A ausência de indicadores cruciais como o payroll aumenta a incerteza sobre os próximos passos da política monetária dos Estados Unidos. O cenário atual é marcado pelo shutdown, que compromete a divulgação de dados fundamentais para orientar o Federal Reserve.
Em entrevista à BM&C News, o especialista em análise macro Fábio Fares destacou que a falta de informações deixa o mercado “como um piloto de avião que precisa pousar na neblina sem instrumentos”. Nesse contexto, a autoridade monetária pode ter que decidir entre cortes de 25 ou até 50 pontos-base na taxa de juros sem clareza sobre o desempenho real da economia.
Quais os riscos do shutdown para a economia americana?
Historicamente, os shutdowns nos Estados Unidos causaram impactos temporários no PIB, mas com recuperação nos meses seguintes. Em 2018, o mais longo da história, a paralisação durou 35 dias e resultou em perdas de cerca de US$ 13 bilhões. Segundo Fares, o efeito médio é de 0,1% a 0,2% sobre o PIB trimestral por semana de paralisação.
O especialista reforça, porém, que a diferença atual está no contexto de inflação e juros. “Naquele período tínhamos juros próximos de zero e outro cenário monetário. Agora, o Fed já iniciou um ciclo de cortes e observa sinais de desaceleração mais forte no mercado de trabalho”, explicou.
Mercado ignora política e mantém otimismo
Apesar das incertezas fiscais e do próprio shutdown, os índices acionários nos EUA seguem registrando avanços. Na semana, o S&P 500 e o Nasdaq alcançaram novas máximas históricas. Fares atribui esse movimento ao foco dos investidores nos fundamentos das empresas, e não na disputa política em Washington.
“O dinheiro está aplicado em companhias, não em políticos. A maioria das empresas americanas tem atuação global e não depende apenas do mercado interno”, destacou o analista, lembrando que fatores como inteligência artificial, avanços tecnológicos e resultados corporativos continuam sustentando o otimismo.
Quais fatores sustentam a alta das bolsas?
- Upgrade de ações de grandes empresas como Google e Apple por bancos de investimento
- Resultados acima do esperado da Tesla em vendas de veículos
- Valuation da OpenAI atingindo US$ 500 bilhões
- Expectativa de crescimento entre 5% e 6% nos lucros das empresas no terceiro trimestre
- Novos aportes de Warren Buffett, reforçando a confiança no mercado
Para Fares, o mercado “não aposta contra” esse conjunto de fatores, ainda que a política cause turbulências de curto prazo.
O que esperar da próxima reunião do Fed?
Com a decisão marcada para 30 de outubro, o Fed enfrenta o desafio de deliberar sem dados atualizados caso o shutdown persista. O ADP divulgado recentemente mostrou criação de vagas abaixo do esperado, além de revisões baixistas nos meses anteriores, reforçando sinais de desaceleração.
Fares avalia que o debate está restrito entre cortar 25 ou 50 pontos-base. “Com inflação controlada e sinais de fragilidade no mercado de trabalho, há uma grande chance de cortes mais agressivos. A confiança do consumidor já começa a ser pressionada pela perda de ritmo no emprego, e isso pode pesar no PIB nos próximos trimestres”, afirmou.
Conclusão
O cenário de shutdown prolongado torna a condução da política monetária nos Estados Unidos ainda mais complexa. De um lado, o Fed pode precisar agir de forma preventiva diante da desaceleração do mercado de trabalho. De outro, os mercados seguem valorizando a resiliência das empresas e o avanço da inovação tecnológica. Essa dicotomia entre política e fundamentos corporativos ajuda a explicar por que, mesmo diante de turbulências em Washington, os índices americanos seguem renovando máximas.
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