O debate sobre um possível quarto mandato de Lula, apelidado de Lula 4, ganhou destaque entre investidores e entre as entrevista do BM&C News. A discussão partiu da leitura de que parte do mercado já observa 2026 e questiona se “trade eleitoral” faz sentido agora, enquanto o ministro da Fazenda repete que não vê motivos de preocupação com o fiscal. Além disso, há dúvidas sobre quem enfrentará Lula nas urnas, em meio a movimentos de atores relevantes que afirmam não concorrer.
Nesse sentido, Fabrizio Velloni, economista-chefe Frente Corretora foi taxativo: o país “não aguenta mais aumento de gastos” e o risco fiscal é a variável mais sensível no radar. Por outro lado, ele compara o início do primeiro governo Lula, quando a herança de gastos era mais enxuta, com a piora ocorrida a partir do período Dilma, apontando que a trajetória atual exigiria uma mudança radical de postura para evitar deterioração. Enquanto isso, a percepção de que o arcabouço fiscal não se materializou plenamente alimenta a cautela.
O Brasil aguenta um “Lula 4” sob a ótica do fiscal?
Segundo Velloni, um novo mandato só seria bem recebido se viesse acompanhado de disciplina fiscal clara. “Sem cortes de despesas e sem uma âncora crível, a tendência é de déficits persistentes e pressão por mais arrecadação via impostos“, avalia. Além disso, o economista sugere que parte do aumento de receita tem sido nominal, sustentado por base inflacionada, e não resultado de crescimento real, o que limitaria o impacto no equilíbrio das contas.
O entrevistado avalia que, mantida a postura atual, o país poderia enfrentar piora de confiança, prêmio de risco mais alto e encarecimento do custo de capital. Nesse cenário, a dinâmica de juros permaneceria pressionada, com efeitos negativos sobre investimento e atividade, alimentando um ciclo que ele chama de “acíclico”, em que choques se retroalimentam e tornam a desaceleração mais difícil de reverter.
Quais pontos fiscais mais preocupam o mercado?
- Arcabouço fiscal: percepção de execução incompleta e dependência de receitas extraordinárias.
- Despesas: ausência de cortes estruturais e crescimento do gasto corrente.
- Carga tributária: elevação de alíquotas e criação/expansão de tributos como resposta de curto prazo.
- Credibilidade: risco de “contabilidade criativa” minar transparência e previsibilidade.
- Atividade: persistência de um crescimento moderado dificulta o ajuste pelo lado da receita.
O ajuste pode vir “via inflação”?
Questionado sobre a hipótese de ajuste “via inflação”, Fabrizio Velloni apontou alta probabilidade de tentativas de acomodação por meio de artifícios contábeis e deterioração gradual dos preços. Além disso, ele alertou que “maquiagens” funcionam por pouco tempo: cedo ou tarde, retornam como perda de confiança, queda de captação e, eventualmente, risco de rebaixamento de rating por fundamentos fiscais.
Nesse sentido, a sequência típica seria: percepção de “contabilidade criativa” → aumento do risco-país → pressão sobre juros de mercado → desestímulo ao investimento → atividade mais fraca → arrecadação aquém do esperado. Por outro lado, uma guinada para regras claras e cumprimento efetivo do teto/arcabouço poderia reancorar expectativas e aliviar o custo de financiamento.
Trade eleitoral agora ou espera?
Enquanto parte dos gestores evita “trade eleitoral” precoce, a discussão sobre 2026 segue na mesa. Além disso, há incertezas sobre o adversário de Lula e sobre se a pauta fiscal será central na campanha o que, segundo a entrevista, deveria ser o caso. Por outro lado, o mercado tende a precificar cenários gradualmente, à medida que nomes, programas e alianças ganham clareza.
Na prática, a leitura dominante no programa foi a de que Lula 4 sem correção de rota fiscal aumentaria a probabilidade de volatilidade em ativos sensíveis a juros e a risco soberano. Nesse sentido, ativos de maior duração e setores intensivos em capital permaneceriam mais expostos a mudanças de humor, ao passo que condução crível das contas poderia reduzir volatilidade e alongar a curva de juros.