No pregão desta quinta-feira (02), os investidores estão atentos aos movimentos do cenário internacional, o cenário político brasileiro e às decisões corporativas no Brasil. O mercado acompanha a trajetória do petróleo, que recuou para a faixa dos US$ 65 dólares, gerando pressão sobre empresas do setor e ampliando a cautela em relação à exposição de curto prazo. A avaliação é de Marco Saravalle, CIO da MSX Invest, que destaca a necessidade de estratégias mais defensivas diante de um ambiente volátil.
Além disso, o executivo reforçou que, mesmo reconhecendo que alguns ativos estão baratos e com fundamentos sólidos, o momento não favorece posições mais curtas em determinados papéis. A estratégia top down adotada pela MSX tem priorizado alternativas com potencial de menor risco imediato, o que tem garantido, segundo ele, resultados consistentes para as carteiras. Nesse contexto, a visão da gestora é de que o investidor deve se manter seletivo diante das incertezas locais e globais.
Cenário político também no radar do mercado
No campo político, o destaque fica para a aprovação da ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para rendas de até R$ 5 mil, aprovada por unanimidade na Câmara dos Deputados. A medida beneficia cerca de 16 milhões de contribuintes, mas vem acompanhada de tributação adicional sobre altas rendas e remessas ao exterior, o que pode afetar o fluxo de capitais. Além disso, o relator Pedro Paulo (PSD) articula a apresentação de uma PEC e projetos complementares que compõem a reforma administrativa, com foco em digitalização, gestão e combate a privilégios no funcionalismo. Nesse sentido, o avanço ou a resistência dessas pautas será decisivo para a percepção de sustentabilidade fiscal e para a confiança dos investidores em Brasília.
O que explica a cautela no mercado?
“A perda de valor do petróleo afeta diretamente empresas ligadas ao setor, pressionando margens e afastando investidores de curto prazo“, avalia. Embora a análise de longo prazo ainda considere muitos desses ativos atrativos, o atual patamar de preços exige um reposicionamento estratégico. Nesse sentido, a MSX reduziu a exposição nessas ações e busca oportunidades em companhias que apresentem fundamentos mais resilientes no momento.
No campo corporativo, a quinta-feira também trouxe novidades relevantes. O anúncio do fechamento de capital da Monteiro Aranha chamou a atenção. A última negociação havia sido acima de R$ 100 por ação, mas a oferta apresentada aos acionistas para saída da B3 foi de R$ 75. A decisão reforça a dificuldade de empresas de baixa liquidez permanecerem no ambiente de bolsa, reduzindo ainda mais o número de listadas no Brasil.
Destaques corporativos no radar do mercado
- MBRF (MBRF3): concluiu etapa da aquisição da Gelprime, produtora de gelatina e colágeno, no valor de R$ 312,5 milhões. A participação chegará a 50% em novembro.
- Oncoclínicas (ONCO3): anunciou cancelamento de contrato de R$ 300 milhões para construção de hospital em São Paulo, liberando caixa e reforçando disciplina de capital.
- CPFL Energia (CPFE3): recebeu rating global BBB da Fitch, três níveis acima do soberano, sinalizando solidez financeira e acesso facilitado a crédito internacional.
- Randoncorp (RAPT4): teve rating reafirmado em brAAA pela S&P, mas com perspectiva negativa devido à queda nas vendas e expectativa de dívida/Ebitda próxima a 4x.
Enquanto isso, a Ambipar volta a ser tema de debate. O CIO da MSX lembrou que a gestora havia reduzido exposição no papel ainda quando estava na casa dos R$ 40. Naquele momento, a decisão gerou críticas, mas a deterioração recente e a queda de cerca de 50% desde então reforçam a visão de que os fundamentos não justificavam a valorização passada. Para Saravalle, esse episódio reafirma a importância de seguir uma metodologia clara e disciplinada no mercado.
Onde estão as oportunidades no mercado?
Saravalle destacou que, apesar das dificuldades, existem ativos que merecem atenção. Um exemplo é a Marcopolo, que mesmo após queda recente continua com fundamentos sólidos e boas perspectivas para o terceiro trimestre e o fechamento de 2025. “Níveis próximos a R$ 8,50 podem representar um ponto atrativo para novos aportes, especialmente para quem ainda não tem posição no papel“, pontua.
Por outro lado, ele ressaltou que o cenário macroeconômico mais desafiador exige paciência e disciplina. A volatilidade continua sendo um fator predominante e, por isso, recomenda-se prudência ao avaliar ativos com riscos de curto prazo mais elevados, como é o caso da Randon. “No longo prazo, nossa metodologia tem nos trazido ótimos resultados. É preciso respeitar fundamentos e não se deixar levar apenas pelo humor do mercado”, afirmou.