A Cosan concluiu uma capitalização de aproximadamente R$ 10 bilhões com foco em reduzir alavancagem e reforçar o balanço. Além disso, a operação ocorre em um ambiente de juros elevados, o que pressiona companhias com dívida relevante e encarece a rolagem. Nesse sentido, a escolha pelo reforço de capital busca preservar flexibilidade financeira e acomodar um ciclo macro marcado por desaceleração da atividade e custo de financiamento persistentemente alto.
Em entrevista à BM&C News, o consultor de investimentos Celson Plácido destacou que a decisão tem efeitos imediatos na precificação e na base acionária, ofertas com preço mais baixo tendem a provocar queda nas ações no curto prazo e diluição para quem não acompanha. Por outro lado, se o objetivo de desalavancagem for bem-sucedido, o risco financeiro reduz, o custo de capital tende a recuar e a empresa ganha tempo para executar seu plano estratégico.
Por que a Cosan capitaliza agora?
Segundo Plácido, o pano de fundo é simples, com juros elevados, captar dívida a CDI + 1 p.p. ou + 2 p.p. significa um custo anual na casa de dois dígitos altos. Além disso, para que faça sentido econômico, o retorno dos projetos (ROIC) precisaria superar com folga esse patamar, o que é desafiador em período de crescimento mais fraco. Nesse sentido, aportar capital próprio reduz pressão sobre caixa e desalavanca a estrutura, mesmo que isso venha ao preço de diluição dos minoritários.
- Valor da oferta: cerca de R$ 10 bilhões.
- Objetivo: reduzir alavancagem e reforçar liquidez.
- Consequência: diluição para quem não acompanha a subscrição.
- Contexto: atividade desacelerando e custo de dívida alto.
Como o custo do capital pesa no dia a dia?
Quando a dívida custa algo como “CDI + spread”, a barreira de retorno sobe. Por outro lado, projetos com maturação longa e volatilidade operacional têm dificuldade de “entregar” acima desse piso no curto prazo. Nesse sentido, equity novo reduz a dependência de captações caras, melhora indicadores (como Dívida Líquida/EBITDA) e pode mitigar riscos de refinanciamento, ainda que pressione o lucro por ação no curto prazo pelo aumento do número de ações.
- Pressão no caixa: juros altos elevam despesas financeiras e comprimem margens.
- ROIC vs. WACC: se o retorno do investimento não supera o custo de capital, destrói valor.
- Risco de rolagem: menor alavancagem reduz a necessidade de novo endividamento caro.
O investidor minoritário deve acompanhar a oferta da Cosan?
Enquanto isso, o minoritário enfrenta um dilema clássico, acompanhar a subscrição para manter participação, aceitar a diluição ou realocar capital. Além disso, ofertas frequentemente saem com desconto para atrair demanda, o que pode pressionar o papel no curto prazo, embora fortaleça a companhia para atravessar o ciclo de juros e executar seu plano. O investidor deve ficar de olho nos seguintes fatores:
- Acompanhar a oferta: preserva participação e exposição à tese pós-desalavancagem.
- Vender direitos (se aplicável): alternativa para monetizar sem aportar capital novo.
- Não acompanhar: implica diluição, mas mantém liquidez pessoal do investidor.
- Rebalancear a carteira: pode reduzir risco de concentração em empresas alavancadas.
O movimento é positivo no médio prazo?
Por um lado, a capitalização tende a ser bem recebida pelo credor e, ao longo do tempo, pelo mercado, se vier acompanhada de disciplina de alocação e redução efetiva de alavancagem. Por outro lado, há um custo de curto prazo: diluição, pressão no lucro por ação e volatilidade na cotação. Nesse sentido, Plácido ressalta que empresas com balanços mais leves puderam anunciar recompras e dividendos extraordinários; já companhias mais endividadas, caso da Cosan, precisam priorizar o balanço antes de discutir distribuição aos acionistas.
- Benefícios potenciais: risco financeiro menor, fôlego para executar, melhor percepção de crédito.
- Trade-off: diluição e curto prazo mais volátil para o acionista.
- Condição-chave: disciplina na alocação do novo capital e entrega operacional.
Qual o impacto do ciclo macro na decisão?
Além disso, o cenário descrito por Plácido inclui desaceleração do PIB neste ano e no próximo, o que limita crescimento orgânico e exige prudência no endividamento. Enquanto isso, a manutenção de juros altos por mais tempo sustenta custos financeiros elevados e torna a equação dívida/retorno mais desafiadora. Nesse sentido, antecipar a desalavancagem via equity pode ser racional, mesmo que o “timing de mercado” pareça desfavorável ao preço das ações no presente.
A oferta de cerca de R$ 10 bilhões marca um ponto de inflexão para a Cosan: sacrificar parte do valor por ação hoje, em troca de um balanço mais robusto amanhã. Por outro lado, o efeito líquido para o investidor dependerá da execução, redução mensurável da dívida, disciplina na alocação e recuperação operacional em um ambiente macro mais benigno. Nesse sentido, a mensagem central é de trade-off, diluição e pressão de curto prazo versus menor risco e opcionalidade estratégica no médio prazo. Enquanto isso, a comparação com pares menos alavancados evidencia o custo de carregar dívida alta em ciclos de juros elevados e por que, em alguns casos, o caminho passa antes pelo balanço, depois pelo dividendo.