O mercado financeiro nesta sexta-feira (3) está em tom positivo, mas a leitura de analistas aponta que os desafios permanecem. Segundo análise de Marco Saravalle, CIO da MSX Invest, as bolsas internacionais sinalizam alta na abertura, embora a volatilidade continue marcada pela ausência de dados importantes nos Estados Unidos. Enquanto isso, o foco do investidor brasileiro recai sobre notícias corporativas que podem mexer com as expectativas em setores estratégicos da economia.
Além do cenário macro, Saravalle destacou que diversas companhias apresentaram novidades relevantes. Entre revisões de ratings, projeções de safra, calendário de resultados e mudanças em conselhos, o investidor precisa avaliar quais dessas informações representam oportunidades reais de longo prazo e quais são apenas movimentos de curto alcance. Nesse sentido, a leitura estratégica do mercado se mostra essencial.
Mercado de olho em Tupi e SLC: oportunidades ou desafios?
No setor industrial, a Tupy (TUPY3) teve a perspectiva revisada pela S&P de “estável” para “negativa”. A agência citou riscos no fluxo de caixa e maior pressão no setor de veículos comerciais, o que reforça um momento desafiador. Para Saravalle, embora a companhia seja um ativo barato em termos de valuation, a conjuntura atual justifica cautela. “É uma empresa resiliente, mas o momento exige cuidado adicional”, pontuou.
Já a SLC Agrícola (SLCE3) anunciou uma expansão de 13,6% na área plantada para a safra 2025/26, totalizando mais de 836 mil hectares após a incorporação da Sierentz. Apesar da projeção de crescimento, a pressão nos preços das commodities ainda reflete nas ações. Segundo Saravalle, a SLC é um ativo barato em termos patrimoniais, mas o mercado continua precificando de forma intensa o comportamento das commodities. “É um papel interessante para quem busca visão de médio e longo prazo”, destacou.
Vale e Embraer: quais as expectativas para o mercado?
O calendário da Vale (VALE3) segue como um dos destaques para outubro. A companhia divulgará seu relatório de produção do terceiro trimestre em 21/10 e o balanço em 30/10, com teleconferência prevista para o dia seguinte. O mercado deve acompanhar de perto o guidance atualizado para 2026, em meio às oscilações no preço do minério de ferro.
A Embraer (EMBR3), por sua vez, registrou 62 entregas no terceiro trimestre de 2025, superando tanto o mesmo período de 2024 quanto o resultado do trimestre anterior. O desempenho foi puxado principalmente pela aviação comercial, com 20 novos jatos, enquanto a executiva manteve ritmo sólido com 41 aeronaves. A companhia projeta para 2025 entre 77 e 85 entregas de aviação comercial e entre 145 e 155 de aviação executiva. “A Embraer tem se mostrado cada vez mais sólida, mas aguardamos valuations mais atrativos para novas entradas”, afirmou Saravalle.
Mudanças em governança e ajustes estratégicos
No segmento de varejo, a Lojas Quero-Quero (LJQQ3) confirmou a mudança na presidência do conselho de administração, com Christiano Galló assumindo o posto no lugar de Flávio Jansen. “O movimento já era esperado e reforça a profissionalização da governança corporativa. Além disso, a estrutura de capital confortável pode abrir espaço para aceleração na distribuição de dividendos, algo a ser monitorado de perto pelo mercado.“, avalia Saravalle.
Outra movimentação relevante veio da Natura (NATU3), que concluiu a venda das operações da Avon na América Central para o Grupo PDC. A empresa seguirá fornecendo produtos e licenciando a marca na região, em linha com sua estratégia de simplificação e foco em rentabilidade. Apesar de ter impacto financeiro limitado, a medida é considerada positiva no redesenho estratégico da companhia.
Quais os próximos passos para Klabin?
A Klabin (KLBN11) anunciou a contratação de uma nova linha de crédito rotativo de US$ 500 milhões, com vencimento em 2030, em substituição à anterior que venceria em 2026. As condições foram consideradas atrativas, com taxa Sofr +1,20% ao ano e commitment fee de 0,36%. A iniciativa reforça o alongamento da dívida e amplia a flexibilidade financeira da companhia, sinalizando consistência com uma visão de longo prazo.
Perspectivas para o investidor
De forma geral, Saravalle destacou que o mercado segue dividido entre duas forças: a expectativa de corte de juros nos Estados Unidos e a preocupação com a deterioração fiscal no Brasil. Esse equilíbrio de fatores deve manter a volatilidade elevada nos próximos pregões. “O investidor precisa avaliar o momento de cada ativo, entendendo quais empresas oferecem oportunidades reais de valorização patrimonial e quais ainda enfrentam obstáculos conjunturais”, concluiu.
Assim, o cenário corporativo desta sexta-feira mostra uma combinação de movimentos relevantes em empresas de setores estratégicos. Para o investidor atento, a leitura crítica e o acompanhamento das sinalizações do mercado seguem como diferenciais para boas decisões.