itaipu. Contudo, este movimento é temporário e não altera nossa expectativa de que a taxa de inflação encerre o ano em 4,9%”, diz o relatório da instituição. O banco ressalta ainda que o viés para o restante do ano é baixista, indicando tendência de desaceleração dos preços.
A casa também mantém a projeção de que a taxa Selic deve permanecer em 15% até o fim de 2025, considerando que o atual nível de juros segue adequado para controlar a inflação e garantir a convergência ao centro da meta nos próximos trimestres.
Quais grupos devem influenciar o resultado do IPCA?
De acordo com o Daycoval, alguns grupos terão impacto relevante no resultado do índice de setembro:
- Serviços: o fim dos descontos dos ingressos durante a “Semana do Cinema no Brasil” deve gerar pressão altista, enquanto as passagens aéreas e os serviços automotivos, em deflação, tendem a moderar a alta geral do grupo.
- Bens industriais: devem registrar aumento moderado, com destaque para o setor de vestuário, ainda que o grupo siga com comportamento considerado benigno.
- Alimentação no domicílio: segue como principal vetor de alívio, com deflação esperada em carnes, arroz, feijão, ovos, aves, pescados e hortaliças.
Nesse sentido, o banco observa que os itens intensivos em trabalho continuam sendo o principal desafio para o Banco Central, pois ainda exibem rigidez e resistência à desaceleração dos preços.
Inflação segue acima da meta, mas mercado vê cenário sob controle
Mesmo com a aceleração esperada em setembro, as projeções do mercado apontam que o quadro inflacionário segue sob controle. A combinação entre efeitos pontuais e uma melhora na dinâmica dos núcleos reforça a percepção de que o IPCA tende a voltar à trajetória de convergência no último trimestre do ano.
Por outro lado, a leitura acumulada em 12 meses, acima do teto da meta, mantém a atenção dos analistas voltada à condução da política monetária. O comportamento dos preços de energia e serviços será determinante para as próximas decisões do Banco Central, especialmente diante do cenário de juros elevados e expectativas de desaceleração global.
Enquanto isso, o mercado acompanhará atentamente a divulgação desta quinta-feira, que servirá como termômetro importante para calibrar as projeções de inflação e crescimento nos próximos meses. A expectativa é de que, apesar da pressão pontual, o IPCA volte a ceder gradualmente, reforçando a leitura de que o pior já passou para a inflação brasileira.