Na Super Quarta, o Federal Reserve reduziu a taxa básica em 0,25 ponto percentual, levando o intervalo para 4% e 4,25%, enquanto o Copom manteve a Selic em 15% ao ano. Nesse sentido, a dinâmica global mostra um movimento de flexibilização monetária nos Estados Unidos, ao passo que o Brasil preserva uma postura contracionista. Por outro lado, o mercado doméstico avalia o custo de capital elevado e seus efeitos sobre crédito, câmbio e apetite por risco.
Além disso, o contraste entre as decisões reforça uma assimetria de curto prazo, o ciclo americano tende a suavizar condições financeiras lá fora, enquanto a Selic elevada segue ancorando o prêmio de risco por aqui. Enquanto isso, investidores mapeiam oportunidades de carry trade, volatilidade potencial no câmbio e impactos setoriais sensíveis à taxa de juros. O resultado imediato é um mercado cauteloso, mas atento a janelas táticas que podem surgir com o calendário de indicadores.
Destaques corporativos do mercado:
Além disso hoje o cenário corporativo está movimentado
- B3 (B3SA3): Volume médio diário de R$ 24 bi em agosto, queda de 14,8% a/a, mas alta de 13,3% m/m. Número de investidores individuais chegou a 5,37 milhões.
- Azul (AZUL4): Protocolou plano de reorganização no Chapter 11 nos EUA; audiência marcada para 11/12 e prazo de objeções até 1/12.
- Totvs (TOTS3): Pagará JCP de R$ 88 milhões (R$ 0,15 por ação), com data-base em 23/09 e pagamento em 06/10.
- Equatorial (EQTL3): Capital World reduziu participação de 5,09% para 4,48%.
- Paranapanema (PMAM3): Conselho aprovou aumento de capital de até R$ 1 bilhão, a R$ 1,37 por ação.
- Azevedo & Travassos Energia (AZTE3): Descobriu novo poço no RN, com produção de 42 barris/dia em teste.
- Blau (BLAU3): Rescindiu contrato de distribuição do Botulift e busca novo parceiro exclusivo.
- Qualicorp (QUAL3): Anunciou 8ª emissão de debêntures, total de R$ 400 milhões, para refinanciamento.
Como o mercado reage ao contraste entre Fed e Copom?
Na avaliação de Leonardo Costa, economista do ASA, o atual patamar de juros no Brasil limita o crescimento sustentável. “O Brasil tem hoje uma das maiores taxas reais de juros do mundo. Não há possibilidade de crescer de modo sustentável com uma taxa de juros nesse patamar. Acreditamos que havia espaço para o ciclo de queda da Selic já ter sido iniciado nesta quarta-feira.”
Além disso, Costa ressalta a necessidade de coordenação entre política fiscal e monetária para reduzir efeitos colaterais sobre o setor produtivo. “O ideal é que tenhamos uma coordenação entre Fazenda e Banco Central para uma política monetária eficiente e com menos danos colaterais ao setor produtivo e ao crescimento sustentável do país.” Por outro lado, ele reconhece que a desaceleração recente da inflação e a contribuição da taxa de câmbio criam condições para calibrar o aperto sem comprometer a convergência à meta.
Comunicado do Copom: o que o mercado leu?
Para Felipe Queiroz, economista-chefe da APAS, Associação Paulista de Supermercados, o comunicado do Banco Central trouxe “pouca mudança na apresentação do cenário, mantendo a elevada incerteza” e reforçou a estratégia de comunicação de “juro mais longo por mais tempo”. Segundo ele, “setembro foi mais uma das reuniões sem muita emoção, com o BC reforçando a estratégia de comunicação do juro mais longo por mais tempo. Seguimos na aposta de corte de 25 pontos-base na reunião de dezembro de 2025”.
Queiroz destaca que, no lado doméstico, o BC reconhece moderação do crescimento, com um mercado de trabalho ainda dinâmico, ao passo que a inflação cheia e os núcleos seguem acima do centro da meta. Além disso, o ambiente externo permanece incerto, afetado pela conjuntura e pela política econômica dos EUA, elevando a volatilidade dos ativos e exigindo cautela de emergentes em meio à tensão geopolítica. Por outro lado, o texto ficou mais direto na prescrição de política, substituindo a menção à “avaliação da manutenção” por uma redação que enfatiza vigilância contínua e flexibilidade, sem descartar movimentos futuros.