No segundo episódio do Wall Street Cast, direto da Times Square, Bruno Corano e o gestor Danilo Santiago destrincham como os ciclos econômicos moldam, e muitas vezes testam, a disciplina do investidor. A dupla revisita choques históricos (petróleo nos anos 70, bolha da internet, crise do subprime, pandemia) e mostra que, por trás de cada expansão e contração, há uma combinação de juros, crédito, confiança e produtividade que redefine preços de ativos e expectativas.
Além disso, os apresentadores criticam a cultura de “trade rápido” e a perda da análise fundamentalista profunda. Segundo Danilo, acompanhar um conjunto enxuto de empresas por décadas gera “horas de voo” e leitura de ciclo que faltam a quem busca atalhos. Nesse sentido, eles defendem que valuation, caixa e histórico setorial continuam sendo o mapa para atravessar a montanha-russa dos mercados sem transformar perdas temporárias em prejuízos permanentes.
O que são ciclos econômicos e por que importam para você?
Os ciclos refletem a alternância entre expansão e contração. Em fases favoráveis, emprego, renda e consumo sobem; em recessões, confiança e gasto minguam. Enquanto isso, a duração e a intensidade de cada fase variam conforme a origem do choque: guerras, pandemias, quebras financeiras, ou mudanças na política monetária. Por outro lado, quedas raramente são lineares: desce-se “de elevador”, sobe-se “de escada”.
Para o investidor, isso se traduz em lucros por ação oscilando e múltiplos exagerando tanto para cima quanto para baixo. Daí a importância de um processo: entender onde o setor e a empresa estão no ciclo, estimar o caixa provável e ancorar decisões em fundamentos, não em FOMO ou manchetes ruidosas.
Juros: o metrônomo que dita o ritmo
Corano e Danilo ressaltam a política monetária como gatilho recorrente. Quando juros caem, especialmente nos EUA, o canal de housing destrava: hipotecas mais baratas estimulam compra de casas, mobiliário e serviços, criando um ciclo virtuoso. Já juros subindo encarecem crédito, freiam demanda e apertam spreads. Nesse sentido, identificar o regime de juros, e sua provável trajetória, ajuda a separar vento de vela no portfólio.
Uma linha do tempo dos solavancos
Danilo cita indicadores “mão na chapa quente”, como toneladas transportadas por caminhões nos EUA, para captar pulsos reais da atividade. Em paralelo, recorda marcos que reconfiguraram preços e humor:
- Anos 70–80: Choques do petróleo, aperto Volcker e juros a níveis extremos.
- 1990–2000: Produtividade e tecnologia impulsionam crescimento; a internet cria bolha e correção severa.
- 2008–2009: Alavancagem imobiliária e crise bancária detonam queda prolongada; juros vão a zero.
- 2020: Pandemia fecha economias; estímulos maciços reacendem inflação e, depois, normalização de juros.
Além disso, eles lembram que a mesma “doença” não atinge todos os setores ao mesmo tempo. Setores podem estar defasados no ciclo, o que exige leitura granular, empresa por empresa.
Por que o investidor brasileiro sofre mais (ou menos)?
No Brasil, o CDI historicamente alto foi um “atalho” para retornos reais sem volatilidade de bolsa. Enquanto isso, nos EUA, caixa parado rendeu pouco por décadas, forçando exposição a risco. Por outro lado, quem decide internacionalizar precisa aceitar a volatilidade e dominar a gestão emocional: não cristalizar perda de papel em perda real, nem confundir queda de preço com quebra de tese.
Como não ser “derrubado” pelo ciclo?
Segundo Danilo, o antídoto é processo. Acompanhar poucas empresas com profundidade por longos períodos permite identificar quando lucros e margens estão deprimidos “apenas” pelo ciclo, e quando a estrutura do negócio se deteriorou. Além disso, ancorar decisões em valuation e capacidade de geração de caixa impede que o investidor compre “esperança” no topo e venda “pânico” no fundo.
O que muda quando o ciclo vira?
A virada raramente tem um “sino”. Ainda assim, há pistas: excesso de alavancagem, spreads esticados, inflação persistente, ou, no extremo oposto, preços descontados em empresas com balanços sólidos e demanda adiada. Nesse sentido, estar preparado com regras de alocação, gatilhos e rebalanceamentos evita que o ciclo mande na sua carteira e não o contrário.
“Ciclos mais curtos e correções mais frequentes?”
Bruno e Danilo ponderam que choques fragmentados (tarifas, pandemias, eventos geopolíticos) podem “quebrar” grandes correções em várias menores. Mesmo assim, dívida elevada e demografia nas economias centrais acendem alertas para um eventual aperto mais duro adiante. Por outro lado, tecnologia e produtividade seguem como motores de longo prazo o que reforça a tese de que paciência, método e preço importam.
Qual é a lição prática para o investidor pessoa física?
- Defina um processo (tese, métricas, valuation, riscos) e siga-o no calor do ciclo.
- Prefira qualidade: balanços robustos e geração de caixa atravessam tempestades.
- Diversifique por setores e geografias; ciclos são defasados e imprevisíveis.
- Use quedas para aumentar posições em teses que ficaram mais baratas.
- Evite transformar volatilidade em prejuízo definitivo vendendo no pânico.
“Como identificar onde estou no ciclo?”
Não há régua perfeita, mas combine sinais: trajetória de juros e inflação, spreads de crédito, lucros setoriais, indicadores reais (transporte, emprego, vacância), além do humor do mercado. Enquanto isso, mantenha humildade probabilística: a meta não é acertar o minuto do fundo ou do topo, e sim estar posicionado de forma coerente com sua tese, horizonte e capacidade de risco.
O Wall Street Cast com Bruno Corano e Danilo Santiago reforça uma mensagem simples e difícil: ciclos sempre virão. Nesse sentido, o diferencial competitivo do investidor não está em prever o próximo gatilho, mas em sustentar um processo que resiste ao medo e à euforia. Com disciplina, valuation e foco em caixa, a volatilidade deixa de ser inimiga e passa a ser a fonte das melhores oportunidades.