O pregão desta terça-feira (23), começa marcado por um ambiente de cautela nos mercados internacionais. As bolsas globais operavam próximas da estabilidade após oscilações no início da manhã, refletindo a ausência de uma direção definida. No Brasil, a agenda corporativa chama atenção com a estreia das ações da MBRF3, fruto da fusão entre Marfrig e BRF, além de anúncios de companhias como Vale, Vamos, Yduqs, Helbor, Alupar e Natura movimentam o mercado hoje.
Segundo Marco Saravalle, CIO da MSX Invest, o mercado abre o dia monitorando de perto a integração da nova gigante do setor de alimentos e os desdobramentos da política monetária no Brasil e no exterior. “A fusão cria uma potência, mas os investidores querem ver execução. O desafio é capturar eficiência em um ambiente de custos ainda elevados e alta competitividade”, afirma Saravalle.
O que muda no mercado com a estreia da MBRF3?
As ações da MBRF3 passaram a ser negociadas nesta terça-feira após a conclusão da incorporação da BRF pela Marfrig. A nova estrutura societária já conta com Miguel Gularte como CEO. Nesse sentido, a atenção do mercado se volta às sinergias prometidas pela fusão e à capacidade de integração operacional, que será determinante para destravar valor no médio prazo. Por outro lado, analistas lembram que o processo envolve desafios relevantes de governança e eficiência.
Além disso, a integração deve ser observada com atenção diante de um cenário macroeconômico em que o consumo interno ainda é moderado, enquanto custos de produção seguem elevados. Esse contexto amplia a relevância da execução da nova diretoria.
De olho no mercado: os destaques corporativos do dia?
Entre as companhias listadas, diversas movimentações chamam atenção do mercado:
- Vale (VALE3): anunciou pagamento de R$ 598,3 milhões em debêntures participativas no dia 30/09, reforçando sua forte geração de caixa.
- Vamos (VAMO3): estuda emissão de dívida internacional via subsidiária Vamos Europe, buscando alongar perfil da dívida e reduzir custo médio.
- Yduqs (YDUQ3): anunciou mudanças na diretoria, separando operações próprias e parceiras, com Adriano Remor e Rodolfo Silva assumindo, respectivamente.
- Helbor (HBOR3): lançou empreendimento de R$ 235 milhões na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, em São Paulo.
- Alupar (ALUP11): venceu leilão no Peru, conquistando quatro projetos de transmissão com investimentos de US$ 220 milhões e RAP de US$ 31,8 milhões.
- Natura (NATU3): teve redução de participação da gestora Dynamo para 8,84%, após vencimento de derivativos.
Enquanto isso, outras notícias de dividendos também movimentaram o mercado, como os anúncios de JCP por Grupo Mateus, Track&Field, Localiza e Porto, além do esclarecimento da Engie sobre rumores de venda de ativos de transmissão.
Qual a visão do especialista sobre o cenário?
Para Marco Saravalle, o tom da agenda é de seletividade. Segundo ele, companhias com balanços sólidos e geração de caixa consistente devem se destacar em meio à volatilidade. “A Cosan, por exemplo, passa por um processo de reorganização de capital que tende a reduzir alavancagem e custos financeiros. No curto prazo há pressão, mas no médio e longo prazo o mercado tende a repricing mais positivo”, explica o CIO da MSX Invest.
Além disso, Saravalle ressalta que o investidor precisa de paciência em setores pressionados, como alimentos e energia, e foco em negócios capazes de atravessar ciclos de instabilidade sem comprometer liquidez. “O ambiente internacional impõe cautela, principalmente com dúvidas sobre os juros nos Estados Unidos e os impactos da guerra tarifária global. Aqui, a política monetária segue restritiva, e isso limita crédito e crescimento no curto prazo”, complementa.
O que esperar para os próximos dias?
Com a estreia da MBRF3, o mercado brasileiro deve acompanhar de perto a integração das companhias e os desdobramentos da fusão no setor de alimentos. Por outro lado, o investidor seguirá atento à política monetária doméstica, ao movimento das commodities e à sinalização das companhias em relação à disciplina financeira. Nesse sentido, eventos como o pagamento de debêntures da Vale e a expansão internacional da Alupar ajudam a reforçar a atratividade de determinados papéis.
Enquanto isso, Saravalle reforça que a recomendação é de prudência: “O investidor deve selecionar ativos de acordo com fundamentos e horizonte de tempo. O curto prazo pode trazer volatilidade, mas empresas com governança sólida e boa execução têm potencial de valorização consistente.”