No programa Mercado & Beyond desta semana, a jornalista Paula Moraes conversou com o economista Carlos Honorato, que destacou que diante de um ambiente global marcado por choques geopolíticos, disputas comerciais e disrupções tecnológicas, as empresas precisam adotar um pensamento estratégico contínuo. Mais do que planos fixos, o desafio é manter a organização preparada para diferentes futuros possíveis e reagir com agilidade quando sinais do ambiente se tornarem evidentes.
Nesse contexto, Honorato argumenta que o planejamento tradicional perdeu espaço. “Não se trata de prever o futuro, mas de construir hipóteses e preparar respostas antecipadas”, afirmou. Segundo ele, metodologias como o scenario planning já provaram sua eficácia e reforçam a necessidade de treinar executivos e equipes para agir rapidamente, sem depender apenas de improviso em momentos de crise.
Por que o pensamento estratégico é essencial hoje?
Para Honorato, a principal diferença entre empresas resilientes e aquelas que ficam pelo caminho está na capacidade de ler sinais fracos e reagir com velocidade. O pensamento estratégico exige observação constante, análise crítica e disposição para pivotar modelos de negócio quando necessário. Por outro lado, a preparação é a chave: “90% do treino pode nunca ser usado, mas o 10% que se aplica faz toda a diferença”, pontuou.
Além disso, ele reforça que grandes corporações precisam criar uma “cultura de agilidade”, já que sua estrutura pesada dificulta mudanças rápidas. Empresas menores, em contrapartida, têm mais flexibilidade para testar modelos, mas não podem abrir mão de visão de longo prazo.
Honorato observa que o curto-prazismo ainda domina a gestão corporativa. Executivos hiperfocados em especializações, como cortes de custos ou expansão acelerada, tendem a aplicar a mesma lógica em qualquer contexto, sem considerar a complexidade do ambiente. Isso, aliado a decisões tomadas sob impulsos ideológicos ou pressões de redes sociais, gera erros estratégicos e fragilidade institucional.
Como a inteligência artificial reforça o pensamento estratégico?
Na visão do economista, a inteligência artificial pode ser usada de duas formas: para automatizar processos e para ampliar a análise estratégica. A integração de diferentes modelos de IA potencializa a geração de hipóteses, o cruzamento de informações e a velocidade das análises. No entanto, Honorato alerta que sem curadoria humana a tecnologia perde força: “Cabe ao executivo ser o editor do conhecimento e usar a IA como ferramenta a serviço do pensamento estratégico”.
Honorato identifica três vetores principais: transformações sociais, ambiente econômico-regulatório e disrupções tecnológicas. A combinação desses fatores, somada ao cenário geoeconômico instável, exige que empresas construam hipóteses contrastantes e definam respostas antecipadas. Nesse sentido, ele defende que pensar em cenários não é luxo, mas um recurso vital para a sobrevivência.
Como aplicar o pensamento estratégico na prática?
Para líderes, Honorato sugere mapear forças motrizes e montar cenários baseados em combinações extremas. A partir disso, empresas podem:
- Definir cenários plausíveis com base em política, economia e tecnologia;
- Mapear sinais precoces que indiquem mudanças de ambiente;
- Estabelecer rotas pré-definidas para acelerar ou pausar projetos conforme o cenário;
- Atualizar hipóteses periodicamente, mantendo a organização em constante aprendizado.
Segundo Honorato, a questão não é “o que vai acontecer?”, mas sim: “Se isso acontecer, o que faço amanhã?”. Essa mudança de mentalidade é o núcleo do pensamento estratégico. Ao substituir previsões rígidas por protocolos de decisão, as empresas reduzem ansiedade, ganham agilidade e ampliam sua capacidade de transformar turbulência em oportunidade competitiva.